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Seminário de Gestão de Acervos Digitais.

Marcos Issa, aluno do 3º Semestre de Biblioteconomia, é fotógrafo e jornalista, entrou na graduação de Biblioteconomia para aprender e adaptar técnicas para o gerenciamento de arquivos digitais, focando no material iconográfico. Em maio ele apresentou a palestra “As melhores Práticas em fotografia Digital” no Seminário de Gestão de Acervos Digitais que ocorreu no Centro Cultural Palacinho – Fototeca do Rio Grande do Sul, disponibilizando para a Monitoria Científica o relatório da sua apresentação.

Palestra: As melhores práticas em fotografia digital
Convidado: Marcos Issa
Descrição: Fotografia digital, por que acervos com 5 anos de vida correm mais riscos que aqueles com 50 anos? As melhores práticas em fotografia digital, dicas para organizar um banco de imagens digital seguro e eficiente.
Material de Apoio:

Marcos Issa começou a palestra contando um pouco da sua história, fotógrafo profissional, trabalhou no Jornal O Globo, no Rio de Janeiro, onde em 1992,  teve os primeiros contatos com a fotografia digital e os desafios de um mundo novo que se abria. Acompanhou desde cedo a transição entre a fotografia tradicional e a fotografia digital. Desde então ele vem estudando e se atualizando constantemente.
É fotojornalista, carioca e vive em São Paulo. Em 1995, fundou a Argosfoto, desde 2006 ministra o curso “Fluxo de Trabalho Digital, Boas Práticas da Captura ao Arquivamento”, onde enfatiza a organização e preservação digital. Em 2013 foi convidado pelo CCPF, Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE, a ministrar workshops. Criou também a PrataPixel, empresa especializada em digitalização de acervos fotográficos e no desenvolvimento de bancos de imagens digital. Atualmente estuda biblioteconomia na FESPSP.
Nunca se fotografou tanto e nunca se perdeu tanto!

Como preservar a memória digital?  Não temos no Brasil políticas públicas específicas para fotografia. Ainda estamos engatinhando. Os melhores exemplos, vem de fora do país. Marcos citou o UPDIG, Universal Photographic Digital Imaging Guidelines e atualmente, o mais importante, dpbestflow.org, sustentado pela Biblioteca do Congresso Norte Americano.



Updig - Universal Photographic Digital Imaging Guidelines
A coligação UPDIG, dedicou-se a elaborar e promover padrões para fotografia digital e foi criada com a parceria entre muitos profissionais: fotógrafos, fornecedores de softwares, fabricantes de hardwares, indústria gáfica, etc. As orientações abrangem Digital Asset Management (gestão de acervos digitais), Color Profiling, Metadados, Fotografia e o fluxo de trabalho. Boas práticas, criadas para fotógrafos designers, impressoras, distribuidores e pesquisadores de imagem, etc.

O que é o DpBestflow?

Desde agosto de 2007, a Sociedade Americana de Fotógrafos de Mídia (ASMP), recebe suporte da Library of Congress, a poderosa Biblioteca do Congresso dos EUA, por meio de seu programa NDIIPP - National Digital Information Infrastructure and Preservation Program.
O objetivo do projeto dpBestflow é estabelecer as melhores práticas para fotografia digital. ASMP reuniu uma equipe de especialistas para pesquisar maneiras de simplificar e melhorar os processos, de produção e conservação de imagens digitais. 

Duas publicações importantes foram utilizadas no trabalho da equipe:

1.Fotografia Digital Melhores Práticas e de fluxo de trabalho manual (Focal Press, 2009), de Richard Anderson e Patti Russotti . O livro apresenta práticas de fluxo de trabalho para o planejamento, a captura e arquivamento de fotografia digital.
2.O Livro DAM (O'Reilly Media, 2009): Autor Peter Krogh. É um guia essencial para os fotógrafos que se deslocam de filme para digital e mostra como todos os componentes de uma biblioteca de fotografia digital se encaixam em um sistema abrangente.

Como resultado das pesquisas do grupo, foi criado o site dpBestflow.org, site aberto,  parte de um processo educativo voltado para a comunidade de fotografia profissional e ao público geral. O projeto também promove campanhas educativas em feiras, seminários, etc.



Segundo Marcos, não devemos reinventar a roda e sim seguir modelos como este, que já funcionam e bem, adaptando-o às nossas realidades. Seguir padrões traz maior interoperabilidade.


Não existe uma solução pronta para a preservação digital, tudo ainda é muito novo e precisa ser desenvolvido.
Podemos dizer que a fotografia digital começou no Brasil, no início dos anos 2000, ficando aos poucos mais acessível, até dominar o mercado. Ou seja, há cerca de 15 anos estamos produzindo digitalmente, no entanto grande parte do que é feito está se perdendo, por falta de conhecimentos e de boas práticas. É urgente conhecer e difundir as boas práticas, precisamos nos reciclar, encontrar as melhores soluções.


Mais importante do que “ter” uma imagem é encontrá-la!

Boas práticas

1º Estudar
2º Estar atualizado
3º Se organizar

Como se organizar

a)    Criar uma rotina para trabalhar o acervo – facilitar os processos;
b)    Pesquisar o mercado de software, possibilidades de gestão para o trato do acervo;
c)    Começar de forma organizada, desde a “ingestão” das imagens no computador. Consertar os erros dá muito trabalho!
d)    Montar um fluxo de trabalho moderno, seguindo as boas práticas em todas as etapas do processo.


Catálogos - Softwares para gestão de acervos

o     Lightroom - Adobe
o     Filemaker - subsidiária da Apple
o     Fotostation – Fotoware
o     Media Pro - Phase One
o     ICA-AtoM - Conselho internacional de Arquivos, em parceria com a Unesco
Como achar as imagens
Metadados
Dados sobre dados
Informação sobre a foto


Os metadados são palavras ou códigos de referência que permitem localizar uma informação. Assim metadados são informações que acrescem aos dados e que têm como objetivo informar-nos sobre sua localização e mesmo a informação contida naquele dado, o que facilita a sua organização.
Exemplo de metadados no universo da gestão de arquivos baseada em papel: localização física, n.º de caixa, etiqueta de pasta, sistema de classificação. No mundo da imagem documental podem incluir tipo de documento, data, entidades com que se relaciona, palavras chaves, o que , quem quando, porque.  Ou dados como: autor, data, assunto, tipo de documento, cliente, n.º de versão. A função é que através destes dados, que ficam vinculados às imagens, você consiga localizar o que procura e tenha informações sobre o objeto.
Importante saber que na fotografia digital, existem esquemas de metadados que podem e devem ficar embutidos nas imagens.  Assim, as informações estão nos arquivos, em não apenas me uma base de dados.

IPTC – International Press Telecomunication Council

Consórcio criado em 1965 para desenvolver e publicar padrões para o intercâmbio de notícias e jornais e agências de notícias. O IPTC tornou-se o padrão para intercâmbio de informações em fotografias. Desde 1990, a Adobe embutiu a ficha “IPTC” nas imagens digitais, utilizando a plataforma XMP, que também abriga outras categorias de metadados, como o EXIF, com informações técnicas geradas pela câmera. O IPTC tornou-se padrão de metadados em fotografia digital, sendo escrito e lido por quase qualquer software de imagem e de catalogação.
Os principais campos do IPTC são:
Administrativos: informações sobre a imagem, como: o local, os personagens, o que e onde
Descritivos: quando e porque
Direitos intelectuais: autor e a lei que rege o país ( é habitual, no caso do Brasil é a lei 9610.98 – lei do direito autoral)
Palavras chaves: palavras que identificam a imagem, a chave de localização.


Obras órfãs
Nos Estados Unidos da América – e conseqüentemente no resto do mundo “autoral” – debateu-se a questão do estatuto das obras órfãs. Obras órfãs são aquelas cuja autoria e direitos sobre a obra, não estão identificados e não podem ser ou encontrados. Quando da criação do Museu do Holocausto, o debate sobre uso de imagens órfãs ganhou vulto até se tornar o “Orphan Works Act of 2008”, projeto de lei que autorizaria o uso de imagens órfãs. O projeto não passou pela “casa dos representantes” mas criou imenso debate e acendeu um alerta para importância de identificarmos corretamente nossas obras digitais, conforme os padrões existentes.

Colocar crédito é fundamental!

Sobre a estrutura imagem digital

Foi apresentado brevemente, a estrutura da imagem digital, que pode ser vista nos slides. Marcos mostrou que a fotografia digital é formada por pixels, que significa “picture element”, sendo pix,  abreviação de picture, em inglês. A imagem digital é formada pela união destes elementos. A fotografia digital é formada por adição das cores básicas RGB, vermelho, verde e azul. Ou seja, 3 camadas com estas cores, formam todas as outras. No entanto, Marcos ressaltou uma questão importante, a forma como os sensores “enxergam” a luz. Os sensores não capturam 3 camadas, apenas uma, com pixels capturando cada uma destas cores básicas, de forma intercalada, formando um mosaico.
Este é o formato crú (RAW), como o sensor e captura a informação. A partir desta “informação” básica, que será interpolada, são geradas as 3 camadas que RGB.

Formatos de Arquivo

Os formatos mais conhecidos, como JPEG ou TIFF, são fotografias RGB, ou seja, com estas 3 camadas sobrepostas. Estas camadas são formadas a partir da imagem RAW. Quando fotografamos em TIFF ou em JPEG, um software embutido na câmera processa a imagem crua. Portanto, TIFF ou JPEG são DERIVADOS do RAW.
Marcos recomenda fortemente, como a primeira das “boas práticas”, que toda captura seja em formato RAW, possibilitando seu processamento posterior, com muito mais controle, através de softwares mais poderosos que os existentes nas câmeras.
Marcos mostrou ainda que enquanto o TIFF não tem nenhuma compactarão com perda, o JPEG é um formato compactado que perde informação, não sendo adequado para guarda, porém é um arquivo necessário, dos mais utilizados.

RAW

É um nome genérico para arquivos crus. Não existem arquivos “.RAW”. Cada fabricante patenteou a maneira de “escrever” esta informação. O “raw” da Nikon é o .NEF;  o da Canon, .CR2; da Fuji, .RAF, etc… Todos são arquivos RAW, formatos “proprietários”. A Adobe em uma tentativa de unificar o formato, criou o DNG (Digital Negative). Marcos recomenda converter os arquivos proprietários em DNG, que tem o código aberto, sendo portanto, mais indicado para guarda, além de ter outras vantagens, como embutir metadados.
Embora haja recomendação do Conarq para utilização do TIFF como arquivo de guarda, Marcos diz que sendo o TIFF derivado do RAW (DNG) é até mais importante, guardar o original, o negativo digital, pois além de ser um arquivo bem menor que o TIFF, que já foi processado e tem as 3 camadas RGB, o DNG pode ser melhor processado no futuro, através de novos softwares, gerando um derivado de melhor qualidade. Na dúvida guarde os dois!

Digitalização

É um processo multidisciplinar. Não faz sentido digitalizar “tudo”, há de haver uma curadoria. Nem se deve digitalizar sem uma prévia higienização e acondicionamento. Após digitalizar, devemos indexar as imagens dentro dos padrões, para que possam ser catalogadas e recuperadas posteriormente. Dependemos da TI para que haja segurança dos dados. Educar os usuários, faz parte deste processo….enfim, o ato de digitalizar é só uma parte deste processo, que depende muito dos fotógrafos, técnicos…



Mensagem Final

Da captura ao arquivamento, devemos conhecer as boas práticas na fotografia digital, especialmente conhecer o DpBestflow.  Precisamos nos atualizar constantemente, buscando fluxos de trabalho mais modernos e eficientes, que  tragam ganho de tempo, qualidade e mais segurança.  Devemos seguir padrões , ao invés de  inventá-los, permitindo  o intercâmbio  de informações entre sistemas de informação.
Marcos Issa


Mais sobre a Fototeca do Rio Grande do Sul
Em dezembro de 2011, o governador Tarso Genro assinou decreto instituindo o Centro Cultural Palacinho I Fototeca RS com o objetivo de transformar o Palacete Santo Meneguetti em um centro de conservação da memória fotográfica do Estado. A Fototeca RS abrigará eventos de diversas expressões culturais, promovidos pela Associação dos Amigos do Palacinho como saraus musicais e literários, apresentações de dança, leilões de arte, exposições e outros.

Hoje o projeto está em andamento na etapa de captação de recursos por Leis de incentivo a cultura. Paralelamente, estão sendo realizadas negociações para trazer acervos fotográficos históricos, que atualmente estão em mãos de particulares, e não acessíveis, para serem abertos ao conhecimento da população do Rio Grande e, no futuro, serem utilizados como fonte de pesquisa acadêmica.

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