Entrevista: O Engajamento Social dos Profissionais da Informação: Abraço Coletivo no Centro Cultural São Paulo e as Bibliotecas Públicas. Jan/2017. Por Sidnei Rodrigues de Andrade (*)
E em pleno feriado de carnaval uma matéria que fala sobre
Política? É isso mesmo, e tem um propósito claro esta escolha: marcar 1 mês (completado ontem),
deste ato que mobilizou grande parte da nossa classe e independente de
ideologias, demonstrar o que está acontecendo no cenário político do nosso país
que vem de encontro direto à todos nós enquanto profissionais da informação.
Nada melhor que um relato de alguém que esteve presente
no ato como a seguir teremos da aluna Julia Alves e a matéria especial do nosso
monitor voluntário Sidnei Rodrigues de Andrade com uma ótima entrevista com os dois
principais líderes do “Abraçaço”. Não poderia deixar de citar a maravilhosa
reportagem para o Jornal GGN da nossa querida docente Maria das Mercês Pereira Apóstolo que segue neste link, uma base mais do que sólida para se entender
todo este contexto. Confiram!
Depoimento
para a MC da aluna Julia Alves (5º Sem./Not.)
Como estudante de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, usuária e frequentadora das bibliotecas públicas do Sistema
Municipal de Bibliotecas e suplente no Conselho Municipal do Plano Municipal do
Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PMLLLB) fiquei surpresa e temerosa
com o anúncio em Janeiro do Secretário Municipal de Cultura André Sturm, de que
as 52 bibliotecas e o Centro Cultural São Paulo (CCSP) passará a ser
administrados por Organizações Sociais (OS), deixando de ser público, pois, as
OS são entidades privadas sem fins lucrativos que recebem auxílio do governo
para prestarem os serviços. Apaixonada pela leitura, pelos livros e
principalmente pela profissão, decidi militar e somar forças contra a
Privatização das bibliotecas e do CCSP, além disso, incentivar outros alunos a
participarem e entenderem que essa ação do governo não é a solução, podemos ver
o exemplo de corrupção na Fundação Theatro Municipal de São Paulo sob a gestão
do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC). Por isso, acredito que
devemos nos unir estudantes, bibliotecários, movimentos culturais e da
periferia, profissionais do setor público, sindicato, conselhos e sociedade
civil contra a Privatização do que é público, mostrando que a solução não é
essa. Se você está interessando venha participar das plenárias abertas no
Sindsep, a ação já começou tivemos o abraçaço ao CCSP no aniversário de São
Paulo e muitas outras estão por vir! Porque eu amo minha biblioteca pública e
vou lutar por ela!
#euamominhabibliotecapública
Saudações, Profissionais da Informação!
por Sidnei Rodrigues de Andrade
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Fonte: Facebook Oficial "Eu amo a minha Biblioteca Pública" |
No dia do aniversário de umas das maiores cidade da América Latina, São Paulo, houve uma manifestação cultural e educacional, bem inovadora e com muita inteligência: Abraço Coletivo ao Centro Cultural São Paulo e as Bibliotecas Públicas. Aconteceu no dia 25 de Janeiro – Quarta-feira, a partir 13h00 na entrada principal da instituição cultural, participei deste engajamento cultural e social, com ilustres participações de grandes BiblioAmigos e BiblioColegas que estavam juntos comigo.
Nesta oportunidade, resolvi fazer esta entrevista exclusiva para o blog da Monitoria Cientifica FaBCI – FESPSP, conversando com os principais líderes-representantes do movimento: a Bibliotecária Luciana Santoni e o Ativista Cultural Netto Duarte. Acompanhem as respostas da liderança desse movimento em prol da nossa cultura e educação.
1-)
Como você ficou ciente desta informação sobre a privatização das Unidades de
Informação Públicas e o Centro Cultural São Paulo?
Luciana Santoni: Soube pela imprensa, mas já imaginava algo nesse sentido,
pois durante toda a campanha eleitoral o Dória já falava em privatizar e
desestatizar o máximo possível, imaginávamos que isso atingiria a cultura, pois
faz parte do ideário de Estado mínimo. A cultura não é um bem mensurável, por
isso mesmo não pode ser mercantilizada, mas mesmo assim veio à declaração
oficial nesse sentido e já começaram as ações. Pensamos em estratégias para
chamar a atenção da opinião pública para isso, por meio do uso de redes sociais
e da criação do abraçaço.
A proposta de parceria com as OS num primeiro momento pode parecer como algo
bom, como um aumento de investimento na área, mas, sabemos que são melhorias
superficiais que vêm acompanhadas de precarização na qualidade do serviço
oferecido à população e ao trabalhador, além de todo perigo à autonomia
de uma programação cultural pública que abarque a diversidade e a complexidade
que permeiam a cidade.
Netto Duarte: Assim que o novo secretário assumiu,
comecei a ler e ouvir, em diversas mídias, críticas ao atual modelo de gestão
das bibliotecas e seu desejo de parceria com a iniciativa privada. Apesar de
estarmos falando de um governo privatista, pensei que isso não seria cogitado,
até por conta de exemplos que já existem na cidade e que não deram certo,
como por exemplo, o Teatro Municipal, que contabilizou um desvio de mais de 18 milhões de
reais. Nesse tipo de parceria, o controle fiscal não costuma ser tão rígido.
Ativista Cultural: Netto Duarte
2-) Como você observa o
engajamento social e cultural dos profissionais da informação (Bibliotecários,
Arquivistas e Museólogos) e ativistas culturais neste contexto contemporâneo?
Luciana: Falta unidade, há muitas pessoas
interessadas em melhorar as coisas, mas ainda temos dificuldade em nos
articular como grupo, perceber a função social do trabalho bibliotecário.
Netto: Na verdade, eu não conhecia o
engajamento dessa específica categoria, mas o resultado dessas últimas ações,
como o abraçaço, por exemplo, me deu
a certeza de que se não eram tão engajados, agora são (RS). Mas o que é legal
mencionar, é que eu nuca vi uma galera tão organizada como a da cultura. A
cidade de São Paulo pulsa cultural!
Netto Duarte, Luciana Santoni e Ativistas Culturais
3-) Porque fazer uma
manifestação em forma de Abraço Coletivo no CCSP? Onde surgiu essa ideia?
Luciana: A ideia do abraçaço surgiu para chamar a atenção da opinião pública sobre essa
questão de se passar a gestão das bibliotecas e do CCSP para as organizações
sociais. Um abraço simbólico que representasse que aquele espaço pertencia ao
povo e deveria continuar assim, um espaço público de qualidade e sob
gestão da administração direta da prefeitura.
Netto: Pensamos em realizar esse abraçaço especificamente no CCSP por
conta de sua representatividade na cidade, e consequentemente, sabíamos que
teríamos um apelo maior do que se fosse realizado em outro equipamento mais
afastado da região central. Mas é bacana frisar que esse ato foi um imenso abraço em
todas as bibliotecas espalhadas pela cidade, principalmente nas periféricas e
em seus profissionais. A ideia partiu da querida Luciana Santoni que me
ligou dividindo suas aflições caso o ato fosse um fiasco. Eu disse que se fosse
pra passar vergonha, passaríamos juntos. A nossa sorte é que a sociedade
civil abraçou e quando ela abraça, nenhum governo segura rs.
4-) A informação contemporânea é ideologia ou utopia?
Luciana: A informação contemporânea é sempre
ideologia, ela traz consigo uma bagagem de uma "verdade" imposta
pelo Estado e pela grande mídia para manutenção da ordem burguesa e do
status quo.
Netto: A informação
contemporânea veiculada nos meios de comunicação é de ordem ideológica. É a
principal ferramenta, ao lado da polícia, para a manutenção do estado burguês.
5-) Segundo Bezerra de Menezes “a política contemporânea é a ciência de criar o bem para todos”. Está acontecendo isso?
5-) Segundo Bezerra de Menezes “a política contemporânea é a ciência de criar o bem para todos”. Está acontecendo isso?
Luciana: Claramente que não. A cultura está
sendo tratada como mercadoria e não como um bem público que deve contemplar a
diversidade da sociedade e que tem um valor imensurável.
Netto: Nunca aconteceu e nem vai acontecer.
Esse país que renega a sua verdadeira cultura, a política “é para o bem de toda
a burguesia”. Por isso nos negaram o estudo, e por isso a passividade. A
revolução virá através da cultura, é por isso que através do mandato do
vereador Toninho Vespoli do PSOL, lutamos ao lado de tantos
coletivos por uma política cultural mais democrática, onde todos e todas que
produzem cultura nas “quebradas” tenham um maior acesso.
6-) Como você observa a Lei de Acesso a Informação no Brasil?
Para maiores informações sobre este movimento cultural e
social, acessem esta página oficial no Facebook.
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Fonte: Facebook Oficial "Eu amo minha Biblioteca Pública" |
6-) Como você observa a Lei de Acesso a Informação no Brasil?
Luciana: A Lei de Acesso à Informação é
fundamental. Por meio dela soubemos quantos bibliotecários atuam na cidade,
quantos entraram nos últimos concursos públicos e ainda seguem, qual a demanda.
Além de facilitar a transparência da gestão pública, podermos acompanhar como o
dinheiro público está sendo investido.
Netto: É de vital importância A Lei de Acesso à Informação! É um mecanismo que reforça o modelo
democrático de sociedade. Por meio dela sabemos com exatidão dados específicos
de algumas áreas, além de podermos acompanhar como o nosso dinheiro público
está sendo gasto ou investido.
7-) Como você observa a Educação no Brasil neste Século XXI?
Luciana: Essa é uma pergunta muito complexa.
Percebo um sistema que não está interessado em formar cidadãos críticos e por
outro lado muita gente boa, engajada procurando brechas nesse sistema pra
melhorar a vida de todos.
Netto: Com muita tristeza. A política de
sucateamento no Brasil é um crime hediondo. Sucatearam a saúde, o transporte
público, a educação, assim o empresariado vende mais planos de saúde e vagas em
escolas particulares e as montadoras mais carros. Nos negaram
direitos básicos mas reclamam do aumento da violência. Mas a Casa Grande fez um grande trabalho, esse
atraso não é por acaso. A educação transforma, empodera, mas eles precisam de
mão de obra, por isso a alienação. Mas eu sou um sonhador. Eu sonho com a
revolução, seja ela através do lápis ou do fuzil.
8-) Qual é a sua percepção sobre o cenário
brasileiro contemporâneo: ausência de afeto e engajamento na sociedade civil?
Luciana: Creio que seja um cenário complexo.
Há pessoas muito engajadas, que lutam por uma sociedade melhor em suas
comunidades, em seus bairros, em suas associações, partidos políticos; e há
outras que não sentem necessidade desse engajamento, talvez por alienação ou
por falta de interesse. São imediatistas, têm dificuldade de pensar de uma
maneira mais ampla, coletiva e desconstruir a "verdade absoluta" que
escutam na mídia, mas isso é um processo. Temos muita gente bem intencionada,
precisamos é de mais união e articulação para juntar forças.
Netto: É desolador! Existe sim, uma grande
parte da sociedade civil engajada, tanto nas suas ações individuais, quanto nos
diversos coletivos culturais espalhados pela cidade, mas é pouco, muito pouco.
A grande maioria da massa sofre de uma alienação crônica, causada em grande
parte pela ausência de uma educação pública de qualidade e consequentemente
pelos meios de comunicação que está a serviço das elites. Não por acaso,
sofremos recentemente um golpe de estado, e mesmo com diversas reformas contra
o povo (ou espectadores) como a reforma do ensino médio e a reforma da
previdência, não vemos uma mobilização em massa como deveria ocorrer. A Casa Grande fez e continua fazendo um
grande trabalho de alienação.
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Fonte: Facebook (campanha) |
Video-Reportagem sobre Abraço Coletivo no Centro Cultural
São Paulo no link.
Antes de finalizar esta reportagem especial, gostaria de mencionar
os BiblioColegas e BiblioAmigos que participaram ativamente e estavam presentes
neste movimento: Profes Cristina Palhares (UNIFAI), Fernando Modesto
(ECA-USP) e Maria das Mercês Apóstolo (FaBCI-FESPSP). Biblioparceiros: Paola
Marinho e Julia Alves da
FaBCI–FESPSP. BiblioColegas e amigos:
Isabela Martins, Natalie Sugisawa, Rosana Santana, Marina
Macambyra, Tais Bushatsky Mathias, Luciana Maria Napoleone, Carolina Martins
Tenório, Cinthia Mendes, Luba Melo, Beatriz Cristiane de Araújo e Janaina Silva Macedo.
Quero agradecer por gentilmente cederem esta entrevista a
Bibliotecária Luciana Santoni e o Ativista Cultural Netto Duarte por
compartilharem este movimento cultural e social que beneficia à TODOS nós neste
contexto contemporâneo.
Agradeço vocês que estão lendo esta reportagem especial, abraços e muito obrigado.
(*) A matéria apresenta a opinião das pessoas envolvidas.
Agradeço vocês que estão lendo esta reportagem especial, abraços e muito obrigado.
(*) A matéria apresenta a opinião das pessoas envolvidas.
Sidnei Rodrigues é
Bibliotecário formado pela FaBCI - FESPSP em 2014. Idealizador e Administrador
do Blog e Página no Facebook das Atividades Complementares FaBCI - FESPSP.
Atualmente trabalha numa Instituição de Ensino Superior, Consultor e
Coordenador de Implantação de Unidades de Informação. Contato pelo email: sidsapiens@hotmail.com
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