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Professor Ivan Russeff |
Já faz algunas semanas, o debate sobre a
redução da maioridade penal segue quente na grande mídia. O que está por trás
desta questão que interessa aos bibliotecários?
Para fomentar a reflexão, o professor Ivan
Russeff falou sobre o assunto para a Agência FESPSP, acompanhe:
Da Agência FESPSP
Juventude expurgada: eles são feios, sujos e malvados
03/05/2013
O clamor egocêntrico pela
diminuição da maioridade penal é uma clara demonstração de quanto uma parte da
nossa sociedade não tem a compreensão do problema da criminalidade praticada
pelos jovens, explica o professor Ivan Russeff, pós-doutor em Educação.
Para o docente, a
diminuição da maioridade penal como parte da sociedade defende não vai resolver
o problema da criminalidade e da violência praticada pelos menores de idade.![]() |
Professor Ivan participa da ação Literatura Espalhada, em 2010 |
Segundo o professor, imputar ao jovem, que não tem a sua formação completamente desenvolvida, toda responsabilidade por seus atos é eximir o Estado por sua falha com políticas públicas ineficientes e absolver o “mercado” que subverte valores morais e éticos da juventude.
Ele alerta que este posicionamento reacionário que parte da sociedade está defendendo pode comprometer o futuro dela e lembra que a culpabilização dos jovens sempre foi uma prática das sociedades conservadoras.
Apesar da educação ter um papel importante, o docente diz que não é a única solução, principalmente se considerarmos a qualidade e o tipo de conteúdo oferecido nas escolas que se preocupam, quando conseguem, em prepará-los para o vestibular ou para o mercado, e não para cidadania.
O educador acredita que é preciso acolher os jovens, formá-los para vida, dando responsabilidade e impondo limites, e mostrando o que acontece quando esses limites são ultrapassados, mas o problema está nesta linha divisória, e a sociedade tem sua responsabilidade quando ela mesma não a respeita, o jovem só reflete os valores que esta sociedade pratica.
Leia mais sobre este assunto e ouça a entrevista com o professor Ivan Russeff na íntegra aqui.
Opinião
E os bibliotecários com isso?
A função social
da Biblioteconomia aparece bastante nesta questão. Os tentáculos do acesso à
livros, gibis, ou outros materiais de conteúdo que possam interessar a um jovem “feio, sujo e
malvado” partem do bibliotecário que tem um olhar atento à necessidade daquele
jovem. Se há o equipamento na região, o convite fica mais explícito: “venha
para a biblioteca”. Mas, tem que vir acompanhado de um corpo-a-corpo, uma luta
de video-game para se mostar mais interessante que o mundo extasiante do
tráfico e do crime. Porque a escola, esta já ficou para trás há muito tempo. A
família nunca existiu. Quem quer entrar nesta batalha? Parece uma batalha perdida, mas muitos
direitos, como o de ir e vir, as escolhas,
o encontro, o olho no olho, ainda estão preservados.
Mas, e quando o
jovem já está em uma casa prisional?
Em seu site, a
Fundação CASA afirma que oferece cursos de educação profissional variados, com
uma formação abrangente, aos
meninos internos que têm de 12 a 21 anos. Entre os cursos, está o de
arquivador, dentro da área administrativa. Não há nenhuma menção à biblioteca
ou atividades correlatas. Sabemos que elas existem nas penitenciárias de todos
os tipos, dentro de variados programas de re-inserção social do presidiário. As
chamadas “universidades do crime” têm bibliotecas, mas por que a instituição
que deve aplicar “medidas socioeducativas de acordo com as diretrizes e nomas
previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ” não mostra suas bibliotecas
e seus serviços de re-inserção por meio do incentivo à leitura e à convivência?
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Jovens da Fundação CASA recebem o treinador Tite |
O artigo 71 do ECA é claro: “a criança e
o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento.”
Defender o direito à infomação de todos, inclusive dos
jovens “feios, sujos e malvados” é competência do bibliotecário, sim. Ter atitude para se comprometer a ajudar a mudar uma realidade desacreditada por todos é opcional.
Parabéns ao professor Ivan pelo artigo. Sensata reflexão sobre como a sociedade faz para se eximir de seus problemas. Exemplos como o ilustrado demonstram que há muitas coisas a fazer, mas gente que está contribuindo para reverter esse quadro. Destaco o papel do bibliotecário como fundamental na promoção de ações culturais que tragam os jovens para dentro das bibliotecas.
ResponderExcluirIsso mesmo, Samuel, como bibliotecários temos que trabalhar para envolver os jovens em ações promotoras de reflexão e acesso ao conhecimento. Obrigada pela sua mensagem, continue participando do Blog da Monitoria.
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