Sempre
na semana do bibliotecário é escolhido uma figura ilustre para conceder uma
entrevista a Monitoria Científica FaBCI, normalmente um bibliotecário que tenha
trabalhado para a evolução da nossa área, porém, o escolhido desse ano é Aldo Barreto, graduado em Economia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro e com pós-graduação em Ciência da Informação pela The city University (Londres,
Inglaterra).
Mesmo
não sendo bibliotecário, Aldo Barreto é um nome que frequentemente citamos,
pesquisamos e utilizamos em nossas bibliografias. O motivo? É um mestre no que
diz a informação e sua disseminação, principalmente se estamos falando em fluxo
da informação no meio digital.
Pesquisado
Sênior pelo CNPq e editor do periódico eletrônico Datagramazero ele nos
presenteou com a honra de responder algumas perguntas para a Monitoria
Científica e fechar essa semana com chave de ouro. Confira!
1. A
sua prolífica presença nas redes sociais é uma referência unânime entre
profissionais da área de Ciência da Informação, o que reforça ainda mais a
importância da sua trajetória e produção intelectual. Quais são suas fontes de
pesquisa e de informação favoritas hoje?
Todo
homem se desenha pelas escolhas que vai fazendo ao longo de sua vida. Nenhum
objetivo importante é alcançado sem alguma luta, sem algum conflito consigo
mesmo e com os outros. A natureza humana é contraditória e tão forte é a
contenda do ser que transcende as condições de convivência do homem na terra.
Ao
enunciar atos de informação, de forma oral ou escrita, transferimos fatos e
ideias esperando convencer nossos espectadores privilegiados que irão julgar e
acolher nossos feitos, ditos ou escritos e repassar esta apreciação ao longo do
tempo. O que falamos e escrevemos é para registro junto a nossas testemunhas.
Nossa vida ativa acontece em uma condição testemunhal. Todos querem
participação e visibilidade quando produzem enunciados, mas muitos não querem a
exposição e o julgamento que disso resulta. No mundo da visibilidade nossa
atuação se relaciona a esta condição de convencer e não decepcionar as
testemunhas que confirmam o nosso atuar com marcos no caminho de nossa aventura
existencial.
Conviver
com uma exibição face a face de nossas reflexões é intrincado quando em um
existir presencial de uma realidade vivida entre objetos e outros habitantes.
Mas, com a entrada da realidade virtual em nossa convivência cotidiana, cada
vez mais vivemos a condição de uma existência sem a necessidade de uma presença
física. Ficamos alforriados do entreolhar, do gesto, o toque e a sensibilidade
de uma linguagem do corpo. Podemos lançar mensagens aos nossos distantes
escondidos pela máscara da não presença.
Há
no viver dos cenários virtuais uma ditadura do “eu espetáculo” em que além de
convencer queremos encantar nossas testemunhas expondo as coisas novas
descobertas em um navegar em rede ou que nos foi intermediada em uma linkagem.
Juntamos, em nosso domínio de convivência, uma coleção de nossos fragmentos de
reflexão e nosso cotidiano de encontro com a emoção com belo e o inusitado.
Todos rejuvenescem no ciberespaço das convivências abrigadas, revigorados como
por um efeito tipo “Benjamin Button”. Voltamos a uma adolescência querendo
“como nos mostrar” com o nosso espetáculo, o show do nosso eu, formando um “Lego”
onde cabe a cada um filtrar o que é relevante.
Cada
um de nos tem várias e diferentes fontes: a família, os amigos, os alunos,
leituras e os seus pares nas diversas comunidades de convivência funcional. Não
tenho fontes definidas. Não as procuro, elas vêm até mim.
2. A
Datagramazero completou 15 anos em fevereiro de 2014, uma conquista formidável
que traçou linhas de pensamento da Ciência da Informação no país. Para onde
apontam agora as pesquisas mais visionárias da Ciência da Informação no Brasil?
A
Revista Datagramazero esta completando com o número de fevereiro de 2014 quinze
anos na cadeia de comunicação científica tratando dos fatos e eventos
relacionados a informação em ciência e tecnologia nos campos que operam com o
fenômeno da informação, desde sua geração a sua transferência com intenção de
gerar conhecimento. Iniciar o DGZ no final de 1999 foi mais uma atitude de
satisfação do que falta dela. Em final
dos anos noventa o texto modificava seu status e poucos percebiam isso e ainda
percebem no nosso país. O riscado da escrita no conjunto de elementos que a
delineiam mudou. O traço ou o "grammé" da escritura mudava do formato
papel e tinta para o formato digital. Assim, um novo grammé ou gramma marcava a
nova forma de escrita daí DataGramaZero,
o marco zero de uma nova escrita, não como uma substância presente aqui e
agora, mas como uma diferença, isto é, uma querência espacial e uma diferença
temporal. Essa estrutura, ou melhor, esse princípio estruturador passou e
passará a ser comum a todos os sistemas envolvendo o registro e a transferência
da informação. As escrituras quando digital e hipertextual são de alguma forma,
externa à linguagem, pois agrega outros médias e sentidos ao entendimento e não
se prende a uma visão de do texto linear
e estático de um formato único.
Desde
seu inicio o Datagramazero foi uma iniciativa particular e livre, que sequer,
aceita fomento de qualquer fonte ou espécie para afirmar esta liberdade. Esta
iniciativa privada têm seus custos suportados por seus editores, o maior deles
o custo de sua operacionalização e manutenção da infraestrutura e feitura da do
periódico.
Esta
liberdade, contudo, traz condições imponderáveis marcando a qualidade
existencial da Revista. Assim neste momento de celebração queremos ponderar a
atualidade da vivência do DGZ refletindo sobre seu passado que perdura online e
pensando com Paul Valéry sobre seu futuro: “Como seriam o passado e o futuro
uma vez que o passado não existe mais e o futuro não existe ainda. O futuro – o
que não existe ainda – se faz no ver. E ver é prever”. O futuro da Revista
Datagramazero esta associada a novidade na pesquisa que é indissociável de ensino e a de
ponta e se dará na Universidade e Laboratórios de pesquisa; nas áreas de
sociais aplicada, humanas e linguística, se encontra um importante nicho de
pesquisa com alto teor de inovação e que, hoje é desenvolvida no resto do mundo
com a prioridade de pesquisa de ponta:
- a cognitronica - desenvolvimento de interfaces confiáveis entre o computador e a mente;
- a pesquisa sobre digitalização e integridade do documento digital, sem o qual não se poderá ter Bibliotecas Digitais operacionais e eficientes;
- os instrumentais de procura de informação com conhecimentos semânticos e em grandes quantidades de texto;
- analise computacional do português como linguagem natural;
- sistemas inteligentes de apoio à tradução automática;
- concepção de instrumentos automáticos e em tempo real de apoio lexical, para ordenação, armazenamento e controle de grandes estoques de informação;
- sistemas de ensino e aprendizado não presenciais com interfaces interfaces moveis;
- sistemas para gestão da informação multimídia e hipertextual;
- sistemas na área de reconhecimento óptico de caracteres para digitalização de grande quantidade de documentos em qualquer base e de qualquer tipo.
3. Considerando
que a informação está em constante processo de evolução, porque muitos
indivíduos não conseguem acompanhar suas novas ramificações?
Os caminhos
futuros da ciência da informação como área de
conhecimento acadêmico precisam estar demarcados. A área de ciência da
informação, como um todo, enfrenta problemas de atualização disciplinar.
Reflito o futuro da ciência da informação como área de conhecimento e a sua
relação com seu receptor está cada vez mais se configurando na simplicidade da
Web. As facilidades de acesso da rede estão, por exemplo, em sua interatividade
com o receptor e na interoperabilidade dos estoques globais. O usuário de
informação não aceita mais percorrer os caminhos ocultos dos universos
particulares da linguagem nem entender as intrincadas regras das taxonomias
voltadas para os processos de almoxarifagem de acervos convencionais ou
eletrônicos.
A pergunta que não quer calar, pelo menos em
mim, é:
a ciência da informação, como entendida
e ensinada na hoje, resistirá
como área de conhecimento
aplicado, nos próximos 10 anos? Se existir alguma divida é porque continuamos
ensinando a nossos alunos conteúdos e práticas de 50 anos atrás.
Porque a reflexão dos alunos, docentes e da
sociedade da área não está dirigida ao futuro possível aderindo a tecnologia da
informação cada vez mais intensa. Vale afirmar que acredito que os documentos, seus
conteúdos impressos e as suas práticas ortodoxas de organização e controle,
permanecerão anos na história da ciência da informação, uma necessária guarda da memória do saber. Mas
esta não será a dinâmica, dos atos de informação e do desenvolvimento do ser humano e sua realidade.
4. A
informação contemporânea é uma ideologia ou uma utopia?
O que você entende como contemporâneo? Esta instigante pergunta ensaia muitas e diferentes
respostas. Contudo, a verdadeira integração do indivíduo na contemporaneidade
não significa apenas desfrutar da evolução tecnológica, ou atentar ao
desenvolvimento científico. Ser contemporâneo implica numa consciente
compreensão do próprio papel, aqui e agora, num mundo em constante mudança
política, econômica e sociocultural. Neste sentido em meu trabalho nestes anos
acredito que a informação sintoniza o mundo, pois referencia o homem ao seu
passado histórico, às suas cognições prévias e ao seu espaço de com(vivência),
colocando-o em um ponto do presente, com uma memória do passado e uma perspectiva de futuro. No presente , creio, está o espaço de apropriação da informação
pelo o indivíduo. A temática sobre a informação pode ser apreendida em uma
graduação que possui um conteúdo voltado para a formação profissional ou em um
curso de pós-graduação com o objetivo de uma formação para a pesquisa comprometida com o avanço do
conhecimento no campo de conhecimento. São dois níveis de ensino e aprendizado
e sua estratégia disciplinar se diferencia em razão de seu objetivo. Acredito
que qualquer reflexão sobre as condições políticas, econômicas ou sociais de um
produto ou serviço de informação está dependente a uma premissa básica da
existência de uma relação entre a informação e a geração
do conhecimento.
5. Como
pesquisador sênior do CnPQ, como é sua rotina de trabalho?
Ser pesquisador sênior
do CNPq não é uma condição de trabalho mas uma
apreciação pelo órgão de pesquisa sobre o merecimento
do pesquisador e de sua pesquisa. Diz o CNPq: “Pesquisador
Sênior é o pesquisador que se destaca entre seus pares como líder e paradigma
na sua área de atuação, valorizando sua produção científica e/ou tecnológica.
Para ser um pesquisador sênior, o pesquisador deverá ter permanecido no sistema
de fomento à pesquisa do CNPq por pelo menos 15 (quinze) anos na categoria 1 e
continuar ativo no desenvolvimento de pesquisas científicas ou
tecnológicas e na formação de pesquisadores em
diversos níveis.” No Brasil são cerca de 90 pesquisadores seniores em todas as
áreas de conhecimento tratadas pelo CNPq. É um título
Vitalício.
Quando recebi este título o presidente do CNPq, na época o doutor Marco Antônio
Zago, dirigiu mim estas palavras: “O significado desta conquista de pesquisador
sênior representa o reconhecimento da sociedade para
uma vida dedicada com sucesso a ciência. Cabe, portanto, não apenas uma
homenagem, mas também, uma palavra de agradecimento pela sua inestimável
colaboração para o desenvolvimento científico e tecnológico do país”.
Colaboração na Matéria: Aldo Barreto
*Agradecimentos
especiais a Magali e Sidnei na elaboração das perguntas.
Uma grande honra ter o Prof. Aldo Barreto na monitoria científica!
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