O Gabriel Justino voltou com sua coluna de escrita criativa! Dessa vez, venha conhecer o prólogo de "Bem vindos à Nova Pindorama", o início de uma história que ainda está sendo escrita.
BEM VINDOS À NOVA
PINDORAMA
Uma
chuva impiedosa se aproxima da Capital. No alto desse apartamento vejo que as
nuvens escureceram e estão muito carregadas. Os raios iluminam o dia que se
transformou em noite, e o ribombar dos trovões perturbam o silêncio em que
ficamos a observar embasbacados as primeiras gotas da chuva que despencam com
força na cidade e a castiga com sua fúria impiedosa.
Me
ponho a refletir “Laísa será que a Mãe Natureza resolveu castigar Nova
Pindorama por tudo o que aconteceu aqui? Ou será que está anunciando que tempos
sombrios estão para chegar e acabar de vez com a esperança e sonhos de nossa
nação?”
Nascemos com um desejo em nossos corações e
ansiamos realizar grandes coisas, mas é evidente que o significado disso nem
sempre fica claro. Às vezes demora muito
tempo para descobrirmos o propósito para o qual nascemos, e outras tantas, nem
descobrimos qual é a nossa verdadeira vocação. Acho que eu descobri a minha.
As Instituições sempre foram sólidas em meu
país, só que diferente de alguns lugares, cultuamos a nossa erudição acima de
tudo, por isso, nossa Capital foi planejada para demonstrar nossos
conhecimentos e poder. A construção faz nos lembrar a estrutura de uma árvore
sendo que nas raízes encontramos “A Biblioteca”, “O Arquivo” e “O Museu”, os
três representam os poderes de nossa sociedade.
A Biblioteca é o local onde se fazem as leis,
local onde todo o conhecimento é debatido e disseminado, não há uma criança
sequer em Nova Pindorama que não conheça esse lugar e suas enormes salas do
conhecimento.
O Arquivo é o local onde armazenamos todas as
informações de nossos cidadãos. É nele que está guardado quem é cada pessoa e
quem foi importante para o desenvolvimento do nosso país, todas as espécies
documentais passam por ele e sua missão é cuidar para que essas informações
preciosas estejam seguras e não caiam em mão erradas, além de ser o local onde
nos reunimos para as tomadas de decisões importantes para o país;
Por fim temos O Museu, local onde promovemos
nossa cultura e que tem por missão não nos deixar esquecer quem somos e para
onde vamos. É nesse espaço que aprendemos a lidar com o diferente, com aquilo
que não estamos acostumados e olhar sem julgamentos para o outro, afinal nossa
sociedade precisa viver em paz e harmonia.
No que seria o caule, encontramos os demais
prédios administrativos, sendo o “Palácio da Justiça”, o “Palácio do Poder
Central” e o “Palácio dos Poderes Auxiliares”. O Palácio da Justiça concentra
os togados, que executam e aplicam as leis, eles mantêm a ordem de nossa
sociedade, preservando a harmonia e buscando sempre o equilíbrio dela, sendo
guiados sempre pelo conhecimento oferecido pela Biblioteca e Arquivo. A missão
do Poder Central e Auxiliar é garantir a sustentação da sociedade é aqui que
são discutidas como se aplicará a igualdade de nosso povo e quem defenderá os
interesses de todos, mantendo o equilíbrio entre o homem e a natureza,
transformando o país em que vivemos no mais justo possível, esse poder é
comandando pelo Regente.
Os moradores que formam a sociedade, se
espalham pela cidade tal qual os galhos e folhas de uma árvore. Eles os responsáveis pela geração de novos
moradores e pela fiscalização dos poderes imbuídos em nossa sociedade, por isso
são obrigados desde cedo a aprender o funcionamento de nossa sociedade e quais são
as limitações de cada poder e são eles também os responsáveis pela escolha do
Regente.
Meus devaneios são interrompidos mais uma vez
quando vejo a natureza castigar através da chuva, sem piedade. a nossa cidade. Estou
escondida em um lugar onde jamais me procurariam, em um dos prédios renegados
pelo governo. Por que eu estou aqui? As
coisas aconteceram muito rápido, eu estava fazendo meu trabalho no arquivo,
cuidando de algumas informações, digamos, confidenciais, quando o meu melhor
amigo Fernando Cooper, o bibliotecário, veio me alertar que Nova Pindorama
estava sendo atacada, uma facção que enfrentamos desde a fundação de nosso
país, que infelizmente busca a nossa fonte de poder e que fica protegida em uma
das salas secretas do forte da biblioteca.
Com toda pressa Fernando invadiu minha sala
para que fugíssemos, pois esse novo ataque ao governo foi bem-sucedido e a
facção assumiu a governabilidade do país. Nossa sociedade começou a entrar em
colapso e entrou no jugo deles, tínhamos pouco tempo antes de partir, então bloqueei
as informações confidenciais do arquivo e da biblioteca, acionei o plano de
contingência e as informações estariam salvas até conseguirmos retomar a
normalidade. Se é que ela voltaria tão cedo.
— Laísa, teremos que ficar escondidos e torcer para que o guardião
proteja a fonte de poder de Nova Pindorama e acreditar que a facção não consiga
extrair os dados que precisam.
— Fernando, em minhas pesquisas, encontrei algo muito estranho. Descobri
coisas que o governo não queria que soubéssemos. Você sabia dessas informações?
Quando lhe fiz essa pergunta, ele ficou tenso,
parecia que sabia mais do que queria contar, mas agora não era hora para ele
esconder coisas de mim, afinal precisaríamos ajudar a recuperar o nosso país.
— Fernando?
— Laísa, aqui não é o lugar para discutirmos
isso. Temos muitos segredos é verdade, mas eles precisam existir para que
possamos viver em harmonia e paz, tudo que esse bando de arruaceiros quer é nos
dividir e expor nossos segredos para nos destruir.
— Que tipo de segredos? E por que escondê-los?
— Existem certos tipos de, digamos,
conhecimentos que não devem ser partilhados com todos. Você irá entender com o
tempo. Por mais livre que nossa sociedade seja, há certos tipos de segredos que
não devem ser revelados. Segredos esses que podem destruir-nos se cair em mãos
erradas.
— Você quer dizer que o Regente, escondia
segredos de nós?
— O que quero dizer é que o Regente, nos
protegia de segredos que não precisam ser descobertos. Pelo menos não ainda.
Você terá um papel muito importante nessa jornada. Já sabíamos que esse dia
chegaria e acredito que você saiba ao que estou me referindo.
Encosto a mão sobre a janela e me ponho a
pensar, sobre tudo aquilo que foi escondido, tudo que guardei e vi me mantendo
calada durante esse tempo todo. As coisas nem sempre são o que parecem ser.
Nova Pindorama nunca foi um país normal. Talvez aquela inscrição no Hall
principal da Biblioteca tenha algo com isso tudo. Será que o garoto tem algo a
ver com isso?
— Fernando só pode ser aquela inscrição na
biblioteca, é disso que você está falando? Aquela profecia imbecil de que
existe um outro mundo além-mar e que alguém poderia conduzir nosso país a
tempos de paz?!
— Exatamente aquela inscrição minha cara. E
você terá um papel muito importante para desempenhar nessa história, pois é
você quem vai conduzir esse processo de paz de Nova Pindorama. Mas você precisa
encontrar os dois conselheiros perdidos no mundo que é separado do nosso, que
se encontra nos limites do véu.
— Você quer dizer que o véu é verdadeiro?
— Sim, temos trabalhado nos últimos anos para
localizar os outros “Reinos”, possivelmente encontrar o que se havia perdido.
Há uma lenda que encontrei em um livro antigo, que conta a história de nossos
fundadores e como tiveram uma visão do futuro e do que aconteceria aos
descendentes deles.Ttemendo que a facção roubasse seus filhos e usassem contra
eles, acharam uma maneira de atravessar o véu e manda-lospara um outro Reino,
provavelmente é aos descendentes deles que a inscrição na Biblioteca se refere.
Mas só conseguimos ver um vislumbre desse outro Reino. Vá até a janela e
observe.
Não sei bem o que ele queria me mostrar, então
me aproximei da janela e esperei, a chuva permanecia forte, caía como uma
cachoeira impiedosa sobre a cidade, suas cortinas de água tremeluziam com o
vento. Numa fração de segundos do balançar da cortina de água eu jurava que
havia visto...
— Uma cidade. Sim o que você acabou de ver foi
a revelação do outro lado do véu, só conseguimos ver o que há por trás dele em
dias em que a chuva cai como uma cortina sobre a terra e quando o vento a
balança, podemos vislumbrar o mundo além-mar. Parece um reflexo de nossa
Capital, mas se reparar em alguns detalhes tem algo de errado por lá. Me parece
que não existe harmonia nenhuma entre a natureza e os homens e tudo é tão
caótico, não parece que seguem alguma ordem para que tudo flua perfeitamente
bem.
— Mas como isso é possível? Como chegamos lá?
— Não chegamos minha querida, apenas alguns
podem atravessar o véu em segurança e também ver o mundo além-mar. E devo dizer
que você é uma das poucas pessoas que ainda podem fazer isso. Acredito também
que Nova Pindorama a ajudará a atravessar o véu sem nenhuma dificuldade. Nossa
nação precisa de você. As coisas ficarão piores aqui e provavelmente não
tardará até nos acharem. Por isso teremos que partir para além do Rio dos Cristais
e chegar na entrada das Cataratas Ancestrais, onde se encontra o portão da
passagem dos dois mundos.
Nada fazia sentido, véu, conselheiros, a facção
tomando o poder de nossa nação e derrubado o Regente. A chave para o mistério
ser resolvido estava naquela inscrição da biblioteca:
Aqueles
que aqui chegarem
Devem
deixar sua sede de conhecimento os inundarem
Pois,
chegará um dia em que
Dias de
trevas e escuridão
A essa
terra assolarão
E isso
não mais poderão
Uma
somente será capaz
De deixar
o véu para trás
Encontrar
o que se havia perdido
Para nos
trazer a paz
O
conhecimento a guiará
E a
sabedoria repousará
E Nova
Pindorama em paz e esplendor se reerguerá.
Acredito que eu possa ser essa pessoa que
ajudará a estabelecer a paz, não sei bem o que fazer mas tenho que lutar por
aquilo que acredito. Fernando e eu agora corremos para não sermos capturados
por membros da facção, nem todos que encontrarmos pelo caminho são confiáveis e
precisamos utilizar toda nossa sabedoria para não cairmos em nenhuma armadilha.
Ouvi relatos que pessoas estão desaparecendo e sendo enviadas para lugares
secretos para serem interrogadas. Gostaria que as coisas fossem diferentes, mas
acredito que quando encontrar os conselheiros eles nos ajudarão a recuperar
nossa nação.
De uma arquivista a parte da resistência, fui
convocada para uma guerra da qual nunca quis que acontecesse, mas não
permitirei que sangue inocente seja derramado. Algo me diz que essa aventura em
busca dessas pessoas será longa, e que a facção não desistirá até que o poder
completo de Nova Pindorama esteja em suas mãos, pois assim que o obtiverem,
poderão forçar a entrada em outros Reinos para que todos estejam subjugados sob
o seu poder.
Acredito que queremos ter a liberdade para
viver nossas vidas da maneira que sonhamos, mas somos convocados a proteger este
portão que parece ter sido esquecido.
A opinião dos colunistas e dos relatos publicados não representam necessariamente a posição da FaBCI da FESPSP, ou de sua Monitoria Científica. A responsabilidade total é do(a) autor(a)do texto.
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