Se Liga FaBCI - Aula aberta - “Exposição de arte: articulações entre obra, curadoria, designer, museu e público”
No
dia 12/05/2017 tivemos uma super
aula aberta com o tema: “Exposição de
arte: articulações entre obra, curadoria, designer, museu e público”, direcionada especialmente aos alunos
do 1º e 3º semestres. Para que os leitores da MC possam ficar por dentro do que
aconteceu, seguem alguns relatos dos alunos do 3º Semestre/Noturno que foram
organizados pela Profª Tânia Callegaro na
disciplina de Teoria da Comunicação.
A
FaBCI-FESPSP teve mais uma aula aberta com convidados especialíssimos.
Por
Camila Hatzlhoffer.
No
dia 12/05, tivemos a presença de Renato Salgado e Paula Dip, que vieram dar uma
aula, explicando como foi feito o planejamento e a execução da exposição “Caio,
mon amour”, realizada no Museu da Diversidade Sexual, que fica na República,
entre os dias 11 de setembro de 2016 e 28 de janeiro de 2017.
Esta
exposição teve como foco a vida e obra de Caio Fernando Abreu, escritor
brasileiro, autor de “Morangos Mofados”. Paula Dip fez a curadoria, já que
conheceu e foi amiga íntima de Caio.
Durante a aula, ela disse que se emocionou quando entrou no Museu, com a
exposição já montada, com imagens grandes de Caio espalhados e todos os
elementos que foram planejados para a interação com o público visitante.
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
Renato explicou detalhadamente o processo, as ideias e a montagem com o espaço disponível no Museu, mostrando as plantas e os modelos da exposição no telão.
Logo
após, Paula respondeu algumas perguntas dos alunos sobre Caio e contou
histórias que ninguém imaginava, incluindo o dia em que ele se encontrou pela
primeira vez com a autora Clarice Lispector. Houve também depoimentos do
pessoal da plateia, que visitaram a exposição e demonstraram como ela foi bem
planejada e executada.
Ao
final da palestra, foi exibido o trecho do filme que Paula Dip roteirizou,
chamado “Para sempre seu, Caio F.” No filme, personalidades famosas, como Thiago
Lacerda, Alexandre Borges e Mariana Ximenes interpretam frases e histórias
retiradas dos livros de Caio.
A
aula aberta foi um sucesso! Para os fãs de Caio, como eu, foi emocionante
descobrir mais sobre este escritor incrível! <3 o:p="">
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
Por
Elaine Alves Barbosa.
A
exposição “Caio, mon amour”, ocorreu
no Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, no ano de 2016 em homenagem aos 20
anos da morte do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996).
A
exposição contava com a biografia e toda trajetória literária que Caio F. Abreu
desenvolveu em sua breve passagem pelo mundo, foram utilizados objetos do
acervo pessoal do escritor, além de itens disponibilizados por familiares e
amigos próximos.
Fotos
e trechos de suas obras literárias envolviam as paredes do espaço expositivo,
convidando o transeunte da estação República do metrô e o visitante da mostra a
se relacionar não só como mero expectador, mas como indivíduo ativo e pensante.
Podemos
observar que a curadoria de Paula Dip, que foi amiga pessoal de Caio F. Abreu,
usou da comunicação como conceito norteador da exposição, pois a relação do
visitante com o espaço utilizava recursos, estímulos, linguagem de apoio e
suportes expo gráficos para comunicação e disseminação da informação com o
público.
Disponibilizavam
de um karaokê literário, para declamação de poesias, mimeografo e máquina de
escrever, para o público visitante interagir com a mostra e se aproximar ainda
mais do escritor Caio F. Abreu.
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
Essas ferramentas traziam ao espectador interação, conhecimento e cultura, com conteúdo libertador e crítico à sociedade conservadora e tradicionalista, que tanto Caio F. Abreu com sua obra contrariava.
A
exposição “Caio, mon amour” como canal e estratégia de comunicação e meio de
disseminação, singular, da informação.
Por
Jaciara Oliveira.
Na
sexta-feira da semana passada, 12 de maio de 2017, a FaBCI recebeu o arquiteto
Renato Salgado e a historiadora Paula Dip, para conversarem com as turmas da
biblioteconomia sobre a exposição “Caio,
monamour”, que ficou de 11 de setembro de 2016 a 28 de janeiro de 2017, no
Museu da Diversidade Sexual, dentro da estação República do metrô.
Renato
Salgado foi um dos responsáveis pelo planejamento da exposição e começou sua
fala trazendo a importância do convite e de ter sido a primeira vez que o museu
uniu sua temática central à literatura.
Chamou
atenção nessa primeira fala a questão do espaço. Ele se referiu ao espaço
físico, modesto perto dos espaços comuns de museus, para falar que isso não
afetou a importância da proposta do museu. Nesse interim, faz-se importante
dizer que o Museu da Diversidade Sexual ocupa um espaço político de destaque no
centro de São Paulo.
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
Dizemos isso tendo em vista o debate das teorias da comunicação, especificamente pensando comunicação e informação como elementos separados, porém interdependentes, e como esse museu conseguiu unir esse dois elementos de forma rica. A região do entorno da República, principalmente a região do Largo do Arouche e Rego Freitas, é reconhecida por ser morada, trabalho e lazer do público LGBT. Pensando que esses grupos, normalmente, são tidos como marginalizados – no sentido de estar à margem da sociedade, do senso comum– e que sofrem violências diversas, é muito relevante que se tenha um equipamento cultural (o primeiro da América Latina voltada para o tema) que busque trazer outros olhares para esse universo.
Esse
tipo de trabalho faz com que, por exemplo, se consiga trazer para a realidade
da população em geral, por meio da informação e do modo que se escolher
comunica-la, outra realidade que parece distante, mas que na verdade não se
está apartada e sim ocorrendo junto, concomitante. Trazer um nome reconhecido
como Caio Fernando Abreu para esse local é trazer um tema universal para o
âmbito do afeto e do conhecimento, é fazer uso outro da comunicação que não
seja esse impelido a nós pela sociedade do consumo, instaurada com o
capitalismo e a urbanização das cidades.
E o céu é uma boate
gay
Por Jefferson André de
Jesus Corredor.
Realizada no ano
passado, em memória de 20 anos da morte do escritor Caio Fernando Abreu, no
Museu da Diversidade Sexual, situado na estação República do metrô, em São
Paulo, a exposição “Caio,mon amour” configurou-se
como um desafio: converter a linguagem literária do escritor ao âmbito do
concreto e às características e público do museu.
Segundo os
palestrantes Renato Salgado e Paula Maria Dip, que falaram sobre o assunto no
auditório da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), no
dia 12 de maio de 2017, a exposição foi a primeira experiência do espaço com o
universo da literatura e suas especificidades. Além da matéria, outra
dificuldade, segundo eles, diz respeito ao público: pessoas circulando, indo
para o trabalho ou voltando pra casa, passando por um museu pouco visitado, em
parte por causa do tema.
Então, primeiramente,
os organizadores pensaram em como tornar esse espaço familiar para o publico,
na tentativa de abordar a trajetória e memória do autor, seu trabalho, e também
a vida noturna de SP na década de 80, período importante em sua vida.
Diante disso, optou-se
por modificar a área externa do museu, convertendo-a em um grande painel – e
assim extroverter a exposição. Sem a
necessidade de entrar, o público passante podia ter contato com obra de Caio.
Dentro, teria um aprofundamento.
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
Foram usadas cores
para definir os diferentes níveis da trajetória do escritor, nos murais sobre
sua vida, carreira, a época etc, em informações bem didática, segundo os palestrantes.
Tudo foi pensado também tendo em conta o perfil das pessoas [passando,
circulando, correndo...] do entorno: letras grandes, fotos enormes, frases
impactantes.
De acordo com a Teoria
Crítica da Comunicação, esses procedimentos de adaptação da literatura de Caio
Fernando Abreu estariam inseridos no processo de massificação da cultura. A
arte de Caio Fernando Abreu, tornada pop,
vai ao encontro do fenômeno descrito por Walter Benjamin no texto “A obra de
arte na época de sua reprodutibilidade técnica”.
Para o filósofo
alemão, o capitalismo modificou todos os aspectos da sociedade moderna,
incluindo nossa relação com a cultura. Noções tradicionais usadas antes na avaliação
da arte (como “poder criador”, “gênio” etc) deixaram de fazer sentido, em
decorrência do avanço da industrialização e da formação da “massa”.
A reprodutibilidade da
arte, exasperada na sociedade industrial e sua cultura de consumo, dissolve a
questão de autenticidade, por exemplo. Pode-se usufruir da obra [como se fez
nos folhetos com frases de Caio Fernando Abreu], longe do “aqui e agora” em que
ela foi criada, em realidades muitas vezes nunca imaginadas pelo autor. Exemplo
foi a projeção, nas paredes do museu, do documentário com imagens do autor,
legendadas de modo que pessoas fora do espaço pudessem acompanhar a história,
ainda que fragmentada, de passagem. Diferente do que foi descrito por Adorno, o
filme, flexível, pode também adaptar-se à fluidez, como se já tivéssemos nos
acostumados a "perder os fatos" que ocorrem na nossa frente:
Os produtos da
indústria cultural, desde o mais típico, o filme sonoro, paralisam [a
imaginação e a espontaneidade] pela sua própria constituição objectiva. São feitos
de tal modo que a sua adequada apreensão exige não só prontidão de instinto,
dotes de observação e competência específica como também são feitos para
impedir a actividade mental do espectador, se este não quiser perder os factos
que lhe passam rapidamente pela frente (WOLF, p. 137).
O que observamos na
exposição Caio, monamour, na
qual a obra do escritor porto-alegrense
é inclusive incorporada à arquitetura, é a
independência da obra: por mais que o autor tivesse proferido a frase “o céu
é uma boate gay”, o autor não criara uma parede revestida de pelúcia rosa, para
expressar sua arte.
Além do conceito de
autoridade, outra noção que se perde na cultura de massa, segundo Benjamin, é a
aura. Esta é definida como o ser
tomado como distante (inclusive temporalmente) por maior que fosse a
proximidade física com a arte (BENJAMIN, p. 223). Na era moderna, a aura da
obra de arte é atingida: multiplicando-se os exemplares, torna-se a obra mais
independente do que o original.
Observamos isso também
na iniciativa da exposição de disponibilizar trechos de poemas, destacáveis,
nas paredes externas do museu, para os passantes levarem para ler depois:
olhando enquanto caminha nas escadas rolantes, lendo de pé no metrô, entre uma
mensagem e outra do whatsapp, usado como rascunho etc. Ou nas palavras do
teórico: “a técnica [da reprodutibilidade] pode transportar a reprodução para
situações nas quais o próprio original jamais poderia se encontrar” (BENJAMIN,
p. 230).
Com a transformação da
cultura em produto, mercadoria, de acordo com a Teoria Crítica, a arte reflete
o estado atual do capitalismo e sua influência na maneira como lidamos com os
bens culturais. A aproximação entre ter acesso a versos de Caio e pegar um
panfleto publicitário de uma ótica é muito tênue, segundo a Teoria Crítica.
Porém, o próprio
Benjamin no texto mencionado afirma que a situação da arte na modernidade tem
um potencial revolucionário. Primeiramente por promover a democratização no
acesso a esses bens. Segundo, por se afastar da maneira “religiosa” como a
sociedade ligara-se até então à arte, a indústria cultural abriu espaço para
uma relação mais "prática", política, com a cultura.
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Fonte: Página do Museu da Diversidade |
REFERÊNCIAS
BENJAMIN,
Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: LIMA,
Luiz Costa (sel.) Teoria da Cultura de
Massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 221-254.
WOLF,
Mauro. Teorias da Comunicação. 6ª
ed. Lisboa: Editorial Presença, 2001.
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