É o sonho de todo professor: ver seus alunos disputando livros na biblioteca e lendo com prazer. Sabemos que isso também é o objetivo dos bibliotecários que trabalham em bibliotecas escolares. Impossível? Não para Mônica Sampaio, bibliotecária formada pela FESPSP, que viu esse “milagre” acontecer em sua biblioteca depois que foi à luta com uma campanha de advocacy.
O grupo de adolescentes que ela conseguiu atingir eram alunos entre 14 e 16 anos de escolas públicas, contemplados pelo Programa Access, uma parceria entre a Embaixada dos EUA e a Associação Alumni, que distribuiu bolsas de estudo de língua inglesa.
Trabalhando na biblioteca da unidade Alumni da Chácara Santo Antonio, na zona sul de São Paulo, Mônica estava imersa em uma realidade muito diferente de seu público-alvo naquele momento: a unidade é especializada no suporte ao ingresso de alunos brasileiros em cursos de mestrado e doutorado nos EUA e conta com uma acervo de mais de 5.000 livros de referência, folhetos informativos sobre aqueles cursos, catálogos de universidades e programas de computador preparatórios para exames de admissão. Como atrair aqueles adolescentes para sua biblioteca?
Mônica colocou, então, o problema para a Bibliotecária chefe, Silvia Maria Alves Rocha e o restante da equipe. O desafio era criar algum interesse para aqueles jovens alunos que ficavam dispersos pelo pátio: “Eles não frequentavam a biblioteca por ela ser especializada em língua inglesa. E eles ficavam no pátio e a biblioteca vazia. Isso dava uma tristeza..."
Atenta à situação de abandono das bibliotecas nas escolas que o grupo frequentava, Mônica sabia que elas ficavam restritas a uma sala, trancadas à chave, com uma pessoa responsável por permitir o acesso ao local. Então, insistia no corpo-a-corpo: “Eles não gostavam de ler. Eu ficava: leva um, este aqui é bom para o seu vestibular, este aqui está na lista da FUVEST”, explica Mônica.
A volta por cima: uma campanha de advocacy
“Fomos à uma palestra (do Consulado dos EUA sobre advocacy) e tivemos a ideia de uma campanha de “faxina do bem”. Dentro desta campanha, Mônica recebeu muitos livros em português e best-sellers. “Montamos uma biblioteca para esses adolescentes, uma mini-biblioteca dentro da biblioteca,” conta a bibliotecária.
Mas, como é essa história de misturar o português em um curso de inglês? Como os professores reagiram? Monica explica:
“Os professores desse grupo queriam incentivar a leitura também e, conversando com eles, apontei que, se os adolescentes não começassem a ler em português eles nunca pegariam os livros em inglês. No momento em que eles aprenderem que ler é prazeroso, eles vão ler em qualquer língua,” argumentou. Mônica recebeu total apoio dos professores da sua unidade e também dos outros funcionários e a campanha ganhou corpo e força, envolvendo seu target.
“Agora, eles chegam mais cedo, saem da escola e querem ir correndo para o Alummni para ficar na biblioteca e pegar livros. Eles entram às duas horas da tarde e quando é uma hora a biblioteca lota de adolescentes, “ diz Mônica.
A evolução para a leitura em inglês
“Agora que eles já estão desenvolvendo o hábito de ler em português, estão começando a pegar livros em inglês, por que já estão com o inglês mais avançado. Temos uma sessão de livros em inglês, classificados por níveis de dificuldade”, explica. Agora, Monica oferece um livro em português e um em inglês. “E séries: eles adoram séries!”, afirma.
Biblioteca acolhedora
Mônica acentua o diferencial do seu trabalho: “Na biblioteca, eles se sentem acolhidos. Tem internet, eles usam os computadores para fazer teste vocacional, para estudar, para fazer trabalhos da escola. Pedem ajuda para a gente. Nós somos psicólogas deles também. É um caso de advocacy bem-sucedido”, conclui Mônica, orgulhosa!
O que é, afinal, advocay?
O termo em inglês advocacy remete à defesa de uma causa. Também pode ser descrito como “falar ou escrever a favor de alguma coisa” ou o “apoio a um argumento específico”.
Em relação às bibliotecas, tomou força nos Estados Unidos como um movimento de reação a um corte de orçamento para financiamento das bibliotecas no Condado de Dutchess pelo poder local, em 2003. Em ruidosa resposta, um grupo de apoio às bibliotecas convenceu o poder legislativo do Condado a restabelecer 95% deste orçamento. Na mesma época, o Governador de Nova Iorque, George Pataki, propôs uma revisão de orçamento que diminuiria os financiamentos para as bibliotecas do estado em mais de U$ 13 milhões, o que corresponderia a uma redução de 15%. Novamente, um reação em cadeia de "library advocates", ou "defensores das bibliotecas", se uniram em protestos e convenceram o poder legislativo nova-iorquino a restaurar o financiamento.
Em relação às bibliotecas, tomou força nos Estados Unidos como um movimento de reação a um corte de orçamento para financiamento das bibliotecas no Condado de Dutchess pelo poder local, em 2003. Em ruidosa resposta, um grupo de apoio às bibliotecas convenceu o poder legislativo do Condado a restabelecer 95% deste orçamento. Na mesma época, o Governador de Nova Iorque, George Pataki, propôs uma revisão de orçamento que diminuiria os financiamentos para as bibliotecas do estado em mais de U$ 13 milhões, o que corresponderia a uma redução de 15%. Novamente, um reação em cadeia de "library advocates", ou "defensores das bibliotecas", se uniram em protestos e convenceram o poder legislativo nova-iorquino a restaurar o financiamento.
Advocacy x lobbying
Em sua palestra, Carol Brey colocou o advocacy um grau abaixo do lobbying, que para nós, brasileiros, tem um sentido ainda pejorativo. Mas, nos Estados Unidos a atividade de lobbying é regulamentada por lei, exercida por grupos da sociedade civil que querem influenciar o pensamento dos congressistas americanos e outras autoridades a favor de suas causas ou contra outras,
especificamente. É claro que esse relacionamento envolve grandes quantias de dinheiro, e aí está a polêmica. Culturalmente, o povo americano percebe o “fazer lobby” de uma maneira mais positiva que nós, brasileiros.
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Carol Brey-Casiano e Mônica Sampaio |
A mensagem por trás do advocacy para bibliotecas tráz um pouco desta cultura, pois eles entendem que o advocacy permite tornar um apoio passivo em uma ação educativa pelos chamados “stakeholders”, que nada mais são do que todos os colaboradores e pessoas envolvidas de alguma forma com o biblioteca. Em outras palavras, a comunidade de funcionários, biblitecários, usuários e não-usuários. É gerar interesse através de uma “consciência pública”, informá-los sobre seus objetivos, por isso a importância de estratégias eficientes de comunicação com a comunidade. Estruturalmente, esta ação está constituída como na pirâmide abaixo:
Os resultados obtidos, sustenta Carol, é um adesão de usuários: de algo em torno de 30% que de fato utilizavam as bibliotecas americanas na década de 1980, o uso desses equipamentos saltou para mais de 60% nos anos 2000. Com planejamento e ações concretas, o advocacy tem aplicabilidade à qualquer serviço de informação. Um Plano de advocay engloba as seguintes diretrizes:
- Identifique sua rede de apoio à sua biblioteca
- Desenvolva mensagens sobre a importância da sua biblioteca
- Identifique os seus públicos
- Desenvolva estratégias de comunicação utilizando todos os canais apropriados
- Crie seu plano de ação para uma campanha de promoção da sua biblioteca e seu valor para a comunidade.
Quando bem estruturado, o plano consegue gerar recursos e multiplicar o apoio necessário para resolver problemas de natureza diversa.
Que tal levar esta ideia para a biblioteca da sua comunidade?
- Identifique sua rede de apoio à sua biblioteca
- Desenvolva mensagens sobre a importância da sua biblioteca
- Identifique os seus públicos
- Desenvolva estratégias de comunicação utilizando todos os canais apropriados
- Crie seu plano de ação para uma campanha de promoção da sua biblioteca e seu valor para a comunidade.
Quando bem estruturado, o plano consegue gerar recursos e multiplicar o apoio necessário para resolver problemas de natureza diversa.
Que tal levar esta ideia para a biblioteca da sua comunidade?
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