Entrevista: A Arte de Ser Bibliotecário e Professor na Biblioteconomia – Por: Sidnei Rodrigues de Andrade
O dia dos professores já passou, mas a Monitoria não podia deixar em branco. O nosso Monitor Voluntário já egresso da FaBCI Sidnei Rodrigues de Andrade preparou uma entrevista super especial com as professoras Adriana Maria de Souza e Maria Cristina Palhares.
Venha prestigiar aqueles que nos formam!
Entrevista: A Arte de Ser
Bibliotecário e Professor na Biblioteconomia – um aprendizado com o afeto e o
conhecimento.
por
Sidnei Rodrigues de Andrade.
Saudações Profissionais da Informação!
Neste
mês de outubro, comemoramos uma data especial a este profissional da educação
que se dedica sua vida em compartilhar e demonstrar quais os caminhos que
podemos traçar para alcançar nossos sonhos e objetivos neste cenário
contemporâneo: os professores.
Todos
nós fomos educados pelos professores, então tive a liberdade de fazer esta
entrevista-homenagem, com o seguinte tema: Como
é a arte de serem Professores e Bibliotecários na Biblioteconomia?
Fonte: Banco de imagens do Google |
Há
muito tempo, queria realizar esta entrevista especial exclusiva para o blog da
Monitoria Cientifica FaBCI – FESPSP. Em nossa sociedade brasileira civil, há
uma forte hegemonia na desvalorização dos professores, por isso convidei para
realização desta reportagem especial, duas profissionais da informação e
educadoras conhecidas pela comunidade acadêmica.
As
duas convidadas que aceitaram este convite são: Adriana Maria de Sousz da FaBCI –
FESPSP e Maria Cristina Palhares da UNIFAI. Antes de iniciamos esta
reportagem especial, vamos fazer uma breve apresentação dos currículos
profissionais das duas entrevistadas, e em
seguida, acompanhem suas reflexões, apontamentos e contribuições sobre a
Educação no Brasil
Fonte: Facebook - Monitoria Voluntária 2017 |
Bibliotecária
e Professora Adriana Maria de Souza da FaBCI -FESPSP
Mestre em Ciência da Informação pela Universidade de São
Paulo (ECA-USP). Especialista em Gerência de Sistemas e Serviços de Informação
pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Bacharel
em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Faculdade de Biblioteconomia e
Ciência da Informação (FaBCI) da FESPSP. Docente nos cursos de graduação e
pós-graduação da FESPSP. Consultora e Coach em Serviços de
Informação nas áreas de Tratamento da Informação: organização e representação;
Serviços de Referência: qualidade no atendimento ao cliente e coaching; Coaching para
liderança e carreira do bibliotecário. Design Thinking para
bibliotecas.
Bibliotecária e Professora Maria
Cristina Palhares da UNIFAI
Bacharel em Biblioteconomia pela Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) pela FaBCi (Faculdade de
Biblioteconomia e Ciência da Informação), em 1997; Especialista em Língua,
Literatura e Semiótica pela Universidade São Judas Tadeu (USJT), em 2002;
Mestra, em 2005. Desde 2008, atua no Centro Universitário Assunção (UNIFAI),
ministra as disciplinas: Fontes I, Tecnologias da Informação, Planejamento e
Elaboração de Bases de Dados e Automação de Unidades de Informação; integra o
Núcleo Docente Estruturante (NDE). Em 2018, integra a Comissão Brasileira de
Bibliotecas Prisionais (CBBP), da Federação Brasileira de Associações
Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições.
1)
Porque você leciona no curso Biblioteconomia e Ciência da Informação?
Adriana: Antes
de responder essa pergunta, preciso voltar ao tempo e dizer que aos 16 anos
escolhi a da ciência como opção de carreira. Fiz magistério no Ensino Médio e
desde cedo entendi o poder transformador da educação e do conhecimento no
desenvolvimento das pessoas. Despertei o interesse pela Biblioteconomia, assim
que soube dessa área profissional, também nessa idade, fruto de uma pesquisa e
numa enciclopédia que havia em casa sobre profissões, mas só pude viabilizar
meu tento, bem mais tarde, aos 21 anos.
Logo
que me formei fui convidada a fazer parte do quadro de docentes da Faculdade de
Biblioteconomia e Ciência da Informação (FaBCI) da FESPSP, como assistente de
classe, assim, comecei minha carreira docente no Ensino Superior, o que foi um
grande desafio para mim, pois era recém-formada e muito jovem, com experiência
no ensino fundamental somente.
A
vivência com a docência superior, como eu previa, foi se encaixando em meus
interesses e ideais, uma vez que buscava responder às questões que eu tinha
como discente, nos tempos de curso, ou seja, aquilo que eu buscava como aluna,
busquei transferir para a prática de ensino e uma das coisas mais importantes
pra mim era e é a didática. Como tornar o conteúdo das aulas mais próximo da
realidade de trabalho dos alunos? Já que sentia essa lacuna durante a minha
formação e assim tenho tentado manter essa proposta até hoje.
Fonte: Banco de imagens do Google |
Leciono
no curso por que sou entusista do processo de ensino-aprendizagem, na provisão
de agregar teoria e prática, apresentando uma Biblioteconomia e CI com todas as
suas potencialidades, vertentes e possibilidades, com foco no humano, essência
primeira e última de todo o ato de mediação da informação e do conhecimento. É
nas relações sociais, humanas que transcendemos e nos tornamos pessoas melhores
tanto pessoal como coletivamente.
Maria Cristina: Porque
acredito no papel social do bibliotecário, na contribuição que ele pode dar à
sociedade em todos os segmentos: culturais, educacionais e humanistas.
2) Quais são as maiores dificuldades e
conquistas para ser um Bibliotecário e Professor no curso Biblioteconomia e
Ciência da Informação?
Adriana: Na
contemporaneidade temos muitos desafios a serem transpostos, tanto na condição
de bibliotecários como na de docentes: nos aspectos geracionais decorrentes das
mudanças da sociedade; nas incertezas no mundo do trabalho, com novas formas de
atuação: espaços tradicionais x espaços inovativos; no que se refere a falta de
identidade e pertencimento do aluno/profissional quanto à sua formação, uma vez
que a área de informação não é uma exclusividade da Biblioteconomia e CI; na conscientização
do nosso ofício frente às desigualdades sociais e econômicas que assolam o
nosso país, e que refletem em nossas práticas de trabalho e ensino.
Em contrapartida,
temos muitas conquistas, principalmente no aspecto tecnológico e de inovação,
com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), bem como com as novas práticas
metodológicas, atualmente usadas nos âmbitos acadêmico e profissional, chamadas
de ágeis, ativas, disruptivas, por colocar o ser humano (aluno ou profissional)
no centro do processo de aprendizagem, de construção de sentido no que se
pretende realizar, construir, bem diferente do papel passivo que, muitas vezes
se vivencia nas atividades praticadas, seja em sala de aula ou em ambientes de
trabalho mais tradicionais.
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Maria Cristina: As
maiores dificuldades estão na falta de apoio e condições financeiras para
custear uma graduação e a pós-graduação. No entanto, as maiores conquistas
estão no aproveitamento das oportunidades que se teve, transformando-as na
realização de projetos essenciais e significativos para si e para a sociedade,
seja nos âmbitos mercadológicos ou acadêmico-científicos.
3)
Segundo Paulo Freire, “lecionar é uma prática que vai além das instituições
escolares, há um diálogo orgânico, onde todos participam ativamente”. Então,
ensinar e lecionar é uma atitude homogênea do afeto e do conhecimento?
Adriana: Concordo
totalmente com a afirmação, é um diálogo orgânico que acontece o tempo todo,
dentro e fora da sala de aula, numa perspectiva constante de interação, de
troca, de compartilhamento, de significados entre instituição x aluno; aluno x
educador; aluno x aluno. Lecionar é aprender simultaneamente, não é um processo
neutro, no qual um indivíduo transfere seus conhecimentos a outro indivíduo,
mas sim de interlocução ativa e geradora de transformação.
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É um
ato de amor, de paixão, de entrega, Rubem Alves discorre sobre isso em seu livro
Conversas com quem gosta de ensinar.
Pra mim representa vocação e missão. Devem os aprender com as pessoas questão a
nossa volta, aprender sobre sua condição humana: suas dores, suas conquistas,
seus ideais para sermos melhores educadores.
Maria Cristina: Compreendo
a prática freiriana como àquela que orienta para a construção do conhecimento
formativo de um indivíduo a partir das práticas internas e externas, ou seja,
aulas teóricas-reflexivas e práticas laboratoriais institucionais e práticas in
loco, nas unidades informacionais, culturais, espaços públicos abertos, como
parques, ruas e estações de transportes urbanos, entre outros.
4)
Temos acesso há itens informacionais desde suporte de papel até digital, existe
uma diferença entre o Aluno-Cliente e o Estudante-Leitor?
Adriana: Pois
pra mim são duas coisas distintas: acesso à informação e a condição de aluno x estudante.
Antes de qualquer coisa, vejo pessoas buscando conquistar espaços, evolução,
mudança, melhores condições de vida, de satisfação e, acima de tudo, sempre a aprender, dessa forma,
gostaria devê-los sempre como estudantes, responsáveis pelo seu próprio processo
de aprendizagem, como protagonistas de todo o aprendizado a ser conquistado, o
que implica no entendimento do ato de estudar como forma de apropriação de
saberes de forma ativa, participativa, investigativa, no qual se modifica e se
torna alguém novo, transmutado. Em alguns casos, o aluno é mero telespectador que
está apenas a espera da transferência de conhecimentos do docente.
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Maria Cristina: O
aluno-cliente é aquele que paga por um serviço e o leva consigo. Já o
estudante-leitor é o indivíduo que se sente comprometido consigo e exige uma formação crítica-reflexiva a
partir da orientação/mediação do professor, que neste papel deve apontar e fornecer
as condições de acesso ao conteúdo desejado, ao qual o aluno tem direito, não
apenas do ponto de vista constitucional como do ponto de vista humano.
5) Existem dois conceitos conhecidos por
especialistas em Educação: o Construtivismo e a Meritocracia. Há uma
desigualdade educacional destes dois conceitos na prática educacional em
contexto contemporâneo?
Adriana: Essa
questão me remeteu às aulas do magistério e à minha prática profissional como bibliotecária
em uma instituição britânica. Na verdade, entendo esses conceitos como método é
das linhas pedagógicas, embora eu houvesse estudado em escolas tradicionais,
públicas, eu sempre me interessei pelas linhas construtivista, antroposófica e
montessoriana.
Quando
eu atuava como bibliotecária, tinha como atividade de trabalho o aconselhamento
e o auxílio aos estudantes brasileiros que tinham interesse em estudar no Reino
Unido, além de ministrar palestras sobre uma bolsa de estudos chamada, Chevening Awards, em que consistia no
conceito de Meritocracia, não como forma de exclusão ou de desigualdade social
como preconizado por muitas ideologias, mas como o caminho de evolução, ou seja,
o estudante para conquistar a bolsa, precisava apresentar uma trajetória acadêmica
e profissional de dedicação, empenho e esforço individuais, além de um projeto de
pesquisa que validas se tudo isso: a escolha acadêmica em consonância com a
área de atuação profissional, bem como a condição de vida da pessoa (não podia
apresenta ruma situação financeira favorável), integrados a isso, para conquistar
a bolsa ele teria que apresentar argumentos plausíveis para retornar ao seu país
de origem e ser um multiplicador de sua pesquisa aos menos a fortunados.
Sim, penso que há muita desigualdade,
pois a inda temos diversas realidade sem se tratando de educação, em diversas regiões
do nosso país. Ainda convivemos com uma educação precária, sem acesso ao básico,
quiça ao construtivismo. Há que se fazer uma educação para o futuro sem distâncias
e que todos sejam incluídos, mas não é a realidade que vemos. Há muito trabalho
a ser feito, a Agenda 2030 das Nações Unidas, com seus Objetivos de
Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) nos convida para ações concretas de
inclusão, de responsabilidade, de partilha, principalmente, e mar e as como a Educação,
a Saúde, o Bem estar, o Meio Ambiente entre outros.
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Maria Cristina: Do ponto de vista
construtivista, o acesso à educação é inclusivo, é de acordo com as
oportunidades oferecidas pelos órgãos governamentais responsáveis pela educação
formal; por instituições privadas, por meio de ações sociais que oferecem
bolsas de estudos e a permanência está vinculada ao desempenho do aluno; por
institutos e organizações não-governamentais, que vincula a permanência do
aluno ao desempenho ou capacitação profissional do aluno; e, também, existem as situações em que o indivíduo,
por meio de ações autônomas, busca e constrói a própria formação durante sua
vida.
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No
entanto, na meritocracia, a educação é exclusiva, é acessível ao indivíduo com
todas as condições e garantias de qualidade e quantidade, por pertencer a
grupos sociais, bem amparados financeiramente, cientes de seus direitos legais,
que lhe garantam a formação de suas competências e habilidades. Entretanto, a
ponte entre os dois é visivelmente injusta e desumana, na maioria das vezes, no
que se refere às disputas por processos seletivos nos âmbitos profissionais e
acadêmicos.
6)
Qual é o verdadeiro papel da Educação?
Adriana: Transformar
e desenvolver pessoas. Tornando-as cidadãos críticos, atuantes, protagonistas e
multiplicadores
de um bem estar comum a todos.
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Maria Cristina: Prefiro chamar de Ensino,
embora no contexto de formação o docente acaba sendo educador na maior parte do
tempo, auxiliando na formação de alguns valores mínimos para a convivência social.
Desta forma, compreendo Educação como os valores que o indivíduo carrega
consigo desde o nascimento, que são valores culturais, religiosos, éticos e
morais. Já o Ensino tem o dever de
fornecer as bases para que ele possa lidar com as suas habilidades e
competências, percebidas e construídas, no contexto social, cultural e
profissional.
7)
Como você observa a Educação Brasileira no Século XXI?
Adriana: Adoecendo,
estamos vivenciando tempos muito difíceis, há falta de políticas públicas em todos
os âmbitos da sociedade e não há tempo a perder esperando por uma solução mágica.
É preciso acreditar que o nosso papel consiste em propiciar acesso à
informação, ao conhecimento, para que juntos possamos cooperar na transformação
da educação do nosso país, com novas práticas de atuação, criando espaços criativos,
laboratórios de construção do conhecimento, buscando novas formas de
aprendizagem, atuando na sociedade de maneira efetiva e as bibliotecas fazem
parte de tudo isso, pois são ambientes que conjugam todos os saberes, sendo participantes
ativos nesse processo de mudança da sociedade.
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Maria Cristina: Embora
seja uma educadora, não me sinto completamente habilitada a responder esta
pergunta de forma sucinta, pois a contemporaneidade nos impõe muitos desafios
no campo da educação. No entanto, ao abordá-la no contexto brasileiro atual, é
necessário retomar a perspectiva da formação sociocultural, de Gilberto Freyre,
Paulo Freire, Milton Santos entre outros pensadores que nos levam a
compreender, ou tentar compreender, como se deu a construção da nossa base
estrutural enquanto sociedade brasileira, que reflete no percurso de
implantação do ensino formal, e que podemos observar que muitos conceitos e
práticas foram adotados inicialmente e seguidos de forma equivocada, como
acontece até hoje.
Um
exemplo disso é a descrição de métodos pedagógicos de algumas escolas de ensino
infantil e fundamental I, que se intitulam construtivistas. Entretanto na
prática não vemos a construção do aprendizado, a começar pelo material didático
utilizado, que é por meio de apostilas. No ensino superior, muitas instituições
vendem facilidades, com metodologias engessadas, apostiladas, onde o docente
não tem a liberdade de utilizar bases metodológicas e teóricas de acordo com os
múltiplos aspectos encontrados, que são peculiares a cada grupo de alunos, a
cada curso, período de estudo, entre outros.
8) Qual é a contribuição e/ou mensagem
de Educador Brasileiro, sendo um Bibliotecário e Professor que você gostaria de
dizer aos ex-alunos e a sociedade brasileira?
Adriana: Acreditar
sempre: em si mesmo, em suas escolhas acadêmicas e profissionais, em dias melhores.
Lutar pela igualdade de direitos a todas as pessoas, indiscriminadamente. Respeitar
e honrar o seu país. Não aceitar injustiças de qualquer natureza e sob qualquer
aspecto. E citando Mahatma Gandhi: “Seja você a mudança que quer ver no mundo”.
Maria Cristina: Ao
se depararem com a dúvida sobre algo, investiguem a realidade, não tenha
receio de argumentar o que enxergou a partir da análise, sempre amparada em
fatos e dados reais. O posicionamento crítico é necessário para uma sociedade
mais justa e igualitária.
Fonte: Banco de imagens do Google. |
Quero
agradecer as Professoras e Bibliotecárias: Adriana Maria de Sousa e Maria
Cristina Palhares, por aceitarem este convite para a realização desta
entrevista-homenagem ao Dia dos Professores. Fiquei muito satisfeito e honrado
em ouvir estas duas excelentes profissionais da informação e educadoras.
Esta
é uma homenagem a todos os Professores do Brasil, que devemos um agradecimento:
Muito
Obrigado Professores por sermos Seres Humanos! Agradeço por todos vocês
que leram esta reportagem. Abraços e muito obrigado.
A opinião dos colunistas e dos relatos publicados não representam necessariamente a posição da FaBCI da FESPSP, ou de sua Monitoria Científica. A responsabilidade total é do(a) autor(a)do texto.
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