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Jorge do Prado |
Para
quem ainda tinha dúvidas, está definitivamente enterrada aquela visão do
bibliotecário arredio às pessoas, à convivência social, descolado de seu
contexto histórico-cultural e avesso à tecnologia. Jorge do Prado, expert em redes sociais e midias
digitais, conversou gentilmente com a Monitoria sobre a atuação nas redes e o
domínio da comunicação online. Acompanhe:
MC: Uma apresentação
breve da sua trajetória e atuação profissional hoje:
JORGE:
Antes de entrar na graduação, trabalhei dois anos na biblioteca de um
colégio particular em Rio Negrinho (norte de SC) e em 2009, morando em
Florianópolis, comecei a atuar com os estágios ofertados pela Universidade. Até
a quinta fase, fiz um estágio a cada seis meses. Tinha vontade de experimentar
tudo o que a universidade poderia me oferecer, então fui bolsista em projetos
de pesquisa, de apoio discente, num ótimo programa de extensão com a Biblioteca
do Estado de Santa Catarina, em dois arquivos e como monitor em disciplina
de Fontes de Informação. Passei num processo seletivo para assistente de
biblioteca na Faculdade de Tecnologia Senac Florianópolis ainda como estudante
e é onde estou até hoje. Fui um dos organizadores do Bibliocamp
2012. Sou formado pelo ótimo curso de Biblioteconomia com habilitação em
Gestão da Informação da UDESC e pós-graduando em Gestão da Comunicação em
Mídias Digitais no Senac Tecnologias da Informação.
MC: Conte um pouco como você se interessou por tecnologia em
geral até chegar a especialização em Gestão da Comunicação em Mídias Sociais.
JORGE: Sinceramente,
nunca fui fã de tecnologia - talvez porque tive pouquíssimo acesso em Rio
Negrinho. Gosto é de livros! Tenho uma boa biblioteca particular, adoro comprar
livros e passar horas em livrarias, discutir literatura e o mercado editorial.
Foi com o Twitter, algumas disciplinas da graduação e as primeiras leituras
para o TCC que me fizeram ser apaixonado por tecnologia e o fenômeno das redes
sociais. Hoje vasculho a internet buscando por alternativas inovadoras e o que
as redes sociais podem fazer para (e pela) Biblioteconomia. Meu TCC versa sobre o uso das mídias sociais na
técnica da narrativa transmídia para marketing em bibliotecas e foi
bastante desafiador. Na nossa área ainda há escassez sobre trabalhos de mídias
sociais (muitos relatos, pouca inovação e reflexão), talvez por causa dos
currículos dos cursos de graduação, talvez porque tudo é muito novo ainda...
não sei. Fui para esta pós-graduação, com cunho mais mercadológico, entender
como se vende produtos tangíveis para que depois eu traga uma adaptação para a
"venda de informação", nosso principal produto. Mas não somente isso,
quero entender também, "em miúdos", como as redes sociais funcionam
para que tragam alguma diferença para nosso mundo real, desde o software e
hardware até a motivação das pessoas para estarem nestes espaços digitais.
MC: Quais são seus canais online (blogs, colunas em sites,
grupos no Linkedin, etc)?
JORGE: Meus
primeiros canais foram blogs: meu primeiro blog (2007) virou parceiro
de um projeto digital da Editora Abril e passei a escrever para eles por
um ano e recentemente criei o 2000caracteres. Pessoalmente, sou bastante atuante no Twitter, estou
no Facebook,
Instagram, LinkedIn (onde tenho um recém-nascido grupo de discussão sobre mídias em bibliotecas, que ainda
é novo e precisa de membros). Profissionalmente, sou curador de
conteúdo para a fanpage da Faculdade onde trabalho e gerencio a
comunicação das mídias do XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação
e Ciência da Informação (CBBD)
organizado pela FEBAB, que acontecerá aqui em Florianópolis..
MC: No artigo "Facebook? Só conheço 'book': sobre bibliotecários que não estão
nas redes sociais" temos o ponto de vista de que a pesquisa hoje tem
um caráter mais social, mais próximo da inteligência coletiva preconizada por
Pierre Lévy. Como isso está influenciando o mundo acadêmico, restrito e mais
subserviente às regras e padrões?
JORGE: Esta
tal de "inteligência coletiva", "sabedoria das multidões",
é realmente fascinante, não?! O interessante é que as publicações estão
demorando a perceber isso. Mas penso positivo e que logo isso vai mudar,
tomemos como exemplo a Lei de Acesso à Informação nos portais públicos (ok, ok,
talvez seja ainda uma lei muito da teoria do que da prática, mas avante, já
perceberam a necessidade e criaram a lei!). Grandes empresas hoje estão errando
menos porque estão aceitando a opinião de seus clientes, se atentando às suas
emoções (marketing do sentimento) e tornando isso lucrativo. A iniciativa do
acesso aberto traria grandes mudanças se fosse mais social e sei de alguns
estudos e trabalhos (nacionais) que mostrarão isso quando forem publicados.
MC: Neste mesmo artigo, o último parágrafo faz uma provocação para nossa classe:
“(...)Nós bibliotecários, em diferencial a estes profissionais, temos noção que há este estado de mudança e que para prosperar precisamos nos adequar às mudanças. O único problema, é que não temos tamanho potencial (ainda) de influenciar grande número de pessoas e organizações, como deveríamos.”
Como podemos nos apropriar desse potencial e influenciar esse grande número de pessoas e organizações?
JORGE: Primeiro
precisamos parar de reclamar tanto. Em algumas listas de discussão a reclamação
é tanta que parece que estamos num descaso total, sem solução. Para que possamos
ser bons e influentes articuladores nas redes sociais, precisamos começar com
passos pequenos, mas sempre visando o maior. Penso que faremos influência
digitalmente se tivermos uma boa presença real, com um trabalho bem feito em
nossa unidade de informação, mostrando a quem pouco conhece tudo o que o
bibliotecário pode fazer. O contrário também é válido, pois não adianta seguir
todo mundo, vender uma imagem nas redes sociais que não se encaixa com
a sua aqui fora, provocar discussões em grupos e deixa-las morrer. E tem
que ser audaz! Se quer trabalhar nesta área, tem que mostrar como o
bibliotecário pode fazer um bom serviço por meio de suas capacidades e
competências. O que corre nestes espaços é informação, o nosso produto,
matéria-prima do ofício; deveria ser fácil não?! Para influenciar um
grande número de pessoas e organizações, vamos deixar nossa unidade de
informação contextualizada, preparada para as mudanças e tornar isso
perceptível às pessoas, depois, como indivíduo bibliotecário, torna-se
mais fácil. Parece utópico, simples, mas dá certo sim, precisa ser paciente e
mostrar bons resultados quanti e qualitativos e ótimas razões para dar os
primeiros passos. Tem dado certo aqui comigo! :)
MC: Da extensa lista de livros que você já leu e estão no seu blog 2000 caracteres, quais ainda permanecem balizadores do seu pensamento hoje?
JORGE: David Weinberger
lançou em 2007 um livro com dedicatória para os bibliotecários intitulado
"A nova desordem digital". Li pela primeira vez em 2011, já o reli e
de vez em quando retomo alguns capítulos para me inspirar. Ele traz um contexto
fascinante do que está acontecendo na educação, nos negócios, na ciência;
enfim, em tudo onde a tecnologia está trazendo algum diferencial. Também dele,
tem o "Too big to know", ainda sem tradução por aqui, mas que é
incrivelmente ótimo e cheio de exemplos e mais inspirações. Exemplos longínquos
e fora da realidade do Brasil? Gil Giardelli escreveu "Você é o que você
compartilha" e não há uma página do livro sem um QRcode que o direcione
para bons exemplos nacionais. Para quem quer seguir nesta área que leva a
Biblioteconomia para a sociabilidade digital, acho estes dois títulos de
leitura necessária. Aliás, fico enfurecido como bibliotecário lê pouco e ainda
se acha capaz de falar com propriedade sobre promoção da leitura, isso
realmente é vexante para a nossa profissão.
MC: E quais personalidades da área de Ciência da Informação hoje devem ser acompanhadas?
JORGE: Vai
depender das áreas que você gosta mais. O bacana, e desafiador, da
Biblioteconomia é esta inter e multidisciplinaridade que te permite adaptar e
trazer melhorias para a nossa área, por isso que gosto bastante de seguir o
pessoal que estuda cultura digital, internet, neurociência, literatura e
cinema. Especificamente da Ciência da Informação para acompanhar nas mídias
sociais, sugiro o Aldo
Barreto, Moreno
Barros, Elisa
Corrêa, William
Okubo, Thiago
Murakami, Alexandre
Berbe... eles costumam sempre estar postando links e discussões
interessantíssimas. No Facebook você encontra mais professores e profissionais,
que participam de vários grupos abertos que discutem leis, iniciativas
culturais, progresso da área... tem de tudo um pouco. Conheço outros
grandes nomes que estão nas mídias, mas que infelizmente são mais off do que online.
E já deixo a sugestão: por que as páginas dos cursos, onde se apresentam os
docentes, também não colocam os links das redes sociais ao invés de
somente o Lattes? Tem muita timeline mais interessante (e atualizada) do
que alguns artigos aí.
MC: Recomendações para nós, estudantes de Biblioteconomia e Ciência da Informação?
MC: Recomendações para nós, estudantes de Biblioteconomia e Ciência da Informação?
JORGE: Aos
que estão em início de curso: imprescindível ler (ou conhecer) os clássicos da
Biblioteconomia para criar senso crítico. Jamais achar que você ficará
exclusivamente trancafiado numa biblioteca ou que você não terá emprego porque
"os livros estão morrendo". Parece besteira dizer isso, mas muitas
pessoas ainda creem nestas duas questões.
Aos que
estão no fim do curso: é só o começo. Continue sempre a estudar. Se
Biblioteconomia foi sua segunda opção, volte para a primeira e intercale as
duas e se torne assim um ótimo profissional em informação especializada de
determinada área. Se você sempre quis ser bibliotecário, amplie as áreas que
você mais gosta e inove sempre! Nossa área precisa inovar!
Recado
final: não entre em todas as redes sociais, mas
somente naquelas onde seus usuários estão. Também não deixem de lado uma boa
catalogação, indexação, serviço de referência e atividades culturais bem
realizadas de fora. Ser ativo em alguma rede social e não pensar que estamos na
"modinha" das redes sociais é extremamente importante, pois elas
vieram para ficar e transformar. Portanto, equilibre-se, transforme-se num ser
cíbrido! Um abraço.

Quem é Jorge do Prado
Jorge
Moisés Kroll do Prado é graduado em Biblioteconomia, habilitação em Gestão da
Informação, pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Pós-graduando em
Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pela Faculdade de Tecnologia Senac
Florianópolis. Tem como principais temáticas de estudo voltadas ao uso das
mídias sociais de forma a inovar a gestão de unidades de informação.
Quero muito entrar em contato com Jorge. Irei stalkeá-lo no google. Abraço a quem puder ajudar.
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