Aquarius (2016)
Por Renato Reis. 20.06.2017
Sabem daqueles filmes que te marcam
pro resto da vida? Que vocês se lembram em qualquer momento de sua vida
pessoal, onde há pequenos sinais ou símbolos capazes de recordarem suas cenas...?
Pois, é... Aquarius deixou sua marca
no meu coração.
Aquarius (2016)
|
Dirigido por Kleber Mendonça Filho
(mesmo diretor do gigantesco e importantíssimo O Som ao Redor (2012)), o filme arrebata questões necessárias para
os dias atuais. Faz críticas ácidas e sutis ao mesmo tempo à (con)vivência em
família, a questão do capitalismo selvagem, principalmente a supervalorização e
a exploração de imobiliárias e empresas de engenharia – a todo custo – sobre o
território privado e até a desigualdade social.
Bom, galera, o filme se trata da
vida e história de Clara (Sônia Braga lindaaaaaa!), renomada jornalista
aposentada e viúva. Mulher super cult
que até se perde de forma única e singular no próprio conhecimento e em seus
pensamentos. Sua mente viaja pelo passado, fazendo comparações sublimes (mas
não banalizadas) à sociedade em que vive atualmente, e mergulha em reflexões
profundas do que acontece no presente. Por muitos ao seu redor, ela pode ser
vista como uma pessoa ultrapassada, antiquada, mas é MUITO mais contemporânea,
“pra frentex”, do que parece! Ela arrasa corações e ainda sai ganhando em sua
razão, com sua perspicácia e inteligência sem fronteiras.
É encantador como se
pode perceber o jeito dela pensar em si mesma, sobre sua sexualidade, sua
inteligência, como pensa na família, na sociedade ao seu redor e no espaço
físico em que vive e convive com outrem. Ela, ao meu mais sincero ver, é a
personagem mais encantadora. Meu Odin, Clara, como quero ser você quando
crescer!!!
O filme se divide em três partes,
seguindo essa personagem, valorizando sua trajetória e usando-a como ponto
principal que se conecta às diversas outras questões.
Fica claro desde o começo do filme
a sua ligação sentimental, familiar, com o apartamento onde vive, na praia de
Boa Viagem, localizada na Zonal Sul de Recife, PE. É como se o ambiente fosse
parte dela, uma extensão do seu corpo e de sua alma, o que é muito bem
representado no filme. Afinal, sua família (pais, filhos e netos) nasceram e
cresceram nela. Sua família é sua raiz mais forte que pode ser encontrada no
enredo do longa.
É aí que entra Diego (espetacular
papel de Humberto Carrão!) e Geraldo Bonfim (Fernando Teixeira), espécie de
diretores da construtora Bonfim, que começa a “diluir” o valor humanitário ao
espaço físico do Aquarius, prédio onde Clara sempre viveu e ainda vive, e
supervalorizando-o - ou melhor, especulando, né...! - seu valor econômico.
Detalhe importante: a única moradora do prédio ainda é a Clara. A partir disso,
eles farão de tudo para que Clara deixe suas raízes para trás, tentando fazê-la
vender o apê por espontânea vontade. É realmente uma biografia do Brasil, quase
um documentário mega astuto e sábio.
Todo o elenco está maravilhoso!
Todos mereceram demais pisar em Cannes no ano passado (2016)!! Não cito todos
porque estão todos realmente excepcionais em seus papéis, em sua atuação. Fora
a lembrança que temos dos atores de suas personalidades mesmo, né?! Como
esquecer aquele protesto de toda a equipe presente em pleno tapete
vermelho/escadaria do festival de Cannes contra o governo golpista que
vivenciamos a partir de 2016.
Um filme de crítica feroz e justa
ao Brasil. Abre as portas da nossa miséria para que o mundo veja, para que a
vergonha seja sentida por todos e que essa se torne uma digna revolta em pró de
um futuro melhor a todos que compartilham dessa terrinha mágica e deliciosa.
Ademais, um longa feito com muita coragem e com sangue quente de quem participou
dele e o produziu. Um filme de fortes que passa força e muita emoção a quem o
assiste.
TÁ DISPONÍVEL ONDE!?!? DVD e Acervo FESPSP
Comentários
Postar um comentário