A professora Regina Belluzzo (do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, e da Pós-Graduação em TV Digital da UNESP-Marília e
Bauru), lançou o e-book “A Competência em informação no Brasil: cenários e
espectros”, pela Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação –
ABECIN em maio deste ano.
Pedimos à professora que nos contasse um pouco sobre a obra,
e ela gentilmente aceitou o convite, nos enviado um texto maravilhoso.
Muito obrigada, professora Regina Belluzzo! É uma honra para
nós publicarmos um texto da senhora.
Era uma vez uma
pesquisa que se transformou em e-book...
Fonte: Abecin. |
Inicia-se por agradecer o convite e a oportunidade para
fazer algumas considerações sobre o E-book de minha autoria que foi lançado
pela ABECIN recentemente.
A primeira pergunta que sempre acontece
é: como surgiu um livro como “A Competência em informação no Brasil: cenários e
espectros”? A partir de uma ideia
que, em algum momento, estabeleceu elo com um ideal. Ressalta-se que a noção de atitudes para o uso da informação
surgiu com os movimentos que se desenvolveram de forma paralela em diferentes
partes do mundo, a partir dos anos 80. Trata-se de um conjunto de atitudes
referentes ao uso e domínio da informação, em quaisquer dos formatos em que se
apresente, bem como das tecnologias que dão acesso à informação: capacidades,
conhecimentos e atitudes relacionadas com a identificação das necessidades de
informação, conhecimentos das fontes de informação, elaboração de estratégias
de busca e localização da informação, avaliação da informação encontrada, sua
interpretação e síntese, reformulação e comunicação – processos apoiados em uma
perspectiva de solução de problemas e denominados como competência em
informação.
Tais processos podem ser desenvolvidos em parte mediante o manejo
das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a utilização de métodos
válidos de pesquisa, porém, sobretudo por meio do pensamento crítico e da
racionalidade humana. E, assim mesmo, foi o que aconteceu com as ações que
deram origem à essa obra, que é fruto de
um Projeto de Pesquisa Trienal junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação, onde atuo como docente em regime de voluntariado. Devo dizer que é o
registro e a memória do “Movimento da Competência em Informação” no Brasil no
período de 2000 a 2016, área de interesse e que tem oferecido oportunidades de
desenvolvimento, sendo, ainda, muito jovem no nosso contexto para que possamos
compreender suas nuances e extensão.
Assim, seguimos o exemplo de um artista
que busca a criação de algo para a sociedade, sendo que estamos iniciando a
pintura de um quadro composto da ajuda de muitos pincéis e tintas concretizadas
nas pessoas e instituições que disponibilizaram suas contribuições para que,
certamente, fosse publicado esse E-Book despretensioso que poderá ser visto no
presente e, talvez, admirado no futuro, considerando-se estar inserido e
disponibilizado em um meio digital pelo esforço e agregação de valor da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), a quem
agradecemos imensamente pela edição e lançamento.
Vamos agora ao que se considera a
sua concepção e conteúdo. O Livro apresenta, inicialmente, a evolução do
conceito sobre competência em informação (CoInfo), extraída da literatura da
área de Ciência da Informação, evidenciando os principais pesquisadores deste
campo científico.
Para tanto, analisa a produção científica abrangendo o
período de 2000 a 2016, contemplando dezesseis anos de pesquisa sobre a
temática que destaca. Pode-se destacar aqui um aspecto de importância porque
para a realização dessa análise foi necessário proceder à criação de
“Indicadores de CoInfo”, uma vez que o tema ainda é considerado emergente em
nosso país. Destaca-se que foram utilizados indicadores identificados em
pesquisa anteriormente realizada como requisito ao desenvolvimento de
pós-doutorado junto à UNESP- Araraquara, no Programa de Pós-/graduação em
Gestão Escolar e que se encontram em Relatório Final (BELLUZZO, 2003)[1]
e definindo-se uma estrutura a partir de três contextos distintos e das
concepções da competência em informação, tais como: concepção da informação
(com ênfase na tecnologia da informação); concepção cognitiva (com ênfase nos
processos cognitivos); e, concepção da inteligência (com ênfase no aprendizado)
(DUDZIAK, 2003)[2].
Desse modo, foram estabelecidas categorias, por meio do método de Análise de
Conteúdo (BARDIN, 1977)[3]
que permitiram analisar a literatura produzida no País sobre competência em
informação, evidenciando como resultado:
a) questões terminológicas; b) contextos e abordagens teóricas; c) políticas e
estratégias; d) inclusão social e digital; e) ambiente de trabalho; f)
cidadania e aprendizado ao longo da vida; g) busca e uso da informação; h) boas
práticas; i) gestão da informação, gestão do conhecimento e inteligência
competitiva; j) bibliotecas, bibliotecários e arquivistas; k) mídia e tecnologias;
l) diferentes grupos ou comunidades; e m) tendências e perspectivas.
Inicialmente, como trajetória metodológica do
estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica junto às fontes impressas e
eletrônicas (Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da
Informação), pesquisa on-line também em periódicos da área e de educação, base
de dados da CAPES sobre dissertações e teses, bases disponibilizadas pelo IBICT
e repertórios institucionais de universidades brasileiras, com o objetivo de mapear
a produção científica de forma seletiva.
Foto: Professora Regina Belluzzo. Arquivo Pessoal. |
Essa pesquisa foi desenvolvida por
meio do recurso de uso das palavras-chave quanto às áreas de origem/destino
destas produções, visto a diversidade e imbricamento dos termos que envolvem as
discussões, de temáticas subjacentes a estes termos, de formação dos
pesquisadores e de instrumentos de disseminação da produção. Além disso,
considerando-se essas dificuldades e o tempo disponível, optou-se por realizar
o levantamento a partir:
a) das obras referidas pelos autores
que produzem conhecimento em estudos sobre a competência em informação no
Brasil;
b) das informações prestadas nos
currículos cadastrados na Plataforma Lattes (palavras-chave: competência em
informação, alfabetização informacional, competência informacional, letramento
informacional, literacia informacional e outros similares);
c) dos acervos disponibilizados on line pelas bibliotecas
universitárias, instituições oficiais da área de ciência da informação, de
movimentos associativos inerentes e de organismos públicos de interesse.
Do levantamento inicial, com as
revisões de duplicidade, de documentos fora do tema, entre outros, foram
considerados como sendo corpus de
interesse específico aos propósitos da pesquisa em questão, em uma primeira
etapa, um total de 379 documentos (artigos publicados em periódicos (217);
dissertações e teses divulgadas (129); livros (33); grupos de pesquisa (11)
envolvendo o tema competência em informação e também 22 eventos específicos
sobre a CoInfo, considerando-se que alguns resultados constituem marcos
históricos no nosso contexto. Nesse intuito, discutem-se os cenários e
espectros relacionados a cada categoria, proporcionando uma compreensão mais
aprofundada sobre os aspectos inerentes e relacionados à competência em
informação.
São tantos aspectos relevantes a serem estudados no âmbito dessa
competência que, há espaço para pesquisas em diferentes níveis (lato e stricto sensu), bem como para o
desenvolvimento de boas práticas no âmbito dos aparelhos culturais, entre eles,
as bibliotecas, os arquivos e os museus, estendendo-se também às organizações
sociais de modo geral.
Além disso, descreve também as barreiras e os
avanços dos estudos e pesquisas que envolvem a competência em informação no
cenário nacional, abordando a apropriação e incorporação do conceito no âmbito
das políticas públicas, bem como no que tange às práticas desenvolvidas no Brasil.
Trata-se de contribuição cujo
objetivo visa à criação de base teórica e da aplicabilidade da competência em
informação (CoInfo), enquanto um tema de interesse que atua transversalmente em
articulações com áreas estratégicas de ensino e aprendizagem, da pesquisa,
inovação, desenvolvimento social e da construção do conhecimento para o
exercício da cidadania. Procura-se demonstrar que a CoInfo está em perfeita sintonia com os paradigmas
comunicacionais e educacionais emergentes, considerando-se que a pesquisa
virtual apoiada na Internet com seus milhões de sites de busca, ao mesmo tempo em
que permite encontrar informações sobre todas as áreas do conhecimento em
grande quantidade, traz consigo novos problemas e uma grande complexidade para
saber buscar, selecionar e utilizar essas informações visando à construção de
conhecimento com aplicabilidade à realidade social contemporânea. Trata-se de
obra de natureza didática e que se destina ao ensino e pesquisa em níveis de
graduação e pós-graduação.
Espera-se poder incitar à leitura
e às novas reflexões que venham subsidiar a adoção de posturas estrategicamente
voltadas para a institucionalização da CoInfo no país, a partir desta
contribuição introdutória à abordagem de questões que envolvem essa
competência, uma vez que não houve a
pretensão de oferecer respostas e de se esgotar o “estado da arte” do tema,
isto porque somos impactados pela sua
dinâmica e pelo crescimento que o tem norteado desde então. Esse é o desafio a
enfrentar, continuamente, a partir de novas ideias
em estreita relação com nossos ideais...
Regina Celia Baptista Belluzzo
[1] BELLUZZO, R.C.B. Relatório
final apresentado ao Programa de Pós-Doutorado em Gestão Escolar.
Araraquara: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras/Unesp, 2003.
[2] DUDZIAK, E.A. Information literacy: princípios,
filosofia e prática. Ciência da
Informação, Brasília,v. 32, n. 1, p. 23-35, jan./abr. 2003. Disponível
em:. Acesso
em: 10 ago. 2014.
[3] BARDIN, L. Análise
de conteúdo. Lisboa: Edições 70 Ltda, 1977.
O livro da professora Regina Belluzzo pode ser baixado no site da Abecin ou pelo link: http://abecin.org.br/data/documents/E-Book_Belluzzo.pdf
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