E pra quem gosta de drama, investigação policial e ação,
fiquem com mais um conto do Gabriel
Justino (6° Semestre/Noturno) que vai mostrar a todos a importância dos
arquivos que nunca devem ser chamados de mortos.
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Fonte: Localbox blog
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JUSTIÇA
— Alô, emergência?!
— Emergência! No que
posso ajudar?
— Preciso de ajuda,
minha irmã... minha irmã...
— Senhor, peço que me
relate o que está acontecendo para que eu possa enviar uma equipe para
ajudá-lo.
— Minha irmã está
debruçada na cama, tem muito sangue... eu... eu... eu não sei o que fazer, não
sei nem se ela está respirando... ahhh meu Deus... as roupas dela estão todas
rasgadas... tem muita fumaça aqui... por favor me ajudem... ajudem minha
irmãzinha...
— A ajuda já está a
caminho...
Recebemos milhares de
ligações como essa na central de emergências e é desesperador tentar acalmar o
familiar, o amigo que está do outro lado da linha. Faz uns 10 anos que recebi o inquérito a
respeito dessa ligação, e ainda lembro bem deste caso, uma jovem de 20 anos foi
encontrada pelo irmão em cima da cama, com as roupas todas rasgadas e ao que
tudo indicava parecia uma cena de estupro, só que a cena ficava mais estranha,
pois tinha muita fumaça no local, o que nos levava a hipótese de que o
assassino e possível estuprador tentou apagar a cena do crime causando um incêndio,
o que não deu certo, pois, o irmão usou água para apagar o foco de incêndio que
ali se iniciava, à medida que investigávamos o caso, descobrimos manchas de
sangue na cozinha e marcas de que a vítima fora arrastada escada acima até o
quarto e deixada de bruços sobre a cama com marcas de violência por todo o
corpo, o que leva a crer que a vítima foi espancada até a morte.
Sou Helena D’Ângelo, investigadora
dos casos de homicídios no Departamento de Investigação de Assassinatos, o DAI,
este caso nunca foi esclarecido, pois nunca achamos o verdadeiro culpado por
cometer tamanha brutalidade. Chegamos até a prender um suspeito, mas após algum
tempo provou que era inocente. Meu trabalho junto com meu parceiro Bruno Ávila,
é descobrir o mistério dos casos que foram arquivados sem solução, e assim, conseguir
o esclarecimento de muitos casos que não obtiveram um desfecho e ficaram sem
solução.
As circunstâncias
mudam, pessoas que não testemunharam, podem demonstrar algum interesse em falar
sobre o caso, o que viram, o que ouviram e o que testemunharam e que por algum
motivo fizesse com que se calassem por tanto tempo. Em um dia em que iria
atender a um chamado, meu chefe me ligou para dizer que alguém queria falar com
a investigadora de homicídios.
— Helena, tem uma
senhora que gostaria de falar com você, ela está esperando na sala 111.
Quando cheguei, a
senhora estava sentada em um dos sofás disponíveis naquela sala, que funcionava
como uma sala de visitas, com alguns sofás dispostos no ambiente, e uma pequena
mesa de centro, no qual estavam servidas algumas garrafas de café e chá.
— Senhora Márcia?
Detetive Helena D’Ângelo em que posso ajudá-la?
— Muito prazer
detetive, gostaria de falar com alguém da homicídios, você é deste
departamento?
— Sim! Eu cuido dos casos
de assassinatos.
Ela respirou fundo
para contar algo em alguns sussurros.
— Sei que faz muito
tempo, mas no dia em que aconteceu o assassinato daquela moça que foi morta em
casa, e não sei porque me mantive tanto tempo calada. No dia em que os investigadores
da Guarda bateram na minha porta, disse que não havia ouvido ou visto nada, mas
eu menti porque estava com muito medo, do que tinha ouvido. Na madrugada
daquele dia, antes do irmão da moça a encontrar, eu despertei com alguns gritos
que rapidamente foram abafados, fui até a janela do meu quarto e abri um pouco
para ver o que estava acontecendo. Vi um homem, saindo da casa dela, me parecia
o namorado, mas ainda faltavam algumas horas para amanhecer, ele estava
transtornado e muito nervoso, ele olhou para minha janela e me escondi. Por
isso me calei durante todo esse tempo, já que ele poderia fazer mal para mim ou
minha família.
Após aquela
revelação, seria necessário reabrir o caso para investigar a veracidade
daquelas novas informações, a fim de elucidar, tudo aquilo que a testemunha
havia dito. Desci até nossa “biblioteca de evidências”, local no qual ficavam
armazenadas todas as provas de crimes em algumas caixas, local que encontraríamos
as evidências recolhidas e os relatórios dos investigadores, o que nos ajudaria
a montar um quadro de análise daquele caso.
Achei o arquivo, e
nele estavam algumas fotos da vítima o laudo da autópsia, as pessoas que foram
ouvidas e seus depoimentos transcritos. Observando o laudo, foi constatado que
Bia Arantes foi morta por espancamento e que algumas das pancadas foram na
cabeça, lesionando o cérebro, causando um traumatismo, foram encontradas
evidências de um estupro, ao que parece tentaram encobrir o crime para que não
pensássemos que ela havia sido estuprada. O principal suspeito, era Thomaz James
Rocha, o namorado dela, mas apresentou um álibi que foi comprovado, com isso os
investigadores da época voltaram à estaca zero e decidiram encerrar o caso.
Com o depoimento da
testemunha, eu e meu parceiro Ávila, precisaríamos convocar o namorado da
vítima e verificar o álibi novamente, afinal se for verdadeiro ele continuará
irrefutável mesmo depois de anos.
— Aqui no relatório,
diz que você estava numa balada e que chegou por volta das 10 da manhã, e
encontrou o irmão da vítima em estado de choque, tem mais alguma coisa que
queira acrescentar ao seu depoimento?
— Só quero meu
advogado, não sei porque reabriam o caso, eu já disse tudo que sabia e
acrescento que eu amava minha namorada e que isso tudo me causa muita dor ter
que remexer neste assunto novamente.
— Sei que fazem dez
anos Thomaz, mas novas evidências apareceram e nós gostaríamos que o
responsável pelo assassinato de sua namorada fosse preso!
Algo ali não estava
se encaixando, como o namorado não queria que o caso fosse reaberto, algo ali
me dizia que ele sabia muito mais do que estava nos contando. Por isso, falei com
o nosso legista que reexaminou os laudos escritos na época.
— Agente D’Ângelo,
pelo que li nos relatórios, tudo indicava que foi algum ladrão que invadiu a
casa. Mas algo me chamou a atenção, justamente a forma como o corpo foi
encontrado e as marcas pela casa. Não sei se o legista da época deixou isso
passar, mas a verdade é que o crime foi passional e a nossa vitima conhecia o
assassino.
Depois desta
revelação, eu e meu parceiro Bruno, verificamos alguns dos suspeitos, entre os
quais um que até chegou a ser preso por ter conhecimento da rotina da vítima,
agredi-la e ter passagens por estupro, mas ele ficou preso só por dois anos,
quando provou que era inocente.
Algo estava muito
estranho, parecia que a cena toda havia sido montada para incriminá-lo, eu e
meu parceiro estávamos deixando algo passar, quando li novamente o relatório me
chamou a atenção, o horário de morte da vítima ocorreu entre as 3 e 4 da manhã,
exatamente o horário que a testemunha ocular vira o namorado da vítima
transtornado. As peças começaram a se encaixar, mas agora bastava saber o
porquê ele fizera tamanha crueldade com a própria namorada. Ele foi intimado
novamente, pois eu sabia que as evidências apontavam para ele, mas precisava de
uma confissão, se não esse desgraçado sairia impune novamente.
— Thomas, sabemos que
você estava na casa da sua namorada na madrugada do crime. Tem algo que queira
nos contar?
Ele já havia
contratado um advogado que o orientou a ficar em silêncio, então precisava
fazer algo, para que falasse.
— Me diz Thomas, qual
foi a sensação? De exercer o poder sobre sua namorada e assassiná-la do jeito
que fez? Era tudo para se mostrar superior? Que ela não valia nada? Eu sei das
suas brigas com ela e que ela já tinha te expulsado da casa dela alguns dias
antes e acabado o relacionamento com você.
Ele já estava ficando
vermelho de raiva, estava fisgando a isca direitinho para falar tudo, quando
abruptamente se levantou para vir para cima de mim.
— O que foi Thomas?
Te irrito, jogando na sua cara o quão desprezível você é, por estuprar a sua
namorada e depois matá-la a sangue frio com socos e pontapés e depois largando-a
lá, com as roupas rasgadas e tentando encobrir o que você fez?
Ele parecia que ia
explodir de tanta raiva quando começou a berrar comigo, como se fosse uma
criança que foi pega em suas travessuras.
— VOCÊ NÃO SABE DE
NADA! EU AMAVA ELA! A-M-A-V-A! E AQUELA VADIA NÃO QUERIA MAIS NADA COMIGO!
TRAIU A MINHA CONFIANÇA! EU PRECISAVA FAZER ALGUMA COISA!
— Belo amor que você
sentia, amor esse que levou ela para a morte.
Ele ficou um pouco
mais calmo me fitou nos olhos, que estavam carregados de um misto de
sentimentos: culpa, rejeição, tristeza, frieza e mágoa, mas em nenhum momento
vi arrependimento naquele olhar.
— Eu saí da balada
por volta das 2 da madrugada e cheguei na casa dela, uns trinta minutos depois,
ela estava dormindo e eu não queria ter que ir embora. Então fui me deitar ao
lado dela para fazer um carinho e mostrar o quanto eu a amava, mas assim que
ela acordou e me viu deitado ao lado dela, me mandou ir embora, que não queria
mais ficar comigo e que as coisas não precisavam terminar assim, foi quando dei
o primeiro tapa nela, foi quando correu para cozinha pegar o telefone para
chamar o irmão ou a polícia, eu já estava fora de mim, não consegui raciocinar,
simplesmente saí correndo atrás dela, determinado a fazer com que ela calasse a
boca.
Quando cheguei a cozinha agarrei ela e bati muito nela, a ponto dela
começar a sangrar e perder a consciência, foi quando a arrastei escada acima em
direção ao quarto, em determinado momento da subida, ela retomou a consciência
e agarrou algumas coisas no caminho em vão tentando escapar das minhas mãos,
foi quando consegui chegar ao quarto e joguei-a sobre a cama e comecei a rasgar
as roupas dela, e dei mais um soco para que ela ficasse quieta, foi quando eu
fiz o que fiz, depois de terminar, não podia deixar que ela me denunciasse,
então comecei a soca-la até que ver o último suspiro se esvair.
Deixei o corpo
dela em cima da cama e precisava limpar os indícios que estavam na casa. Eram
cinco da manhã quando tive a ideia de limpar o sangue da cozinha e colocar fogo
em alguns papéis próximos ao lixo, que depois de algum tempo viraria um
incêndio e encobriria meus rastros. Saí de lá a poucas horas de amanhecer. Se
não fosse aquele idiota do irmão dela chegar lá tão cedo, meu plano teria dado
certo.
Finalmente tinha
conseguido uma confissão completa daquele assassino, ele contou tudo com tanta
frieza, que me deu vontade de jogá-lo no cárcere e esquecer ele lá, mas não
podia fazer isso. Ele saiu de lá algemado e depois de alguns meses foi
condenado por homicídio doloso triplamente qualificado, pegando 40 anos de
prisão sem direito a condicional. Esse trabalho não é fácil e saber que uma
jovem com tantos sonhos e uma vida inteira pela frente foi interrompida daquele
jeito.
— Agente D’Ângelo,
temos um novo caso para você e queremos saber se você aceitará essa pedreira.
— E que caso é esse?
— É de um garoto que
foi encontrado morto em uma situação bem complicada, com as mãos amarradas e um
tiro no peito, o nome do rapaz era Daniel Silva. Ninguém quer pegar o caso
porque já faz um tempo que foi arquivado e parece que as suspeitas recaem sobre
a Guarda.
— O caso é meu pode
deixar. Investigarei esse caso com afinco a fim de achar os culpados por essa
brutalidade.
— Gostaria de te
perguntar algo... você se dedica muito a esses casos, por que você se importa
tanto?
— Eu acredito na
justiça agente. Aqueles que fazem algo contra seres semelhantes, não podem sair
impunes das injustiças que cometem. Além do mais, pessoas não devem ser
esquecidas.
E com isso comecei a
investigar aquele caso que se mostrava um emaranhado de informações
desencontradas e testemunhas que se calaram com a possibilidade de represálias.
Mas eu iria descobrir os culpados por aquilo, ninguém deveria tirar a vida de
ninguém por bel prazer. Iria descobrir, nem que para isso prendesse agentes da
minha própria corporação.
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