Entrevista realizada pela aluna Alcione Pazetto
Alcione: Se apresente para os leitores do Blog, fale um pouco sobre você.
Charlley: Sou publicitário por profissão (já tive uma agência de publicidade no Rio Grande do Sul), sou bacharel em Arquivologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Também sou pós-graduado em Gerência de Sistemas e Serviços de Informação pela FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), onde agora sou professor convidado da disciplina de descrição arquivística no curso de Gestão de Documentos. Na prática sou especialista em projetos de Ciência da Informação em ambientes digitais, iniciei minha vida profissional como atendimento, mídia e planejamento em agências de propaganda por mais de dez anos, onde participei de campanhas publicitárias para empresas e organizações sociais do Rio Grande do Sul. Na área de internet trabalhei na wwwriters (uma startup de Porto Alegre) com a elaboração de projetos, no desenvolvimento e coleta de conteúdo, além de gerenciar projetos web e estruturar arquitetura de informação e conteúdo para clientes como Sebrae/RS, prefeituras municipais e governo estadual do RS. Na área empresarial atuei em clientes como Companhia Zaffari de Supermercados, Calçados Hush Puppies, Metalúrgica Mor, entre outros. Em 2006 passei a exercer a função de Consultor Web junto ao Grupo Conectt em São Paulço, desenvolvendo arquitetura de informação e de interface, além de consultoria em empresas de grande porte. Como Consultor de Ciência da Informação e Comunicação da Plena Consultores trabalho em projetos que são referência em ambientes digitais, como portais de governança corporativa e intranets. Atualmente realizo também pesquisas na área de Ciência da Informação como web semântica, metadados e arquitetura de informação.
Alcione: Como foi o processo de desenvolvimento do livro?
Charlley: O livro é o resultado da minha prática profissional, de minha inquietação quanto ao período que passamos agora (o Tesarac segundo Shel Silverstein) e registrado durante três anos no blog arquivologia 2.0. Não é um livro acadêmico, mas sim pragmático onde incorporo uma atuação arquivística a tudo que vi como consultor de ambientes digitais no mundo corporativo. Através da arquitetura de informação, planejamento de portais corporativos e ambientes digitais, traço os caminhos possíveis para uma abordagem 2.0 no universo das informações arquivísticas, aquelas que são resultado da interação entre pessoas e sistemas nos ambientes corporativos.
Alcione: Qual foi sua principal motivação para escrever o livro?
Charlley: Um dia imaginei: como seria o futuro, ao pesquisarem as informações digitais que geramos agora?
Foi aí que pensei: hoje somos os primitivos digitais. Vamos fazer como nossos antigos primitivos, que deixaram as pinturas rupestres nas paredes? Pensei que não precisamos, nossas paredes hoje são outras, são paredes digitais e podemos deixar para o futuro não somente informações esparsas, mas sim conhecimento, ideias, sentimentos e informações mais substanciais do que nossos antepassados. Para isso parti em busca da concepção da informação digital: ela precisa ser estruturada, seja através de metadados, da arquitetura de informação e de outras técnicas aplicadas a ambientes digitais. Hoje estamos no olho do furacão. O tesarac, citado acima, é exatamente este período que passamos agora: tudo é diferente, tudo é invertido. Jovens são conservadores e idosos são libertários. Jovens ensinam os idosos a utilizarem a internet. O tesarac de Silverstein descreve momentos na história em que a sociedade passa por mudanças sociais e culturais constantes e num ritmo frenético. É nosso dia de hoje. É o mundo 2.0.
Alcione: Você acredita que os Arquivistas formados ou com alguns anos de experiência estão preparados para atuar neste mercado 2.0?
Charlley: A formação não garante a preparação. Durante minha graduação conheci metadados, mas tive de ser autodidata em arquitetura de informação, por exemplo, inclusive num período onde existiam poucos arquitetos de informação no Brasil. Hoje temos uma situação na qual o profissional deve buscar constante renovação, buscar conhecimento transdisciplinar e conseguir garantir entender as mudanças que estamos passando na sociedade. A academia é importante nesse sentido: é onde tem especializações, cursos com professores do mercado e a possibilidade de gerar um intercâmbio de conhecimento com outras pessoas na mesma situação. Mas as novidades não batem à porta, o profissional da informação e qualquer pessoa tem que ir atrás desses novos paradigmas.
Alcione: Luis Milanesi disse que a profissão de bibliotecário está em extinção. Em sua opinião, os avanços tecnológicos oferecem esse risco?
Charlley: Acredito que o bibliotecário à moda antiga não exista mais, assim como ascensorista, programador de Cobol, motorista de bonde e outras profissões que tem um vínculo forte com tecnologias passadas. Mas nada é tão hermético: hoje o bibliotecário tem um mundo do conhecimento a estruturar. Ainda existem os livros, mas agora eles podem ser lidos no celular. Qual o papel do bibliotecário nisso? Com certeza não é mais abrir uma fichinha com a catalogação do volume, mas sim possibilitar a aplicação das leis de Ranganathan atualizadas para o mundo digital. Arquivistas e bibliotecários devem ser os maiores clientes da tecnologia da informação, estes profissionais que não se preocuparem com isso serão extintos.
Alcione: Quais as expectativas futuras para os novos profissionais da informação?
Charlley: Serão os escribas digitais. Vão moldar a tecnologia para que o usuário tenha a melhor experiência no acesso à informação. Vão cuidar para que as informações digitais sejam perenes ao tempo, que sejam acessíveis no futuro. Para isso, precisam dominar a ciência da informação e saber tirar o maior proveito da tecnologia da informação.
Alcione: Qual a sua sugestão para quem quer seguir essa carreira? O que esperar do mercado de trabalho?
Charlley: Entender a ciência da informação e não ter medo da tecnologia da informação, assim como os escribas antigos não tinham medo da argila e das cunhas. O mercado de trabalho já está preparado para absorver este tipo de profissional, seja no setor público ou setor privado. Pois a realidade é digital, as informações não tem mais dono, elas servem às necessidades das pessoas e dos negócios.
Alcione: Quais são seus atuais projetos profissionais?
Charlley: Estou fazendo o que gosto, consigo aplicar uma visão arquivística e de ciência da informação em ambientes digitais. Além do mais, fico muito satisfeito com meu trabalho como professor convidado da FESPSP, onde consigo ajudar os profissionais da informação a entenderem a missão do arquivista na sociedade, nas empresas e instituições. Já estou elaborando, também, o roteiro de um novo livro, dessa vez focado numa aplicação prática da arquivologia 2.0 no mundo digital, algo “Como Fazer...” para bibliotecários e arquivistas, com previsão para o final de 2011 ou começo de 2012.
Adorei a entrevista e principalmente feita por uma aluna tão aplicada como a Alcione.Parabéns a entrevista foi muito legal.
ResponderExcluirO Charlley foi muito prestativo! O resultado é essa ótima entrevista!
ResponderExcluirAlcione, a repórter, valeu! O Prof. Charlley é ótimo e a entrevista demonstrou isso.
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