Durante a palestra virtual que a Thaiannne fez no dia 12/03, os ouvintes pediram dicas e caminhos para atuar na área de tecnologia. Dentre as dicas oferecidas, foi mencionado o livro "A nova desordem digital - David Weinberger".
Para quem não conhece a obra, convidamos o nosso parceiro e bibliotecário do super time da FESPSP, o Ederson Ferreira Crispim que escreveu um resumo sobre o livro.
O texto abaixo é de autoria do Ederson. Boa leitura!
A tese de “A Nova Desordem Digital”, ou, do original Everything is Miscellaneous, livro escrito pelo tecnólogo, doutor em filosofia e palestrante estadunidense David Weinberger (1950-) em 2007, pode ser colocada da seguinte forma: o mundo caminha para a miscelânia.
Aliás, algo nesse sentido nos faz lembrar, por analogia, a utilização que os matemáticos Claude E. Shannon (1916-2001) e o Warren Weaver (1894-1978) fizeram do conceito de entropia da física (desordem e aleatoriedade no universo) e da engenharia (traduzido por desperdício de energia, ou calor, em relação a trabalho realizado) para a “Teoria Matemática da Comunicação” como: uma medida da incerteza ou do grau de incerteza em relação à previsibilidade e integridade da informação de um transmissor a um receptor.
Contudo, embora David Weinberger no decorrer de seu livro não tenha abordado o assunto dessa forma, poder-se-ia dizer, por aproximação, que seu conceito de miscelânia está para a organização da informação e do conhecimento – ausência de previsibilidade e aumento da incerteza –, como a entropia está para os fenômenos de desordem da matéria nos sistemas do mundo físico.
Entretanto, assim como a entropia é explicada pela segunda e terceira leis da termodinâmica, a miscelânea, por sua vez, para David Weinberger, também pode ser explicada não somente como uma categoria fantasma a ser evitada, mas, sim, de modo a se tirar proveito e recompensas de seus princípios pós-coordenadores em relação ao inexorável trabalho de organização da informação e do conhecimento mundo afora.
Portanto, para reforçar a adesão à sua tese de que o mundo caminha para a miscelânea, o autor deixa explícito o destino de sua mensagem já a partir de sua dedicatória: “Para os bibliotecários”.
Para explicar o que é essa miscelânea que está em curso, David Weinberger apresentou ao longo dos capítulos de seu livro o que denominou como as três ordens da ordem e suas limitações.
A primeira e a segunda ordens, segundo ele, é de natureza física e tridimensional, é composta por átomos e está regida pelas leis da matéria, bem como, estão sujeitas às limitações humanas de locomoção, expressão, visão e fundo cultural. Seus exemplos incluem: a psicologia da informação no marketing de lojas de varejo, a organização de acervos fotográficos (físicos e digitais) e a catalogação de livros por especialistas divididos por áreas do conhecimento, como é feita na Biblioteca do Congresso, para citar um exemplo.
Nesse entremeio, explora problemas históricos de linguistas engajados na introdução da ordem alfabética e seus opositores, bem como os desejos pessoais de criação de sistemas únicos de classificação de bibliotecas, como a estável, porém conturbada, classificação decimal de Melvil Dewey (1851-1931).
Já a terceira ordem da ordem, de natureza digital e sem as restrições encontradas nas ordens anteriores, é aquela que aumenta seu valor tão logo mais informações são agregadas aos objetos digitais, segundo David Weinberger, suas possibilidades de diversificação e recuperação informacionais aumentam conforme rumam para a verdadeira miscelânea, quando o usuário final tem (ou parece ter) o poder de rearranjar e compartilhar suas próprias listas e perfis de interesse, como em sites de comércio de livros eletrônicos, como no caso da Amazon, um de seus exemplos.
No entanto, o sumo da miscelânea, enquanto conceito, parece residir no direito democrático – por extensão – de se permitir “enxergar” significados na confusão, ou seja, para além de uma suposta desordem fortuita. Segundo David Weinberger, haveria mais recompensas que despesas desse comportamento.
Vale ressaltar, a título de contextualização, que o autor buscou em 2007 casos típicos de sua própria contemporaneidade e aspectos históricos de pessoas, famílias, empresas e instituições que de alguma forma estiveram (ou ainda estão) envolvidas no universo da organização da informação e do conhecimento. Mesmo com as grandes transformações digitais consequentes dos avanços tecnológicos presentes em nosso tempo, o tema segue atual e pertinente e dá margem para continuidade ou reabertura de outras pesquisas.
Referências
SHANNON, Claude E.; WEAVER, Warren. The mathematical theory of communication. Urbana, Ill.: Univ. of Illinois. 1949. Disponível em: https://archive.org/details/in.ernet.dli.2015.503815/page/n5/mode/2up. Acesso em: 20 mar. 2021.
WEINBERGER, David. A nova desordem digital: os novos princípios que estão reinventando os negócios, a educação, a política, a ciência e a cultura. Tradução Alessandra Mussi Araujo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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