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O mercado de trabalho na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação no século XXI

O Bibliotecário Maurício Chatel Vasconcellos Filho nos enviou um excelente texto sobre o mercado de trabalho para os bibliotecários, é uma importante reflexão para os profissionais que buscam novas oportunidades na área.

A leitura vale à pena!

O presente trabalho é uma análise sobre o mercado de trabalho na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Aborda as competências profissionais necessárias para que o profissional consiga atuar e se manter empregado neste competitivo mercado de trabalho na atualidade.

A metodologia aplicada para a realização desta pesquisa bibliográfica foi um levantamento bibliográfico na literatura especializada através de textos em sites especializados, capítulos de livros além de outras fontes de informação.

Estudos acadêmicos sobre o mercado de trabalho dos profissionais da área de Ciência da Informação não são recentes. O marco inicial de estudos sobre o mercado de trabalho na área de Ciência da Informação foi um estudo dirigido por dois norte-americanos em 1969. Após este marco inicial muitos outros se sucederam.

O mercado de trabalho tem sofrido grandes mudanças desde o surgimento da Informática, do uso da Internet, do uso das intranets das organizações e do uso das comunicações virtuais que conectam profissionais, empresas da iniciativa privadas e públicas e terceiro setor.

De acordo com Pereira (2005, p.21), o mercado de trabalho continua passando por grandes transformações, de abrangência local, conjuntural, estrutural e globalizada, numa grande velocidade e intensidade.

Na primeira metade da década de 1990, o uso da Internet era limitado a pesquisadores, estudantes de pós-graduação em centros de pesquisa e em universidades.

Com o rápido desenvolvimento do mundo virtual, as organizações, centros de pesquisa, e pessoas físicas perceberam que o mercado de trabalho iria sofrer mudanças radicais e tanto as empresas quanto os profissionais teriam que se adaptar para se manterem neste novo mercado de trabalho e sobreviverem em um mundo cada vez mais competitivo onde as exigências e necessidades são cada vez maiores.

As tecnologias da informação devem ser consideradas ferramentas básicas do trabalho dentro de uma unidade de informação, uma vez que o processamento técnico, o gerenciamento, a recuperação e a disseminação de informações através destas tecnologias são mais eficientes e eficazes. Fazendo um histórico no período pré-internet, as bibliotecas brasileiras apresentavam uma estrutura tradicional, com os seus catálogos tradicionais externos voltados aos consulentes e os internos voltados para os profissionais das bibliotecas, onde todo o acervo da biblioteca estava representado em fichas catalográficas, datilografadas uma a uma, com a finalidade de descrever o conteúdo de cada obra bibliográfica e a sua localização nas estantes através do número de chamada.

Segundo Marcondes & Mendonça (2005) a web representa uma mudança de paradigma radical com relação aos serviços bibliotecários, pois ela proporciona um ambiente informacional amplo, global, de um alcance nunca visto pelos antigos serviços bibliotecários, acostumados a trabalhar num ambiente delimitado, com uma comunidade de usuários identificável, restrita às vezes conhecida.

Neste novo ambiente, as bibliotecas adquiriram uma nova dimensão. Lancaster (1994, p.9) afirmava diante da emergência dos recursos de informação cada vez mais acessíveis via redes, que o novo papel das bibliotecas era o de prover o acesso à informação ao invés da propriedade. Com o advento da Informática e da Internet, a Biblioteconomia sofreu uma profunda mudança estrutural, pois o mercado de trabalho nesta área começou a demandar profissionais bibliotecários mais qualificados, com competências e posturas profissionais que até então estes não possuíam.

Segundo Passos (2004) as competências básicas que os profissionais bibliotecários devem ter são:

1)demonstrar forte comprometimento com a excelência do serviço ao cliente;

2) reconhecer a diversidade dos clientes e da comunidade;

3) entender e apoiar a cultura e o contexto da biblioteca e das instituições similares;

4) demonstrar conhecimento da teoria da Ciência da Informação e do ciclo documentário;

5) exibir habilidades de liderança, incluindo pensamento crítico, tomada de risco, independente de sua posição na estrutura administrativa;

6) dividir o conhecimento e a perícia com colegas e clientes;

7) comunicar-se efetivamente com editores e com a indústria gráfica para promover os interesses da biblioteca;

8) reconhecer o valor da rede profissional e participar ativamente das associações profissionais;

9) perseguir ativamente o desenvolvimento pessoal e profissional através da educação continuada.

Uma nova habilidade exigida para os profissionais é a fluência tecnológica.

De acordo com Demo (2011, p.18), fluência tecnológica pode ser entendida por muita coisa, desde o mero exercício de digitalização de textos até a atividade do harcker. Interessa um meio termo em geral traduzido pelo exercício de autoria virtual com o auxílio de plataformas do tipo web 2.0.

O termo web 2.0 surgiu em 2004 e foi utilizado para nomear uma conferência sobre empresas "pontocom" que sobreviveram à explosão da bolha da Internet em 2001.

Ainda de acordo com Demo (2011, p,41) na web 2.0 o foco se põe sobre softwares que implicam a participação ativa do usuário, que deixa de ser apenas consumidor para se tornar partícipe, isto é, como nos blogs (publicação de textos individuais) e wikis ( elaboração de textos coletivos).

As tecnologias oferecem ferramentas que favorecem uma posição mais dinâmica dos bibliotecários nas unidades de informação.

A utilização da web 2.0 nas unidades de informação resultou na expressão biblioteca 2.0.

Segundo Maness (2007, p.48), define-a como a aplicação de interação, colaboração e tecnologias multimídias baseadas na web para serviços de coleções de bibliotecas baseadas na web.

O bibliotecário também deve capacitar-se para utilizar as redes sociais no seu cotidiano de trabalho.

Ainda de acordo com Maness (2007, p.48) redes sociais permitem que bibliotecários e usuários não somente interagissem, mas compartilhassem e transformassem recursos dinamicamente em meio eletrônico. Usuários podem criar vínculos com a rede de bibliotecas de uma instituição qualquer, ver o que os outros usuários têm em comum com as suas necessidades informacionais, baseados em perfis similares, demografias, fontes previamente acessadas em um grande número de dados que os usuários fornecem.

Segundo Yamaschita ( 2012, p.166), as tecnologias desafiam o profissional bibliotecário no desempenho de seu trabalho e até mesmo na sua função social.

As redes sociais são canais de comunicação para se disseminar informações de maneira rápida e muitas vezes sem custo financeiro.

A formação acadêmica básica dos profissionais bibliotecários é a nível de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação em instituições de ensino superior públicas e privadas. A formação do bibliotecário já vem há algum tempo acompanhando as exigências do mercado de trabalho. As habilidades técnicas e conhecimentos profissionais atualmente encontrados nos egressos dos cursos de graduação em Ciência da Informação retratam bem esta evolução.

Segundo o projeto político pedagógico do curso de Bacharelado em Biblioteconomia e Ciência da Informação da UFScar ( 2012/2014) algumas das principais competências e habilidades profissionais necessárias para a formação do bibliotecário são:

1) Analisar a informação e a produção do conhecimento;

2) Aplicar métodos de análise de informação para apoiar a tomada de decisão;

3) Assessorar a avaliação de coleções bibliográfico-documentais;

4) Avaliar resultados do uso da informação e investigar as soluções dos problemas relacionados ao trabalho com a informação;

5) Conhecer sistemas de classificação das fontes de informação, acesso, recuperação e análise e proteção da informação;

6) Desenvolver ações expositivas, visando à extroversão dos acervos sob sua responsabilidade;

7) Dirigir, administrar, organizar e coordenar unidades, sistemas e serviços de informação;

8) Dominar a lógica do sistema de indexação;

9) Elaborar produtos de informação, com base em conhecimento especializado do conteúdo dos recursos da informação, inclusive habilidade de avaliá-los e filtrá-los tecnicamente;

10) Formular e gerenciar projetos, produtos, serviços e informação;

11) Planejar, constituir e utilizar redes de unidades e serviços de informação;

12) Planejar, coordenar e avaliar a preservação e a conservação dos materiais armazenados nas unidades de informação;

13) Realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e uso da informação;

14) Selecionar, avaliar, representar, organizar e difundir a informação gravada em qualquer meio para os usuários de unidades, serviços e sistemas de informação;

15) Trabalhar em equipe;

16) Desenvolver de forma eficiente e eficaz o processo de comunicação;

17) Utilizar e disseminar fontes, produtos e recursos de informação de qualquer natureza.

Existe também a pós graduação em Ciência da Informação ( Mestrado e Doutorado) em instituições de renome no País e ainda a possibilidade de os profissionais bibliotecários fazerem pós-graduação em outras áreas do conhecimento humano, isto é, em Administração, em Gestão de Pessoas, Marketing, Gestão do Conhecimento etc., sendo considerados também exemplos de educação continuada.

Segundo Pereira ( 2005, p.48), ter o domínio do Inglês, além do Inglês de turista será um pré-requisito como hoje é ter nível universitário para profissionais que desejarem ocupar alguma posição técnica ou qualificada.

Em breve será um pré-requisito para participar de processos seletivos.

Outra vantagem competitiva em relação ao domínio do idioma Inglês é ter uma vivência internacional consistente do tipo intercâmbio cultural (high school) estágios remunerados, trabalhos em projetos especiais ou a realização de cursos de aperfeiçoamento de idiomas ou técnicos.
Ainda de acordo com Pereira (2005, p.47) as empresas cada vez mais estão buscando e valorizando profissionais polivalentes, com experiências em ramos diferenciados e com vivências em diferentes culturas organizacionais.

Finalizando, o importante é que os profissionais bibliotecários tenham em mente que a educação continuada (domínio das diversas tecnologias da informação, domínio de língua estrangeira etc) é de suma importância para a sua própria sobrevivência neste competitivo e turbulento mercado de trabalho na atualidade.

Como dizem também os especialistas, o marketing pessoal também é outra estratégia muito útil para se manter empregado.


REFERÊNCIAS:

DEMO, Pedro. Habilidades e competências no século XXI. 2 ed. Porto Alegre: Mediação, 2011. 104p. ISBN 978.85.7706-053-5.

LANCASTER, FredericWinfred.  Ameaça ou oportunidade? o futuro dos serviços de bibliotecas à luz das inovações tecnológicas. Rev. Escola de Biblioteconomia da UFMG, v.25, n.1. p. 7-27, jan./jun. 1994.

MANESS, Jack, M. A teoria da biblioteca 2.0: web 2.0 e as suas implicações para as bibliotecas. Info & Soc., João Pessoa, v. 17, n. 1, p.43-51, jan/abr. 2007. Disponível em : < http; //periodicos.ufpb.br/ojs 2/ index.php/ies/article/view/ 831/1464> Acesso em: 04 ago. 2011.

MARCONDES, Carlos Henrique; MENDONÇA, Marília. Serviços via Web em bibliotecas universitárias brasileiras. Disponível em:<www.cinform.ufba.br> Acesso em: 2005.

PASSOS, Edilene. Bibliotecário jurídico, seu papel seu perfil. Disponível em: Acesso em: 05 abril 2004.

PEREIRA, Paulo. Profissionais & empresas: os dois lados de uma mesma moeda no mercado de trabalho. São Paulo: Nobel, 2005. ISBN  85-213-1292-x.

O PROFISSIONAL da informação em tempos de mudanças. Campinas, SP, Alínea, 2005. 104p.PROJETO Político Pedagógico do Curso de Bacharelado em Biblioteconomia e Ciência da Informação. UFScar. Disponível em: <www.progradufscar.br/projetoped/PPP_BCLUFScar.pdf>  Acesso em: 2012/set. 2014.

YAMASHITA, Denise Sana; CASSARES, Norma Cianflone; VALÊNCIA, Maria Cristina Palhares. Capacitação do bibliotecário no uso das redes sociais e colaborativas na disseminação de informação. CRB-8 Digital, São Paulo, v.1, n.5, p.161-172, jan. 2012. Disponível em: Acesso em: jan. 2012.

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