Falar sobre sonhos é sempre muito prazeroso, pois envolve
desejos, planos e metas que muitas vezes norteiam nossas vidas. E é notável que
no final do ano esses pensamentos só aumentam, afinal, um novo ano está para se
iniciar e com ele novas possibilidades.
É nesse clima que o Gabriel
Justino (recém formado \o/), nos
traz o seu último conto e que não poderia tratar de outro assunto senão, Sonhos.
Aproveitem essa linda história
e se inspirem ;)
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Fonte: Freepik. |
Sonhos
(Parte 3)
Sei que faz um tempo
que ando sumida e peço perdão por isso, mas as coisas não têm sido fáceis,
nossos sonhos não são fáceis de serem alcançados, mas quando o conseguimos, é a
melhor sensação do mundo, como quando chegamos ao topo da montanha e contemplamos
a vista e percebemos que toda aquela escalada e jornada árdua valeu a pena.
Uma semana! Era tudo
o que eu tinha para selecionar uma música, escolher apenas um trecho, e
participar da audição individual para conseguir ingressar no Instituto de Dança
Anna Pavlova. Gente que desafio, vocês já tentaram desenvolver uma coreografia
de no máximo 2 minutos? Não é fácil não, primeiro você tem que escutar com
atenção e imaginar quais os movimentos que se encaixariam naquele determinado
trecho, aí você cria uma, duas, três, quatro sequências e percebe que se
passaram apenas dez segundos, Nossa Senhora das Bailarinas Aflitas, me ajude a
criar estes passos neste momento de desespero. Ainda bem que tenho o Kaká e a
Marina ao meu lado para me ajudarem durante esse período.
Quando falamos de
sonhos, as vezes esquecemos de compartilhar as dificuldades e lutas que passamos
para alcançá-los, sempre sonhei em ser uma bailarina e sabia que o caminho não
seria fácil, por isso, assim que Kaká, Marina e eu, chegamos do Instituto,
sentamos para definir qual a melhor estratégia para que eu me saísse bem na
audição. E foi definido o seguinte: eu teria que acordar as 05:30 da manhã
treinar até 12:00, com um descanso de uma hora e depois treinar a música escolhida
até as 22:00 da noite.Só que eu ainda tinha um problema: a música.
Que música
escolheria?Tinha que ouvir algumas, quando finalmente achei a música certa, era
uma música que quando começava a tocar a celesta e o clarinete baixo, eu me
sentia livre, já não me prendia mais no chão, meus pensamentos voavam criando
os passos, assim como um lindo cisne que voa e pousa graciosamente sobre a
superfície da água, a música escolhida foi um trecho do ballet “O Quebra Nozes”
do “Tchai quem”, brincadeira, do Tchaikovsky, o trecho que escolhi foi o da
Fada Açucarada.
Sabe qual era a parte
mais difícil? Isso mesmo, acordar as 05 da matina, aí você deve se questionar,
mas Sophi você não acorda às 05:30 para treinar? Infelizmente tenho que acordar
um pouco mais cedo para me despertar e fazer alguns exercícios, se não iria
acordar e não conseguiria me dedicar cem por cento a dança. O primeiro dia foi
um dos mais difíceis, quando levantei parecia uma bailarina zumbi, mas a Marina
me ajudou preparando a minha roupa do ensaio e Kaká já havia preparado meu café
da manhã.Tenho que confessar uma coisa, nunca pensei que meus primos me
ajudariam tanto, acho que antes de eu acreditar em mim mesma, eles acreditaram
que eu era capaz e sempre me falavam isso, eles são meus irmãos que levarei
para o resto da vida. Não sei o que seria da minha jornada sem eles. Chega,
estou muito sentimental, como devem perceber.
— Sophi, fique na
ponta dos pés, olhe um pouco mais para cima.
— Mantenha a postura
prima, Kaká tem razão, eleve um pouco a cabeça.
E assim as horas
passavam, e eles iam me instruindo a seguir o ritmo da música, com a ponta dos
meus pés e que eu deveria manter a minha postura, mesmo com o cansaço deveria
manter o sorriso nos lábios, que deveria pular e ao aterrissar precisava
parecer uma pena graciosa caindo sobre a água sem fazer ondulações.
Nossa eram
tantas dicas e correções que não sei como não me perdi, mas quando fazemos
aquilo que amamos, nada mais importa, aquilo te torna melhor, uma pessoa
melhor, um mundo no qual você entra e sente que o transforma por simplesmente estar
ali e que pode transformar a vida das pessoas quando elas deixarem ser tocadas
por essa sensibilidade, de alguma forma eu sentia que podia expressar isso,
meus pés doíam, claro que sim, mas eu não ligava, quando olhava para os meus
primos e via o sorriso e olhar de orgulho deles ao sentirem as emoções que passavam
com aquela simples dança, eu me alegrava ainda mais e esquecia o cansaço e
minhas energias eram renovadas e continuava a me dedicar sem parar.
A semana passou e o
dia do teste estava chegando, eu andava muito nervosa pois não sabia como os
jurados iriam me avaliar, foi um misto de sentimentos: apreensão, nervosismo,
medo, euforia, alegria e principalmente saudades, mesmo sendo tão bem cuidada pelos
meus tios e meus primos ainda sentia um aperto no peito quando me lembrava de
minha mãe e do pai que estavam lá naquela cidadezinha do interior, consegui
matar um pouco da minha saudade quando recebi a ligação de mamãe um dia antes
do teste:
O dia finalmente
chegou, e para não passar o que passei na última vez, me programei melhor, caso
a luz acabasse eu tinha um carregador portátil de emergência, estou prevenida
agora. O despertador tocou, o dia já começava a despontar junto com minha
ansiedade, tomei um banho me arrumei e fui para cozinha tomar meu café da manhã
junto aos meus primos que já me esperavam. Seguimos em direção ao ponto de
ônibus para chegar ao Instituto, mas como diz o ditado: “estava bom demais para
ser verdade”, o ônibus demorou muito e quando veio, estava lotado. E mais uma vez
as minhas peripécias na cidade grande recomeçavam, eu quase atrasada pela
demora do ônibus me vi socada nele, cheio de gente, mas olhei pelo lado bom
— Prima, sabe qual é
a melhor coisa desse ônibus lotado?
— Não. — Respondeu-me Marina.
— Não preciso fazer
os exercícios de alongamento, já que estou a fazer neste momento.
Aquilo parecia um
exercício de yoga, nunca tinha entrando num ônibus assim, mas fazer o quê? É a
vida. Nem o vendedor dos salgadinhos Mimi, conseguiu entrar dessa vez. Pelo
menos não passaria mais vergonha com os vendedores ambulantes. Foram uns 30
minutos naquele aperto, até chegarmos ao nosso ponto e caminhamos rumo aquele
fantástico prédio.
— Bom dia, eu
preparei um trecho do ballet “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky, que é o trecho da
Fada Açucarada.
— Muito bem Sophia,
você tem até dois minutos para se apresentar e para que nós a avaliemos.
Respirei fundo. Olhei
para a porta que estava fechada e imaginei Kaká e Marina torcendo por mim. Foi
quando a celesta começou a tocar e me coloquei na ponta dos pés que me dei
conta de que meu corpo já estava embalado e sendo levado pela música. Só
conseguia me lembrar de cada passo ensaiado durante horas a fio, cada ponta de
pé, cada giro que dava, cada vez que movimentava minhas mãos. Já não era eu
quem dançava ali, mas meu coração comandava a sincronia das batidas com cada
movimento preciso que eu dava, neste momento até esqueci que estava sendo
avaliada, simplesmente dancei e tentei expressar meus sentimentos ali. Quando
terminei os jurados me pareciam sérios, mas ao mesmo tempo satisfeitos, foi
então que aplaudiram minha performance.
— Parabéns Sophia,
nós três avaliamos você, e vemos que você tem talento. Um diamante bruto a ser
lapidado. É com enorme prazer que informamos que você está aprovada no teste de
dança e vai ser uma honra tê-la como uma de nossas alunas. Seja bem-vinda ao
Instituto de Dança Anna Pavlova.
Nunca desista de seus
sonhos, afinal, são eles que nos movem, eles que nos fazem ser quem somos. Se
você se dedicar aquilo que você ama com certeza, seus sonhos serão alcançados. Ainda
tenho muito o que treinar para me tornar uma bailarina profissional e chegar em
uma companhia de dança, mas essa é uma outra história, porque terei um longo
caminho para percorrer e chegar lá. Nos vemos por aí, pelos palcos, pelos
teatros, pelas ruas da cidade e quem sabe você não me vê ingressando na
companhia de dança. Até lá, terei outras história e peripécias para te contar.
Mas por enquanto fica meu abraço para todos vocês que me acompanharam.
Beijinhos e abraços de sua querida Sophia.
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