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Série: Era Uma Vez... Por Gabriel Justino de Souza.



E está de volta a série: Era uma vez..., contendo poesias e contos autorais advindos da inspiração do querido aluno do 6º Semestre/Noturno, Gabriel Justino. Como encerramos o semestre conhecendo a história da aspirante a bailarina a simpática Sophie, segue a 2ª parte desse conto pra lá de encantador. 



  
Sonhos (Parte 02) 
 

Ufa! Finalmente consegui sentar, organizar as ideias e poderei escrever um pouco mais da minha história. Não é fácil não, lembro de quando me despedi dos meus pais e cheguei a esta cidade barulhenta, corrida, imensa, insana e ficaram para trás os pacatos dias de tranquilidade da minha cidade. A casa da minha tia fica afastada do centro da cidade, mas nada que um ônibus e um metrô não deem jeito. Moro com ela, com meu tio e com os meus primos, Marina e Carlos, dois jovens que também lutam para conquistar seus sonhos e que se tornaram meus irmãos e participam comigo das peripécias de morar em uma cidade grande. A Marina tem 21 anos e sonha em se tornar uma contadora de renome e já está no 3°ano da graduação, já Carlos têm 20 e pretende ser um músico profissional, ele toca violino desde os 7 anos, quando descobriu sua paixão pela música. Foi através de Carlos que conheci a dança, em uma visita dele com os meus tios, ele tocou uma peça chamada Valsa das flores.

— Sofi, gostaria de mostrar para você a nova música que aprendi no conservatório. É de um compositor russo chamado Tchaikovsky...
— Tchai quem?
— Parece estranho eu sei, mas o nome dele é Tchai-ko-vs-ky.
— Ahhhhh. —Esse foi o momento que não entendi nada, mas fiz aquela cara de que estamos entendendo tudo e que sabia quem era esse tal Tchaikovsky — e qual música você vai tocar?
— Vou te mostrar a Valsa das flores que faz parte da peça do “Quebra-nozes”.

Ele se preparou, posicionou o violino e começaram a soar aquelas doces notas melodiosas que me desconectaram por um tempo e me fizeram viajar por lugares distantes, onde os sonhos se realizam, me senti flutuando e meus pés já não queriam sentir o chão queriam se mover e desafiar a gravidade, pulando e rodopiando. Quando ele terminou, fiquei curiosa e perguntei a ele como se dançava, pois gostaria de externalizar meus sentimentos na dança assim como o compositor o fez nas notas.
— Sofi, eu sei que você gosta de dançar. Por que você não se inscreve no Instituto de Dança Anna Pavlova? Lá você poderá aprender o ballet e conseguir uma bolsa, e talento prima você tem, para ingressar no Instituto e ser uma das melhores bailarinas. Eu acredito nisso. Acredito em você.

Depois que Carlos e eu tivemos essa conversa comecei a pesquisar sobre o ballet com o intuito de aprender mais sobre essa dança que tão pouco conhecia, mas que me fascinava e encantava. Aprendi sobre o ballet romântico que surgiu no período do romantismo e consiste numa dança mais suave e com o envolvimento romântico, tendo a magia e a delicadeza dos movimentos, no qual a protagonista, apaixonada, representa fragilidade. O ballet clássico o qual consiste em uma série de movimentos complicados, como giros e movimentos que se adequem a história, é o que mais exige dos bailarinos porque exige muitas habilidades técnicas. E finalmente descobri o ballet contemporâneo que preserva alguns passos do clássico, mas que possui movimentos mais harmônicos e delicados dando ênfase aos movimentos corporais. Quando penso nestes estilos meu coração pulsa mais forte de tanta alegria, dá vontade de parar de escrever e sair por aqui na rua, mostrando aos vizinhos como é maravilhoso poder dançar.

Quando tomei a decisão de ir para a cidade grande, foi quando começaram as inscrições para se candidatar para dar início as aulas em período integral no Instituto, meus primos me ajudaram naquele cômico dia.

Tinha que fazer minha inscrição no Instituto logo pela manhã, precisamente até as dez e meia, e Marina e Carlos se disponibilizaram para me acompanhar, já que titia e titio estariam trabalhando neste horário.

As vezes parece que quando estamos ansiosos por algo, sempre pode acontecer coisas no mínimo curiosas, que podem nos fazer pensar “essa situação não pode piorar”, mas com toda a certeza as coisas sempre podem piorar. Na noite anterior tinha chovido muito, e infelizmente a rede elétrica não aguentou tanta carga dos raios, o que desestabilizou o sistema elétrico, fazendo com que a luz acabasse, e qual foi a consequência? Isso mesmo, os despertadores não funcionaram. Aí você pode pensar: mas e os celulares? “Não carregaram e ficaram no mínimo do mínimo, desligando antes do despertador nos acordar”. Quando menos espero, Marina vem com todo aquele cabelo desgrenhado, pulando em cima de mim.

— Sofi, Sofi! A luz acabou! Estamos quase super atrasadas para fazer sua inscrição no Instituto. A luz voltou agora, e quando olhei no relógio já eram oito horas, temos trinta minutos para nos arrumarmos, tomar café da manhã, isso se conseguirmos, e ir correndo para o ponto de ônibus para chegarmos lá no horário. Já coloquei nossos celulares para carregar, já que com a queda de energia eles morreram. 

— Aaann? Deixa eu dormir mais um pouquinho! — quando acordamos sempre queremos ficar mais um pouco na cama e os pensamentos ficam meio enevoados, foi quando os meus pensamentos começaram a entrar em foco. — Ahhh meu Deus! A inscrição. Tenho que tomar um banho precisamos correr Ma. Temos muitas coisas para fazer. Temos que acordar o Carlos para ele ir junto conosco.

Foi uma loucura, Carlos como sempre foi muito prático, em 20 minutos tomou o banho dele, se arrumou e ainda tomou café da manhã. Eu e minha prima por outro lado, fizemos só o básico, conseguimos tomar nosso banho, secar o cabelo, passar a chapinha, o prime, a base, o corretivo, o pó, o rímel, o blush e um batom básico. Claro que não conseguimos tomar café e saí morrendo de fome, com Carlos reclamando que nunca entenderia o porquê de demorarmos tanto, mas ele nunca entenderia o que se passa na cabeça de uma mulher.

 Até que o ônibus não demorou, assim que chegamos no ponto de ônibus passou uns cinco minutos e lá vinha ele, quando entramos, quase todos os lugares estavam ocupados, ainda bem que consegui um lugar perto da janela. Mais ou menos na metade do caminho, o motorista deixou entrar um senhor simpático, que começou a distribuir uns salgadinhos para todos os passageiros. — Nossa que senhor bondoso, eu logo abri meu salgadinho e comecei a comer, sabia que na cidade grande as pessoas tinham um bom coração, e ainda mais naquele dia que estava tão necessitada, porque estava morrendo de fome. Parei de comer quando aquela alma caridosa, ficou em pé lá na frente do ônibus e começou a discursar.

— Senhores passageiros, deixei em suas mãos o produto da melhor qualidade, é o salgadinho Mimi, o salgadinho que sacia sua fome e tem todos os nutrientes que você precisa consumir em uma refeição. Um pacote está saindo por R$2,00 e 3 pacotes por R$ 5,00...
Ai meu Deus, o que fiz?! Estava sem dinheiro, estava lisa, dura e desimpedida e se me virasse de cabeça para baixo não cairia uma moedinha do meu bolso. Mais em que situação fui me meter. Como iria pagar? Já tinha comido quase todo o produto do homem. Isso que dá acreditar na bondade das pessoas. Marina só olhou para mim e começou a dar risada, acho que ela não tinha dinheiro, ela veio até mim.

— Prima como você foi comer quase todo esse salgado? Você não sabia que não era de graça?
— Ai Ma! Achei que aqui na cidade grande vocês tinham empatia, como ele deixou no meu colo, achei que ele estava sendo gentil e distribuindo para as pessoas o salgadinho, e como estava com fome, comi.
— Pior que estou sem nenhum centavo, mas acho que o Kaká deve ter. Ele sempre anda com dinheiro.

Olhamos para o Carlos com aquela cara de súplica pedindo que ele nos ajudasse, e assim como a Ma tinha dito, ele sacou algumas moedas da carteira e me deu. Acho que estava muito vermelha, pois ele não parava de rir e ainda disse que daquela vez passava, mas da próxima eu pagaria de volta o dinheiro. Que situação que cheguei. Que mico. Olha onde a nossa inocência e acreditar na bondade das pessoas nos colocam. Pelo menos consegui pagar o moço simpático.

Depois disso, conseguimos chegar no nosso ponto, pegamos o metrô e caminhamos poucos metros até aquele prédio de tirar o fôlego (que não narrarei agora para vocês como era), e que quase me perdi para chegar na secretaria, onde vi que várias meninas, adolescentes, jovens e adultas estavam esperando para fazer a inscrição. Segurei meus documentos nas mãos até chegar minha vez, quando entreguei meus documentos, a moça na recepção já marcou a data da minha audição.

— Muito bem Sophia, você está participando do processo seletivo aqui no Instituto de Dança Anna Pavlova, sua audição está marcada para daqui uma semana neste mesmo horário, três professores do Instituto a avaliarão. Você terá que preparar uma dança com no mínimo 1 minuto e no máximo 2 para apresentar-se. Se for uma das melhores candidatas será concedida uma bolsa de 100% para você. Boa sorte!

E minha saga continuava, afinal tudo dependia de como seria a audição e tinha que me preparar e dançar como jamais havia dançado para que os jurados, pudessem ver que minha alma estava presente na minha dança. Claro que a Ma e o Carlos me ajudaram na seleção da música e foram muito críticos. Mas agora não posso dar detalhes, tenho que correr para o ensaio e me dedicar muito mais. Abraços e beijos de sua querida Sophia.


Comentários

  1. Dom, colaboração, oportunidade e determinação. Gabriel e Sophia têm de sobra. Muito bom! Obs. Gostei do nome da prima da futura bailarina. Abraços

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  2. Tem certeza que a Sophia é uma personagem? Ao ler, acredito mesmo que é uma linda menina interiorana contando sua história! Parabéns, Gabriel, você é um orgulho para nós!

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