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Coluna: Admiráveis Bibliotecas Comunitárias: o senso-crítico dos lideres comunitários. Por Sidnei Rodrigues de Andrade.


Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas

Saudações, Profissionais da Informação.

Prazer em revê-los novamente, desejo para todos vocês um excelente ano de 2017 com saúde, determinação e força de vontade em seus objetivos e projetos profissionais e pessoais.

A primeira reportagem deste ano é uma Unidade de Informação Social que está localizada no bairro do Jabaquara - Vila Fachini  na Zona Sul da cidade de São Paulo: Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas. Fiz a visita presencial no dia 4 de Fevereiro – Sábado às 13h00, para conversar com os principais líderes e articuladores desta biblioteca comunitária.

Segue a entrevista com as perguntas-temáticas padrão desta coluna, conforme dinâmica conhecida pelos leitores e que apresentamos aos novos, e as respostas com interpretações parafraseadas pelo autor da coluna com base nas reflexões e senso-crítico dos articuladores e gestores da biblioteca comunitária entrevistada. 


1-) O que é a Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas?

É uma atitude bem simples que foi idealizada pensando no desenvolvimento emocional e social da comunidade. Em 2010, a gestora da biblioteca que leciona nas instituições escolares públicas e que sempre teve um amor pelos livros, iniciou a formação do acervo em sua casa, sendo um conjunto que agrega às pessoas, tendo sua aprendizagem na Escola da Vida e a na memória afetiva e social delas.

Fonte: Facebook 

2-) Contextualize esta Biblioteca Comunitária?
O Grupo Editorial Beco dos Poetas começou pela idealização de uma comunidade literária na rede social Orkut em 2007, cujo objetivo era agregar e compartilhar novas tendências literárias brasileiras. A partir deste movimento literário-virtual, conseguimos inúmeras conquistas, por exemplo, sair da comunidade orkutianapara uma plataforma NING (que é o nosso site atual).
Com a realização e o funcionamento definitivo do site literário independente, apareceram vários parceiros literários, chamando à atenção da comunidade local, surgiu então, a independência editorial: Grupo Editorial Beco dos Poetas Ltda. que se transformou numa grande Rede Social Literária de Autores Independentes.

Fonte: Facebook 

Com as principais mídias sociais (Facebook, Site Literário, Blog e Twitter) fizemos uma integração num simples canal de comunicação, a partir disso, veio a ideia e a necessidade da criação deste coletivo literário independente, que contém em nosso catálogo: antologias, obras solos, livros digitais... chegando a aproximadamente 103 títulos.
Em Agosto/2010 tínhamos um “pequeno acervo” de livros, e a partir da observação da gestora da biblioteca comunitária Maria Jeremias, teve-se a brilhante ideia de criar uma Unidade de Informação Social dentro de sua casa. Havia acúmulo de livros, entretanto não sabíamos: Qual era o destino daquele acervo? Então resolvemos emprestar os livros para a comunidade e elaborar um espaço comunitário que podia ouvir a necessidade informacional dos moradores do bairro.
No desenvolvimento desta biblioteca comunitária, fomos aos poucos elaborando as primeiras estantes pelo site de compra OLX, planejamos atividades culturais, como por exemplo: pintura, artesanato, aulas de flauta e etc. Por que fizemos isso? Observamos que não havia uma preocupação do Estado em ouvir a necessidade informacional da comunidade, e apresentamos alguns livros que estavam relacionados com alguns problemas do cotidiano educacional e social do bairro.
Por isto, é um ato de regaste de memória social, principalmente dos jovens que vemos que estão totalmente “perdidos” e não sabem onde querem chegar, além de fazer algo para todos nós da sociedade civil. A idealização do Grupo Editorial e o surgimento da biblioteca comunitária deram o nome desta Unidade de Informação Social de Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas.


Fonte: Biblioteca Comunitária "Beco dos Poetas" 

 
Aos poucos a comunidade local foi percebendo que estávamos agindo por todos eles, que aquela atitude não era um “programa de assistencialismo” do Estado, muito pelo contrário, somos seres humanos e queremos viver. Através disso, conseguimos um feedback das crianças, jovens e da própria comunidade que queria cada vez mais participar.  Em Outubro/2010 como diz um ditado popular: “Quem planta o bem, colhe o bem”, fomos homenageados pela Câmara Municipal de São Paulo e recebemos o premio de incentivo a cultura Milton Santos
 
3-) Quais foram as maiores dificuldades da Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas?

 Uma das maiores dificuldades da biblioteca comunitária foi trazer a comunidade para dentro desta Unidade de Informação Social, por que as pessoas pensam que o objeto livro é um fantasma que jamais vão aprender a se relacionar, que isto não é importante para sua formação educacional e social. Isso acontece por que a metodologia das instituições escolares públicas em relação ao incentivo à leitura e ensino-aprendizagem está totalmente ultrapassada.
O processo de empréstimo de livros foi muito difícil, não havia uma disciplina na devolução dos livros e algumas famílias do bairro achavam que ler era muito chato, isto desestimulava as crianças e os jovens a frequentarem a nossa biblioteca comunitária e com isso houve um enorme extravio de livros.
O senso comum prevalece ainda na subjetividade do cidadão brasileiro contemporâneo, as pessoas estão observando e analisando as informações e querem ver mudança neste contexto brasileiro para melhor. Aos poucos esta mentalidade de alienação cultural e social está se transformando, havendo uma confiança entre nós do Coletivo Beco dos Poetas e a comunidade local.


4-) Como está a Educação Continuada dos Gestores da Biblioteca?
O processo da educação continuada dos gestores e articuladores está assim: Maria Jeremias é apresentadora do sarau literário, gestora da biblioteca comunitária, formada em Bacharel em Letras pela Faculdade Piratininga, faz cursos online pela Unicamp de Letras e leciona nas instituições escolares públicas da região. Marcio Marcelo é formado pela UNINOVE em Banco de Dados e é Gestor Editorial do Beco dos Poetas. Henrique Souza Santos é professor de Filosofia e Gestor de Conteúdo Informacional do Beco dos Poetas. Todos nós fazemos eventos literários como o Sarau Literário Beco dos Poetas uma vez por mês em um fim de semana. 
 
Fonte: Biblioteca Comunitária "Beco dos Poetas"

5-) O que os líderes comunitários observam sobre a Biblioteconomia (Biblioteca Escolar, Biblioteca Pública e a Biblioteca Comunitária) na Sociedade Brasileira Contemporânea?

 
A Biblioteca Escolar em Instituições Escolares do Estado são apenas espaços escondidos de guarda de acervo. Os alunos não sabem onde podem encontrar os livros para que possam aperfeiçoar suas habilidades e competências. Por meio disto, desconhecem nossos escritores brasileiros da literatura periférica. Somente em Instituições Escolares particulares há uma preocupação no desenvolvimento do acervo que ajuda aos alunos e professores a trabalharem em conjunto na sala de aula.
Por que as crianças e os jovens brasileiros atualmente não têm hábito da leitura e pesquisa? As formações dos acervos da Unidade de Informação Escolar Pública não ouvem nem atendem a necessidade informacional deste público local, para a seleção dos livros, não há um profissional da informação (Bibliotecário) que faça este processo de análise e critério, há uma enorme distância entre a biblioteca escolar e o contexto contemporâneo.
O acesso à internet afastou ainda mais este processo de mediação educacional-cultural na formação de um cidadão consciente e engajado. Outro problema observado é que não há um diálogo entre livros e leitores, por que a aquisição do acervo é feita pela quantidade ao invés da qualidade na disseminação da informação, não havendo uma mediação entre mercado de trabalho e a Escola da Vida. Alguns profissionais da educação não têm habito da leitura, por que sua carga horária é alta demais.
A Biblioteca Pública soube fazer divulgação do acervo nas mídias sociais, porém há uma baixa frequência do público local por conta do acesso à internet e ainda prevalece o ato tradicional do “silêncio na biblioteca”, não é aconchegante e é totalmente fria, há uma enorme ausência do investimento do Estado, mas para recuperar a confiança da comunidade, deveria promover eventos culturais como: saraus literários e mediação de leitura.  Procuramos a Unidade de Informação Pública em nosso bairro para realizar uma parceira, não houve interesse por parte deles.
A Biblioteca Comunitária é um ponto de luz na escuridão deste caos. É a mediação educacional e cultural, a união perfeita entre a família, a sociedade e o conhecimento. Tivemos ao longo do projeto de implantação da nossa biblioteca comunitária vários parceiros que ajudaram muito, um deles foi o ativista cultural Paulo Machado. Para definirmos em poucas palavras o objetivo desta Unidade de Informação Social, podemos elencar as seguintes: necessidade da comunidade.
Sempre pensamos na comunidade, jamais podemos esquecer nossas origens, temos uma filosofia da biblioteca pública que é de aplicar um conceito pedagógico, que é muito conhecido por especialistas em educação: Construtivismo. O Museu da Pessoa é um exemplo e referência para todos nós, pois tem a preocupação em preservar a memória das pessoas que ajudaram a construir sua comunidade.

6-) Qual a “imagem” que vocês têm do Bibliotecário? 

A imagem do bibliotecário que observamos em algumas Unidades de Informação ainda prevalece sendo àquela da senhora da biblioteca, com viés de conservadorismo que sempre solicita “silêncio” no ambiente que deveria ser de aprendizado e compartilhamento de ideais. Por outro lado, vemos alguns profissionais da informação fazendo seu papel de mediadores do conhecimento, apresentando vários caminhos alternativos em suportes informacionais desde papel até o digital. Ele precisa ser um “facilitador” neste oceano desconhecido da informação, tendo como principais habilidades e competências ser educador, polivalente, gestor, contador de histórias e referência nas mídias sociais.  


Fonte: Biblioteca Comunitária "Beco dos Poetas"

7-) Como está a Educação no Brasil neste Século XXI?
É tão complexo responder esta questão, podemos definir em dois simples adjetivos dizer que a educação brasileira é louca e confusa. Observamos que alguns profissionais da educação possuem várias ferramentas informacionais de excelente qualidade, que poderiam ser úteis para os alunos em sala de aula, mas alguns “educadores” não têm o hábito e/ou habilidade de utilizar as tecnologias de Informação enquanto outros sabem usar com determinação e muita força de vontade estes instrumentos tecnológicos.
A família não tem o hábito de incentivar suas crianças e jovens a buscarem novos conhecimentos, sobra apenas para as Instituições Escolares Públicas e Privadas atenderem a necessidade informacional efetiva desta comunidade já que para o Estado a maior preocupação é o resultado quantitativo e financeiro, por isso que há um alto índice de desemprego neste contexto contemporâneo. Uma grande parcela da sociedade não tem uma estrutura financeira totalmente sólida, o investimento em aspectos de infraestrutura e materiais é muito caro dentro do orçamento familiar, isto é a principal causa de alguns deixarem de acreditar na educação como forma de desenvolvimento econômico e social. 

8-) O que os líderes da Biblioteca Comunitária pensam sobre o futuro das crianças e jovens no Brasil?
O Brasil precisa aprender a mudar a mentalidade em alguns setores da sociedade civil. Há muita liberdade de escolha pelo acesso ao conhecimento e educação, mas a pergunta que todos nós queremos saber dos jovens brasileiros é a seguinte: Qual o caminho e o legado que vocês vão deixar para as próximas gerações? Ainda não chegamos ao futuro, mas uma solução bem simples que todos juntos podemos fazer para mudar o roteiro desta história de vida é: ler sempre!

Mais informações, acesse estes links:


Quero agradecer em primeiro lugar aos líderes e articuladores da Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas: Maria Jeremias pela atenção e compreensão, Marcio Marcelo por explicar todo processo e gestão administrativa cultural da biblioteca e do grupo editorial e Henrique Souza pela análise do conteúdo informacional do coletivo educacional e social da biblioteca comunitária. Esta entrevista foi sensacional, mas quero novamente agradecer agora à todos vocês que estão lendo esta série de reportagens.

Na próxima teremos mais histórias para aprender e refletir sobre estas Unidades de Informação Social que transformam os seres humanos em pessoas melhores.
 Até a próxima reportagem, abraços e muito obrigado!

Comentários

  1. Maravilha, foi muito bom receber o bibliotecário Sidnei Andrade para essa entrevista na Biblioteca Comunitária Beco dos Poetas.

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