Quando menina, sonhava em ser estilista. Saia desenhando bonecas magrelas em vestidos compridos, por cada folha em branco que encontrava no caminho. Quando cresci, finalmente me formei e trabalhei com Moda. Aprendi que a Arte, a Arquitetura e o Vestuário caminharam esteticamente lado a lado, ao longo de quase toda a História. Se moda é um comportamento coletivo, a semiótica diria então que a roupa "é o cérebro por fora".
Anos mais tarde, descobri a Ciência e sua incrível capacidade comprobatória e formuladora de conhecimento. Meu mundo renasceu mais bonito e paradoxalmente mais solitário também. O método tornou-se minha oração e Darwin o meu "deus". Fui então fazer Biologia e descobri que os genes, assim como às vestes, são pura informação codificada.
Mas para pagar tantas faculdades assim era preciso trabalhar, e em uma grande livraria fui ceder minha mão de obra. Como livreira, não bastava ser uma leitora assídua, precisei desenvolver a capacidade de ser uma boa ouvinte.
O usuário, ou cliente no caso, é nosso maior orientador e prioridade. Foi assim que cheguei aqui, nessa tal de Biblioteconomia. Acredito que tornar-se bibliotecário seja análogo à função de livreiro: caminhando por entre as estantes, percebemos nossa própria pequenez diante do montante infinito de obras que nos rodeia, como um astrônomo ao elevar o olhar para as estrelas do céu noturno. As prateleiras nos sussurram uma desafio subconsciente, de que muitos dos livros ali enfileirados jamais foram ou serão lidos.
Mas se por um lado o papel do livreiro é vender - mesmo aquela pilha encalhada, que definitivamente não corresponde aos seus interesses particulares -, por outro o do bibliotecário é mediar. Interceder para que as prateleiras jamais permaneçam intocadas, entre o pó e as traças. Instigar a leitura, a curiosidade, a busca e a construção do conhecimento.
Se o estilista cria significados nos adornos e o cientista decodifica dados do DNA, o bibliotecário, por sua vez, disseminará toda essa informação
Foto do acervo pessoal de Tatiana.
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