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Biblioteca de Heliópolis faz tudo para sua comunidade



Esdon Artur é aluno da FESPSP

Uma biblioteca para atender uma comunidade de mais de 200 mil pessoas. Um gestor que nem queria saber de biblioteca. Como poderia dar certo? Edson Artur Alves da Silva, aluno do segundo semestre noturno, já foi gestor de um dos mais bem sucedidos casos de biblioteca comunitária em Heliópolis, zona sul de São Paulo. Em conversa com a MC, Edson contou um pouco de uma trajetória de superação.


EDSON: Ah, a biblioteca começou assim como um projeto chamado Identidade Cultural de Heliópolis. Dentro desse projeto, o arquiteto Ruy Ohtake deu uma matéria para a revista Veja, falando sobre os lugares feios de São Paulo e os lugares bonitos. Falou do Higienópolis e Morumbi como lugares bonitos, e Paraisópolis e Heliópolis como feios. E na época, o nosso presidente (João Miranda Neto), que é o presidente de honra da UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de São João Clímaco e Heliópolis) entrou em contato com o Ruy Ohtake e perguntou para ele o que ele podia fazer para deixar Heliópolis bonito.

MC:  O que o Ruy Ohtake fez?

EDSON: Ele visitou Heliópolis, participou de uma reunião em que foi apresentada Heliópolis, e pintou todas as fachadas da rua principal, que é a rua da Mina e até a rua Paraíba, que tem uma rua sem saída onde tem a festa junina... Então, hoje tem as fachadas todas pintadas igual ao Pelorinho lá em Salvador.  Dentro desse projeto, foi criada uma biblioteca, a necessidade de ter uma biblioteca em Heliópolis era muito grande, por que tem 200 mil pessoas, e a mais próxima é a 7 km de lá, que é na (rua) Cisplatina e a outra é a Castro Alves, que é na Arapuá. Dentro desse projeto chamado Identidade Cultural foi montada essa iniciativa de pintar as fachadas e montar uma biblioteca. Com parceria da Suvinil e do Banco Panamericano, no dia 10 de setembro de 2005 foi inaugurada a Biblioteca de Heliópolis. E nessa Biblioteca de Heliópolis o Ruy Ohtake conversou com o Antonio Cândido,  que doou os mil primeiros exemplares.

MC: Você já estava lá?

EDSON: Não, eu entrei depois. Como que um cara que odiava biblioteca pode assumir uma?

MC: Você odiava biblioteca? Como assim?

EDSON: Ah, odiava...

MC: Mas você lia, ou não?

EDSON: Não. Tanto era que eu odiava biblioteca que eu tinha pavor de sala de leitura!


MC: E aí?

EDSON: Ah, foi muito estranho. Mas aí tem aquele negócio de ser o mais velho, morar na casa de uma família humilde, então você tinha que arranjar um emprego, e o que me apareceu foi para trabalhar em uma biblioteca. Passaram-se os anos, o Coordenador da Biblioteca de Heliópolis, infelizmente, precisou sair e pediu para eu assumir a Biblioteca. Assumi a Biblioteca, só que a Biblioteca de Heliópolis (BH)! Um centro de referência do bairro de Heliópolis, onde hoje tem uma net. Muita gente buscava livros lá na Biblioteca, então a gente foi  se capacitando, fomos atrás de patrocinadores, então, hoje, conseguimos uma parceria com a Belas Artes (faculdade de São Paulo), pegamos o Sofia (software), demos capacitação para todos os funcionários...

MC: Quantos funcionários tem hoje?

EDSON: Hoje, se não me engano, são cinco funcionários. Mas todos estagiários. Eu era um efetivo registrado pela Biblioteca.

MC:  Qual o impacto da BH na comunidade?

EDSON: A BH não era só uma biblioteca, virou uma referência no sentido de ajudar a comunidade. Tinha gente que ia imprimir conta de água, luz, telefone... Como eu era líder comunitário, tinha vezes que nem na semana eu ia na biblioteca porque tinha que fazer um monte de coisas da comunidade, como ver asfalto, por exemplo. Então a BH não era uma biblioteca comum, era prestadora de serviço para a comunidade. Com oito anos de existência, a BH tem uma parceria com a Fundação Carlos Chagas, que dá o apoio financeiro, dá a capacitação para as pessoas que estão lá, como eu participei dessa capacitação... Então, a BH funciona como um centro de referência, atendendo pessoas, e não como um depósito de livros, tanto que não aceitava livros antes de 2000, agora ela aceita livros pedagógicos e de literatura. Hoje, tem em torno de 8400 livros, todos de literatura infantil, infanto-juvenil, literatura brasileira e estrangeira. Lá tinha uma classificação que é a mais básica, não era desmembrada como o 029.5, por exemplo. Então era “LIJ” para a literatura infanto juvenil, e quando era infantil era só “LI”, coisa mais simples, que ficava mais fácil. E quando era literatura brasileira era “800b” e literatura estrangeira era “800e”. Foi uma classificação que eles inventaram, na época em que foi uma bibliotecária lá dar só uma sugestão de uma classificação bem simples, bem resumida, que hoje é muito mais fácil de fazer. Na época que eu estava lá, trabalhei um pouquinho para desmembrar esse número, para ensinar como usar a CDD, e começamos a usar a tabela PHA. Hoje,  a BH tem parceria com o Instituto CA, que é de bibliotecas comunitárias, que ajudou muito a estruturar a BH, com isso temos o computador que é o servidor, e quatro terminais de consulta... Tem muitas coisas na BH que outras bibliotecas comunitárias nem sabiam que existiam.

MC:  Vocês foram pioneiros dentre as bibliotecas comunitárias?

EDSON: Sim! E a BH não ficou naquela de ser um “depósito de livros”...

MC:  Tem fluxo, ação cultural...

EDSON: Tem, tem tudo! Tem aula de teatro, tem mediação de leitura. Hoje funcionam quatro eixos: Gestão, Mediação de Leitura, Espaço e Acervo, essas são as quatro pilastras da Biblioteca de Heliópolis. Tudo planejado dentro da missão de promover Heliópolis como bairro educador.

MC:  Qual o orçamento da BH?

EDSON: A BH funciona com R$ 4.500,00 por mês.

MC:  R$ 4.500,00 por mês?

EDSON: Tem que pagar os funcionários, os estagiários, comprar o material de limpeza...

MC:  Não dá, né?

EDSON: Dá, sim. Nós fazíamos mágica, mas dava. Mas, era assim, um mês comprava, no outro não comprava...

MC:  Mas, os salários... pagava todo mês?

EDSON: Sim, todo mês! Ninguém trabalha sem salário. Nosso presidente sempre foi rígido: primeiro o salário para as pessoas trabalharem contentes. Então foi isso. Como odiava biblioteca, comecei a fazer alguns cursos. Fiz de auxiliar de biblioteca na Belas Artes, depois fiz o curso técnico de bibliotecário no SENAI e hoje estou fazendo Biblioteconomia e Ciência da Informação na FESPSP. No tempo em que estive na gestão da BH, ganhamos um prêmio de incentivo pela CoperInfo em 2009; em 2010 foi reconhecido como ponto de leitura pelo Governo Federal, em homenagem a Machado de Assis; e em 2011 ganhamos o prêmio da Laura Russo, do CRB. Fomos a única biblioteca comunitária a ganhar esse prêmio.     



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