Na
sexta-feira, 31 de janeiro, a Comissão da Verdade da FESPSP encerrou a semana
de recepção dos calouros de 2014 com Luiza Erundina debatendo os 50 anos do
golpe de 1964. A aluna Magali Machado de Almeida (monitora científica 2013) fez
um relato do que rolou no debate.
No
ano em que o Brasil relembra o golpe militar de 64, que instaurou a mais longa
ditadura no país, em uma terceira quebra da democracia que aboliu violentamente
direitos políticos, sociais e civis, o clamor de todas as manifestações e
eventos referentes à triste efeméride é um só: que o acontecimento nunca mais
se repita.
Para
garantir essa minimização do risco, as gerações que viveram este último regime
de exceção brasileiro apostam todas as suas fichas nos jovens de hoje, expondo
a todos eles as mazelas e consequências de dias turbulentos e cruéis. A
informação como arma estratégica neste embate é o argumento inconteste para o
convite à discussão e novas proposituras de ação.
Alinhados
com esta visão, os centros acadêmicos da FESPSP fecharam na última sexta-feira
a semana de recepção aos calouros de 2014 reverberando a importância de se
levantar questões daqueles anos para o melhor entendimento de nossa realidade e
vivência democrática.
Sob
a coordenação do aluno de Sociologia Dyego Oliveira, da Comissão da Verdade da
FESPSP, o Centro Acadêmico Florestan Fernandes (CAFF), representado pela aluna
de Sociologia Mayara Amaral, e o Centro Acadêmico Rubens Borba de Moraes,
representado por Eliana Gaiga, aluna de Biblioteconomia, recepcionaram a
Deputada Federal Luiza Erundina (PSB-SP) à mesa temática “50 anos do golpe de
64: Nunca Mais!”.
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Da esquerda para a direita: Eliana Gaiga, Dyego Oliveira, Luiza erundina e Mayara Amaral. |
Em
sua fala, Luiza Erundina repassou os principais eventos de sua trajetória
política, desde sua atuação junto aos trabalhadores rurais no sertão paraibano
no final dos anos 60 como assistente social militante pela reforma agrária até
sua chegada à São Paulo na década de 70 para atuar como assistente social da
prefeitura. Em princípio, pensou ter abandonado a luta da reforma agrária de
seu estado natal, mas, trabalhando junto aos moradores dos cortiços e favelas
da capital, entendeu que a questão agrária continuava na agenda de sua luta
política, com os imigrantes nordestinos, como ela, como protagonistas.
Sofreu
perseguições políticas com o golpe de 64 que a impediram de atuar plenamente na
carreira acadêmica. À época de seu mestrado em Sociologia na FESPSP, em
1968/69, militava profissionalmente e estava ligada apenas à Pastoral da Terra,
segmento da Igreja Católica em oposição à ditadura, no “rescaldo das Ligas
Camponesas”, como explicou ao público.
Luiza
Erundina criticou novamente a Lei da Anistia pois “anistiou todo mundo”,
beneficiando também aqueles que torturaram, estupraram e assassinaram. E
afirmou que os relatórios finais das Comissões da Verdade no país inteiro, ao
apontarem os responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, devem se converter
em processos judiciais para se fazer justiça às vítimas desses atos cruéis.
A
Deputada terminou sua fala elogiando os centros acadêmicos da FESPSP por
destacaram a importância de se fazer política e que os jovens que estão na rua
“não são os black blocks, mas sim, jovens indignados que não aguentam mais a
mesmice e querem protagonizar a história.” E atualizou o cenário: “Isso não é
só para reparar o que aconteceu no passado, é para reparar o que acontece hoje
nas delegacias de polícia. Os jovens desaparecem, as torturas que acontecem
todo dia, os “amarildos” da vida, e outros tantos, sem se dar sequer
satisfação. A polícia mata adoiado e não acontece nada. E os comandantes,
superiores e governantes dizem “Vamos apurar”. E nunca apuram coisa nenhuma.
Porque quem morre é o filho do pobre, é o negro, é o jovem. E isso é resquício
de um período militarista”, concluiu Luiza Erundina, entre aplausos da plateia.
Saiba
mais sobra a Comissão da Verdade FESPSP e participe:
A
Comissão da Verdade FESPSP foi instalada em junho de 2013, em consonância com o
mesmo movimento em outras instituições educacionais públicas e privadas, com o
fim último de apoiar a Comissão Nacional da Verdade.
Desde
então, a Comissão tem reunido documentos em arquivos públicos, como o arquivo
do DOPS e o Centro de Documentação da FESPSP, que retratassem qual foi a
participação da instituição no período da ditadura militar e, diferentemente de
outras escolas, a Comissão quer lançar luz nos escusos financiamentos
estabelecidos.
Entre
os casos a serem investigados está o teor do convênio que a FESP fez com a
Escola Superior de Guerra e a intrigante presença de um capitão do exército
americano, altamente graduado, entre os alunos de Sociologia. Charles Rodney Chandler
foi morto em 1968, na porta de sua casa, no bairro do Sumaré, justamente quando
estava indo para sua aula na FESP. Qual seria sua ligação com a instituição?
Apoio
dos alunos e profissionais de Biblioteconomia
A
Biblioteconomia da FESPSP, representada pela coordenadora do curso, Professora
Doutora Valéria Valls, dará apoio à Comissão na pesquisa dos documentos, com
coordenação do Professor Francisco Lopes Aguiar. O CEDOC da FESPSP e o CA
Rubens Borba da Moraes também participam do processo e o convite está a aberto
a todos os alunos da graduação e da pós que tenham interesse em auxiliar nesta
fase de investigação.
Ficou
interessado? Então confira os links abaixo que falam mais a respeito do golpe
de 64:
Colaboração da matéria: Magali
Machado de Almeida.
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