Música e Livros é uma coluna escrita por Bruno Carvalho, ex-aluno de Biblioteconomia da FESPSP, que fala a respeito de bandas e o que elas leem, mostrando como música e livros tem tudo a ver!
O entrevistado da vez é Dinho Ouro Preto, vocalista da banda Capital Inicial. Venham conferir!
Foto de divulgação do DVD Acústico em NY. Fonte: site oficial da banda. |
1) Bruno de Carvalho: Gostaria de saber se em sua opinião o professor e bibliotecário Briquet de Lemos contribuiu para o desenvolvimento do rock de Brasília na década de 80? De que forma isso ocorreu?
Dinho Ouro Preto: Sim, ele foi fundamental. Fundamental porque em grande medida tudo acontecia em volta dos filhos dele, e, por consequência, na casa dele. Ensaios, festas e até showzinhos. Ele era de uma tolerância e paciência sem fim. Os ensaios do Aborto e mais tarde do Capital eram na casa dele. A primeira entrevista da Turma da Colina pra uma revista de tiragem nacional (a Pipoca Moderna) foi na casa dele. Várias festas, que de certo modo serviam para construir a unidade do que era a Turma da Colina, aconteciam lá. Acho que é possível ainda especular que a ida dele a Leicester acabou fazendo do Fê e Flávio punks. Se eles não tivessem conhecido o punk rock, não teria havido o elo com o Renato. Se não tivessem conhecido o Renato e vice versa, toda a história não teria acontecido. Mas acho que se eu fosse apontar algo de fundamental na sua participação eu destacaria sua imensa tolerância. Afinal éramos uma horda barulhenta, arrogante, anarquista, suja... e ele parecia não se importar. Eu o acho, o Briquet, um homem excepcional.
Dinho: Tem uma música do Capital Inicial chamada “ Belos e Malditos” inspirada no livro de mesmo nome e sua letra descreve um pouco do ocorrido nesse período, além de também fazer menção a outro título de Fitzgerald chamado Suave é a Noite, publicado em 1934.
3) Bruno: Quais livros você costuma ler atualmente e quais você lia na década de 80?
Dinho: Reli Bulgakov, "O Mestre e a Margarida". Peguei o "Kalki", do Gore Vidal. Estou lendo também coisas do Kurt Vonnegut, que eu gostava muito quando era adolescente. Vários livros eu li quando era adolescente, livros dos seguintes autores: Aldous Houxley, George Orwell, J.D. Salinger, Camus, Kafka, Dostoievski, etc. Eu me lembro da primeira vez em que o Renato Russo falou comigo, as primeiras palavras que ele dirigiu a mim. “Você gosta de ler?” Eu falei que sim, aí ele me perguntou o que eu lia. Ele era – ou ao menos nos parecia, quando éramos adolescentes – de um conhecimento quase enciclopédico.
Ultimamente, tenho lido muito mais romancistas, principalmente Paul Auster e Philip Roth. O que leio de não ficção, basicamente, é livro de história. Tenho fascínio pela Segunda Guerra Mundial e pela Idade Média. Tem um cara que escreveu um livro sobre a Batalha de Stalingrado, depois um sobre a queda do Muro de Berlim e o mais recente é sobre o Dia D: Antony Beevor. Esse O Dia D (Editora Record) eu li em inglês. É tão horripilante. Tem de ter uma certa paciência, porque ele fala muito sobre brigadas e grupos militares. Mas o drama humano é que é avassalador. É uma carnificina tão grande que você até duvida que aquilo possa ter acontecido.
4) Bruno: Qual a importância do Renato Russo em sua carreira como músico?
Dinho: Ele era um grande amigo, na época que o conheci ainda se chamava Renato Manfredini. Lembro mais de Brasília, se eu não tivesse encontrado o Renato a minha vida teria tomado um rumo diferente, nunca havia pensado em ser músico de verdade. Aconteceu numa tarde que eu passei e vi o Aborto Elétrico tocando. Num momento minha vida mudou de rumo e isso aconteceu graças ao Renato.
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Dinho e Renato Russo em Brasília, 1983. |
A coluna é sempre muito boa, mas dessa vez está muito legal! Parabéns!
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