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Milionários que investem em bibliotecas



Você arriscaria um palpite que lugar é este da foto ao lado? Uma casa de shows, certamente.... um famoso teatro, talvez? Ou um grande ginásio de esportes em algum país europeu. Uma dica: ele foi financiado por um milionário da indústria do alumínio e fica dentro de uma universidade...





.... e que universidade: a Carnegie Mellon University, na cidade de Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, na costa leste dos Estados Unidos. Também conhecida como “cidade do aço”, foi fundada por um escocês,  General John Forbes, em 1758, em uma homenagem ao primeiro-ministro britânico William Pitt. A história relega à Pittsburgh muitas inovações de suas indústrias de alumínio, vidro e claro, aço, comandadas por famílias que investiram milhões neste complexo educacional. A doação para universidades, aliás, é uma tradição americana que explica parte do sucesso dessas instituições na terra de Steve Jobs.

A Carnegie Mellon University recebeu incontáveis somas da família Hunt. Roy Hunt, proeminente figura da indústria de alumínio da cidade, fez uma grande doação em 1961 que tornou possível a abertura da biblioteca que leva seu nome, no campus de Carnegie Mellon, propriamente instalada na avenida Forbes, e que é esta da foto ao lado. Para comemorar os 50 anos da Hunt Library, a fundação da família dos benfeitores, The Roy Hunt Foundation, presenteou a biblioteca com um sistema permanente de luzes que lhe dão esse porte de show business, como uma ação de reconhecimento explícito de sua importância para a Carnegie Mellon Universidade como um todo. O video abaixo foi feito para promover a efeméride:


Outra super biblioteca que investiu em design como diferencial real para seus usuários foi a da Universidade Estadual da Carolina do Norte (NCSU, na sigla em inglês), privilegiada com doações da família Hunt baseada no estado, que tem no ex-governador James B. Hunt Jr, seu maior benfeitor e que o homenageia. Em artigo publicado no Library Journal deste mês, Meredith Schwartz faz uma tour pela festejada biblioteca James B. Hunt Jr., aberta em janeiro deste ano,  para conferir se todo o hype em torno dela é só onda ou não. E ela admite: não é onda não, ela é absolutamente hype mesmo!

No vídeo abaixo, uma fantástica peça de marketing, podemos conhecer um pouco da história por trás dessa incrível biblioteca.

A Hunt Library da NCSU foi concebida para ser uma ponte interdisciplinar, um lugar onde as pessoas de toda universidade se encontrassem, de todos os cursos, como engenharia, têxteis e agricultura. Todos os cursos são de caráter muito pragmático, têm como foco resolver os problemas reais da sociedade em pesquisa, em detrimento de elocubrações intelectuais que não trazem benefício algum para a sociedade. O conceito de uma biblioteca tecnologicamente rica significaria ser flexível, crescer e se desenvolver à medida que as tecnologias se transformassem, e dessa forma fazer uma grande diferença na educação e na pesquisa dos alunos, garantindo-lhes uma vantagem competitiva em sua formação universitária. Além disso, o conceito da Hunt Library quer incutir-lhes a sementinha para se tornarem lifetime learners, ou seja, aprendizes para a vida toda.

  O grupo que venceu a competição de arquitetura e design do prédio foi buscar inspiração na Biblioteca de Alexandria, no Egito, preocupados não com a aparência da construção, mas sim em como as pessoas interagem e aprendem naquele espaço, em como se sentem e o que acham dele. Mantiveram a incansável busca por luz natural, comum à todo bom projeto de biblioteca, com paredes todas envidraçadas que dirigem a luz conforme o sol nasce e se põe, para aproveitar ao máximo a sua luminosidade e trazer para dentro das salas a belíssima geografia natural da região.

O prédio da biblioteca foi pensado para colocar a Universidade da Carolina do Norte na liderança do ensino superior americano em tecnologia de ponta durante muitos anos no futuro próximo, um pensamento altamente estratégico que teve a biblioteca como a ponta de lança.


O sistema erário americano impõe taxas altíssimas incidindo sobre grandes fortunas, o que estimula os milionários a fazerem suas doações em vida, construindo fundações e outros projetos grandiosos de benfeitorias e pesquisas em saúde. O debate sobre o financiamento de universidades com recursos de ex-alunos, empresas e fundações, como a The Hunt Institute, só acontece aqui no Brasil pontualmente, como da visita da presidente Dilma Rousseff ao Massachusettts Institute of Techonology (MIT) no ano passado. Nessas ocasiões, as boas notícias são ventiladas na grande mídia, como no caso da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) que lançou uma campanha para a nova biblioteca, arrecadando perto de R$ 300 mil de pessoas físicas (leia abaixo a matéria completa). Sem dúvida, seria muito bom ver isso acontecer com mais frequência e saber que os milionários brasileiros têm interesse em financiar a educação e a cultura..#ficaadica.



Diferentemente dos EUA, doação a universidade é rara no Brasil

Para especialistas, elite nacional não se sente comprometida com educação e futuro do país

Lucianne Carneiro
Publicado: 11/04/12 - 22h22
Atualizado: 11/04/12 - 22h27


RIO e SÃO PAULO — A visita da presidente Dilma Rousseff ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) e à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, abriu o debate sobre o financiamento de universidades brasileiras com recursos de ex-alunos e empresas. Prática comum nos EUA — onde os fundos, chamados de endowments, chegam a reunir mais de US$ 30 bilhões, como é o caso de Harvard —, a doação ainda é rara no Brasil, embora comecem a aparecer iniciativas pingadas. De acordo com o professor de Política Educacional da Faculdade de Educação da USP Romualdo Portela de Oliveira, há na elite dos EUA uma percepção de responsabilidade com a educação, e as doações são muito frequentes:

— No Brasil, temos coisas pontuais, isoladas, algo infinitamente menor. Nossas elites têm muito pouco compromisso com o futuro da nação. Há uma percepção de que isso é responsabilidade do Estado.

Em artigo publicado ontem no GLOBO, Elio Gaspari afirma que poucos dos bilionários brasileiros patrocinam filantropias relevantes, seja por avareza ou por temer má gestão dos recursos. Procurados pela equipe, alguns dos principais bilionários brasileiros (segundo a “Forbes”) não comentaram o assunto.

Para Oliveira, da USP, as doações a universidades refletem uma preocupação social e permitem ganhos para a educação. O Brasil, segundo ele, poderia aprender com o exemplo bem-sucedido dos EUA.

— Ainda que a universidade seja pública, e a maior parte do financiamento venha do governo, não há problema que empresas e pessoas ajudem na sua manutenção — diz.

Para o advogado Felipe Sotto-Mayor, diretor da Endowments do Brasil — que estrutura fundos para universidades —, ainda não há cultura de o brasileiro investir nas universidades que estudou:

— A elite brasileira estuda de graça aqui e doa para a universidade lá de fora, onde fez MBA.

A Fundação Lemann, por exemplo, criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, quarto homem mais rico do país, financia programas de gestão escolar e de bolsas de estudo em várias universidades do mundo. E assinou com a Capes acordo de cooperação para o programa Ciência Sem Fronteiras, que prevê a criação de uma rede de apoio aos bolsistas de pós-graduação de Harvard e outras cinco universidades americanas. O convênio foi assinado em Harvard, durante a visita de Dilma.

Burocracia e falta de estrutura dificultam

O fato de os recursos não serem bem utilizados é um receio de ex-alunos e empresas. Outra dificuldade é a burocracia e a falta de estrutura para as doações.

— Há casos de pessoas que tentam doar por aqui e encontram uma série de dificuldades — conta o professor da USP.

Pouco a pouco, no entanto, algumas iniciativas começam a aparecer. A Escola Politécnica da USP tem hoje dois fundos para receber recursos de ex-alunos e empresas. O primeiro deles foi organizado pela diretoria e estruturado pela Endowments do Brasil, e já arrecadou quase R$ 400 mil. O outro é o Fundo Patrimonial Amigos da Poli, criado por ex-alunos, com meta de levantar R$ 10 milhões até o fim do ano.

— Queremos retribuir para a Poli tudo que recebemos e contribuir para seu crescimento. Já conseguimos R$ 5 milhões — diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, acrescentando que universidades como Yale e Harvard têm mais de um fundo.

Além do fundo da Poli, a Endowments do Brasil também é responsável pelo projeto do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP. E negocia hoje com uma universidade do Rio e com a Faculdade de Direito da FGV de São Paulo.

— É mudança lenta. Para formar um fundo, porém, é preciso negociar com possíveis doadores e diferentes áreas das universidades — diz Sotto-Mayor.

Em outras universidades, ainda que não haja fundos organizados, iniciativas começam a ganhar fôlego. A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) lançou uma campanha para equipar sua biblioteca, depois de grande ampliação da unidade. Quase R$ 300 mil da meta de R$ 1 milhão já foram arrecadados de pessoas físicas. Outros R$ 700 mil, de um total de R$ 7 milhões, vieram de empresas, pela Lei Rouanet.

— Conseguimos R$ 8,5 milhões com o governo para obras físicas. Mas decidimos fazer essa campanha para equipar a nova biblioteca e movimentar a cultura de doação — diz o diretor da FEA/USP, Reinaldo Guerreiro.

O Instituto Coppead, da UFRJ, por sua vez, tem seis cátedras patrocinadas por empresas — Ipiranga, L’Oréal, Amil, Fiat, Visagio e Organizações Globo.

— As empresas financiam essas cátedras permitindo mais investimento em pesquisa, sem contrapartida — diz Kleber Figueiredo, diretor do Coppead.

* COLABORARAM: Ronaldo D’Ercole e Lino Rodrigues

Uma tradição de séculos

As doações de milionários, ex-alunos e empresas são parte fundamental do orçamento das universidades americanas e estão até mesmo na origem de muitas dessas instituições de ensino.

— As doações são muito importantes na cultura americana e constituem parte substantiva dos orçamentos das universidades — afirma Romualdo Portela de Oliveira, professor de Política Educacional da Faculdade de Educação da USP.

Oliveira explica, por exemplo, que a Cornell University foi criada em 1865, com a doação do empresário Ezra Cornell. Hoje, o fundo da universidade reúne US$ 5,059 bilhões.

Para se ter uma ideia, o valor dos dez maiores fundos de universidades americanas, os endowments, ultrapassava US$ 140 bilhões no ano passado, segundo dados do Instituto de Ciências da Educação dos EUA. O maior dos fundos é o da Universidade de Harvard, com US$ 31,728 bilhões. Os recursos patrocinam desde projetos de pesquisa, construção de salas ou prédios até bolsas para alunos.

As universidades americanas estão totalmente organizadas para receber esses recursos. Há setores que trabalham especificamente para entrar em contato com ex-alunos e organizar encontros para “passar o chapéu”. Além disso, os alunos são constantemente informados dos projetos e unidades financiados por esses fundos.

— Os endowments permitem que as universidades cresçam ainda mais. Universidades como Yale e Stanford têm muitos fundos diferentes que acumulam patrimônio e contribuem fortemente para os projetos — diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, da Escola Politécnica da USP.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/diferentemente-dos-eua-doacao-universidade-rara-no-brasil-4622107#ixzz2fdERPbJZ
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