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19 tendências para as bibliotecas observarem atentamente hoje

Inspirada no modelo de sucesso da Aliança Americana de Museus, do Centro para o Futuro dos Museus, a ALA lançou o Centro para o Futuro das Bibliotecas, com apoio do Instituto de Serviços em Museus e Bibliotecas.
Miguel Figueroa
O Centro para o Futuro das Bibliotecas trabalha com três objetivos: identificar tendências emergentes para as bibliotecas e as comunidades às quais elas servem; promover técnicas visionárias e inovadores para ajudar aos bibliotecários e aos profissionais de bibliotecas a delinearem seu futuro profissional e construir conexões com experts e pensadores inovadores para ajudar aos bibliotecários com questões emergentes. O responsável pelo Centro é Miguel A. Figueroa (leia abaixo a entrevista exclusiva para a MC).

A comunicação é feita por meio do blog Library of the Future, curiosamente dentro da tag "Transformando" (Transforming) da ALA.org.
O blog noticia eventos da ALA e faz recomendações de material e leitura no tema de Bibliotecas do Futuro, na aba Manual para o Futuro da Biblioteconomia.
Mas, sem dúvida, a parte mais interessante do blog é sobre as tendências em bibliotecas. Sete categorias de tendências foram identificadas até 2015: Sociedade (Society), Tecnologia (Tecnology), Educação (Education), Meio ambiente (Environment), Políticas e governo (Politics and Government), Economia (Economics) e Demografia (Demographics), cada uma com uma cor diferente.
O blog propõe a discussão de subtemas relevantes em cada uma delas e promete atualização.
Dentro de Sociedade, por exemplo, temos questões sobre anomimato, projetos de solução de problemas sociais específicos por grandes atores sociais (os chamados Collective Impact); cadeias de fast casual food, tendência americana de consumo de alimentos mais naturais, porém dentro de padrões ainda muito processados, oferecidos especialmente para a geração Y; movimento de faça-você-mesmo atualizado tecnologicamente (Maker movement) e os novos enfoques de privacidade em função da mobilidade tecnológica e das midias sociais.
Já em tecnologia, as discussões se voltam à profusão de dados em todos os lugares, drones, a internet das coisas, robôs e os desplugados.
Por trás deste mapeamento de possíveis caminhos que vão cruzar o futuro das bibliotecas está Miguel Figueroa, apresentando os contextos em que cada uma se insere e apontando os principais referencias para entender cada cenário.
Um conceito bastante interessante que Figueroa expõe é a noção de cidades resilientes: cidades ou comunidades que sofreram com desastres naturais como enchentes, furacões, terremotos, tsunamis, seca e como isto pauta o trabalho dos bibliotecários para modelar sua cartela  de serviços. Ele também revela que os espaços físicos, para a grande maioria de profissionais, usuários e até não usuários das bibliotecas, vai continuar a ter grande importância, mas com novas abordagens e uso.
Confira a entrevista que Miguel Figueroa, responsável pelo Centro, gentilmente concedeu para a Monitoria Científica FESPSP, com exclusividade:
Monitoria Científica: Em relação a todas as tendências propostas pelo Centro para o Futuro das Bibliotecas ( Center of the Future of Libraries), qual o senhor acha que mais aplica ao contexto atual do Brasil?

19 tendências propostas pelo Centro para o Futuro
das Bibliotecas.
Fonte: http://www.ala.org/
Miguel Figueroa: O Centro para o Futuro das Bibliotecas está trabalhando para identificar tendências que podem ser importantes para as bibliotecas e os usuários a quem nós servimos. A série de tendências (http://www.ala.org/transforminglibraries/future/trends) começou com 09 tendências e aumentou para 19 nos últimos meses. Para cada tendência eu tento explicar como ela ocorre e falar um pouco sobre o porquê de ela ser de interesse para as bibliotecas - e oferecer links para os artigos, reportagens e fontes de informação que me ajudaram a entendê-la.

Por que estamos preocupados com as tendências? Edward Cornish, o fundador do The World Future Society, escreveu em seu livro, Futuring: The Exploration of the Future, "Tendências nos ajudam a organizar nosso pensamento sobre mudanças, nos dando uma ideia mais clara das coisas realmente importantes que estão acontecendo. Desta consciência emergem insights chave para nos ajudar a resolver problemas de ordem prática". As tendências formam as base da qual muito do futuro vai emergir.

Eu organizo as tendência em sete categorias - Sociedade, Tecnologia, Educação, Meio Ambiente, Política e Governo, Economia e Demografia. Organizar as tendências em categorias me ajuda a pensar tanto sobre sua natureza individual quanto sobre as interelações entre as múltiplas tendências. Isto também ajuda a me certificar que eu sigo monitorando além das categorias de mudanças - em vez de focar apenas em tecnologia ou demografia ou outra que possa ser mais familiar ou confortável.

Sobre quais tendências possam ser mais aplicáveis ao Brazil, eu acho que algumas tendências têm um significado global. Envelhecimento populacional, tecnologias de coleta de dados e tecnologias que requerem dados necessariamente, urbanização e o aumento da necessidade de resiliência frente às mudanças ambientais parecerão importantes em praticamente qualquer país ou comunidade. Algumas tecnologias, como os drones e os robôs, terão também um impacto significativo ao redor do mundo. Uma das coisas que estou começando a entender é que estas e outras tendências podem ser aplicáveis - ou inaplicáveis - dependendo das necessidades específicas da comunidade. Os profissionais das bibliotecas são as pessoas chave para identificar as tendências que ressoam na comunidade e então podem buscar maneiras de inovar em função destas tendências na biblioteca. Minha esperança é que a série de tendências possa ajudar os profissinais das bibliotecas a identificar e entender mais tendências por meio do exame e resumo de sua atuação e possam disponibilizá-las no site do Centro.

MC: Está claro que os bibliotecários terão que assumir diferentes papéis face a estas tendências e capitalizar todos os benefícios vindouros. Como isto reflete nos programas educacionais para estes profissionais?

Miguel Figueroa: Baseado em o que falei anteriormente - acho que os profissionais de bibliotecas são as pessoas chaves para identificar as tendências que vão ressoar em suas comunidades e assim poderão encontrar meios de inovar a partir destas tendências no ambiente da biblioteca. Dito isto, não acho que cada um de nós individualmente vai precisar ou ser capaz de ser responsivo a cada tendência que acontece no mundo hoje. Ao invés disso, cada um de nós vai precisar ser responsivo àquela comunidade específica com a qual estamos trabalhando identificando as tendências que são mais importantes ou de maior interesse para ela.

Então, em termos educacionais, não sei o quê nossos programas precisam incorporar de cada tendência nas orientações e no curriculum. Algumas delas podem ser apenas tendências momentâneas e outras podem ter importância limitada.

O que os programas educacionais podem e estão fazendo é ajudar os profissionais a entenderem que a maior parte do seu trabalho está em olhar para fora da biblioteca. Os programas educacionais podem ajudar os alunos a entenderem as habilidades e valores tradicionais da Biblioteconomia e como eles podem ser adaptados à um mundo em mudanças. Desenvolver este foco de observação, engajamento e aprendendo com o mundo exterior pode ser incrivelmente importante, especialmente enquanto a tecnologia, as comunicações e outras características do nosso mundo mudam rapidamente.

Enquanto eu faço este trabalho com as tendências, fica mais aparente que os usuários das bibliotecas têm maior acesso à informação e às inovações, e assim as expectativas deles em relação à serviços na biblioteca ou outros ambientes aumenta. Em relação aos nossos programas educacionais, isto pode ser uma indicação que os profissionais de biblioteca vão precisar estar melhor preparados quanto à estratégias de inovação, design thinking e experiência de usuário.

MC: A mobilidade é uma palavra essencial agora e nos anos que virão. O que acontecerá com as bibliotecas físicas? A tendência que você denomina de "fast casual" seria uma solução para isso?

Miguel Figueroa: Quase todo mundo se pergunta sobre o futuro dos espaços físicos das bibliotecas. Eu tenho conversado com os líderes nas bibliotecas, os advocates (que atuam com advocacy), os designers e até com os não-usuários de bibliotecas e a vasta maioria ainda acredita que os espaços físicos continuarão a ser importantes. Continuarão a ser um lugar de serviços diretos para o usuário, mas isto também pode ajudar a conectar e promover nossos serviços digitais.

Certamente aprendemos com os elementos de design dos restaurantes tipo fast casual. Eles encontram meios de integrar mobilidade (pedido, pagamento, promoções locais) à experiência física. O design deles enfatiza a abertura e a flexibilidade, oferecendo aos usuários maiores oportunidades para customizar suas experiências e oferecem o seu espaço a uma vida útil mais longa entre as remodulações caras e as repaginações. Eles consideram e integram a tecnologia no seu design (wifi, conectores e sinal digital). Também promovem transparência (caixas envidraçadas e balcões mais acessíveis) em um esforço para ajudar aos usuários a entenderem melhor a gama de atividades (trabalho, socialização, refeições) que podem ser feitas nos espaços desses restaurantes.

MC: O senhor poderia destacar alguns exemplos recentes de lugares como o Brasil onde você vê estas tendências acontecendo?

Miguel Figueroa: Sei que Porto Alegre e Rio de Janeiro (e muitas outras cidades na América do Sul) estão participando da iniciativa da Fundação Rockefeller de 100 Cidades Resilientes. Estas cidades recebem apoio para contratar um líder em resiliência, desenvolvem estratégias de resiliência, acessam ferramentas para criar e implementar a estratégia e são membros de uma rede maior de cidades resilientes. Aprender mais sobre a experiência destas cidades em um projeto pode abrir novos entendimentos sobre como os serviços das bibliotecas podem se adaptar a uma estratégia maior de resiliência nas cidades e nas comunidades.

A rede de restaurantes Giraffas é frequentemente citada como um exemplo de conceito de restaurante fast casual que foi bem sucedido e agora está se expandindo para outros mercados, incluindo nos Estados Unidos. Pelo Brasil há exemplos similares de espaços de varejo, restaurante e hotel que estão adotando elementos do conceito fast casual, incluindo customização orientada para o cliente, serviço de mesa limitado, mais opções de comida local e saudável, decoração diferenciada, integração tecnológica, espaços transparentes e configuração de móveis flexíveis e multifuncionais.

Dadas mudanças populacionais e econômicas no Brasil, envelhecimento e urbanização são provavelmente importantes tendências para se observar. Como as bibliotecas no Brasil vão ser adaptar a estas tendências podem ser emprestadas de práticas em outros países ou podem se adaptar às únicas circunstâncias do Brasil.

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Interview with Miguel Figueroa, from Ala´s Center for the Future of Libraries
1)     Concerning all the seven trends proposed by the Center for the Future of Libraries, which ones do you think most apply to Brazil nowadays?

ALA’s new Center for the Future of Libraries is working to identify trends that might be important to libraries and the users that we serve. The collection [http://www.ala.org/transforminglibraries/future/trends] started with nine trends and has grown to nineteen over the past several months. For each trend I try to explain the trend and talk about why it might matter for libraries – and provide links to the articles, reports, and sources that helped inform my understanding of the trend.

Why are we concerned about trends? Edward Cornish, a founder of the World Future Society, wrote in his book, Futuring: The Exploration of the Future, “Trends help us to organize our thinking about changes, giving us a clearer picture of the really important things that are going on. From this awareness emerges key insights to helping solve practical problems.” Trends form a baseline from which much of the future will emerge.

I organize the trends into seven categories – Society, Technology, Education, the Environment, Politics (and Government), Economics, and Demographics. Organizing the trends into categories helps me to think about both the nature of individual trends and the interrelationship of multiple trends. It also helps ensure that I keep looking broadly across categories of changes – instead of only focusing on technology or demographics or whatever might be most familiar or comfortable.

As far as which trends might be most applicable to Brazil, I think some trends have worldwide significance. Aging populations, data collection and data-driven technologies, urbanization, and the increasing need for resilience in the face of environmental change would seem to be important in most any country or community. Some technologies, like drones and robots, will likely also have a significant impact around the world. One of the things that I’m starting to understand is that these and other trends can be applicable  - or inapplicable – depending on the particular needs and interests of the community. Library professionals are the key to identifying the trends that resonate with their community and then finding ways to innovate around those trends in the library. My hope with the trend collection is that I can help library professionals identify and understand more trends by doing the scanning and summary work and making these trends available from the Center’s site.

2)     It´s clear that librarians will have to play many different roles to face these trends and capitalize all the coming benefits. How does it reflect on the educational programs to those professionals?

Building on some of what I had written above – I think library professionals are the key to identifying the trends that resonate with their community and then finding ways to innovate around those trends in the library. That being said, I don’t think that individually each of us will need or be able to be responsive to every trend that is happening in the world today. Instead, each of us will need to be responsive to the specific community that we are working with and the trends that are most important or of greatest interest to the community.

So, educationally, I don’t know that our programs need to incorporate every identified trend into instruction and curriculum. Some of these may be passing trends and some of them may have limited importance.

What educational programs can and are doing is helping library professionals understand that a major part of their work will be looking outward. Educational programs can help students understand the traditional skills and values of librarianship and how those can be adapted to a changing world. Developing that mindset of observation, engagement, and learning with the outside world will be incredibly important, especially as technology, communications, and other parts of our world change rapidly.

As I do this trend work, it’s becoming more apparent that library users have greater access to information and innovations – and so their expectations for services, in libraries or other environments, are increasing. For our educational programs, that might be an indication that library professionals will need to be better prepared in innovation strategies, design thinking, and user experience.  

3)     Mobility is a key word now and in the future years. What will happen to the "brick and mortar" libraries? Can the fast casual trend be a solution to that?

Almost everyone asks about the future of library space. As I have talked to library leaders, advocates, designers, and even non-library users, the vast majority still believes that physical library spaces will continue to be important. The physical space will continue to be a place of direct service for users, but it can also help connect and promote our digital services.

We can certainly learn things from the design elements of fast casual restaurants. They find ways to integrate mobile (ordering, payment, location-based promotions) into the physical experience. Their design emphasizes open and flexible, providing users with greater opportunities to customize their experiences and offering their space a potentially longer lifespan between expensive remodels or refreshes. They consider and integrate technology in their design (wifi, electrical outlets, digital signage). They also promote transparency (glass store fronts, approachable counters) in an effort to help current and potential users better understand the range of activities (work, socializing, dining) that can happen within the space.

4)     Could you highlight some recent examples of places like Brazil where you see these trends clearly going on?

I know that Porto Alegre and Rio de Janeiro (and several other cities in South America) are participating in the Rockefeller Foundation’s 100 Resilient Cities initiatives [http://www.100resilientcities.org]. Those cities receive support to hire a chief resilience officer; development of a resilience strategy; access to tools to design and implement the strategy; and membership in the larger network of resilient cities. Learning more about these cities’ experiences in the project might open some new understanding of how library services might fit into a larger resilience strategy in cities and communities. 

Brazil’s restaurant chain Giraffas is often cited as an example of a fast casual restaurant concept that has succeeded in its own country and is now exploring expansion into other markets, including the U.S. Throughout Brazil there are likely examples of retail, restaurant, or hotel spaces that are adopting elements of the fast casual concept, including patron-driven customization, limited table service, more local and health-conscious choices, upscale or distinctive décor, technology integration, transparent spaces, and flexible and multifunctional furniture configurations.

Given Brazil’s changing population and economy, aging and urbanization are likely important trends to watch. How libraries in Brazil will adapt to these trends may borrow from practices in other countries or may adapt to be unique to Brazil’s circumstances.

Matéria gentilmente elaborada pela monitora voluntária Magali Machado.

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