Um tema de pesquisa não surge do nada na
cabeça de um pesquisador: é construído através de longos períodos
de observações e conjecturas. Este é o caso dos dois projetos contemplados pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da FESPSP (PIBIC), que
tomaram forma depois de cuidadosa maturação. As duas alunas do segundo semestre
matutino, Nilda Maria Leite e Lourdes Regina Porto,
explicaram para a Monitoria Científica (MC) como desenvolveram suas ideias de
pesquisa:
A chamada Geração Y, que inclui os jovens super
antenados na faixa etária entre18 a 30 anos, tambem tem outras facetas: a
geração Nem-nem-nem e a Millenials. Investigar como estes jovens usam a
biblioteca e o que os atraem naquele ambiente é a proposta do projeto de
iniciação científica da aluna Nilda Maria Leite, do segundo semestre matutino.
Entitulado “Geração Millenials: como as
bibliotecas
públicas da cidade de São Paulo interagem com a Geração Y”, o projeto se
desenvolveu à medida que sua autora fazia co-relações entre suas leituras e
conversas com amigos. “Eu vinha desde o início do ano em uma série de
reflexões sobre o ambiente biblioteca para essa faixa etária e em uma conversa
com um amigo ele a classificou como Geração Y. Ele tinha lido a respeito da
Geração Y e estava compartilhando comigo. E para entender a Geração Y eu fui
entender as gerações anteriores. As diferenças entre elas são discutidas entre
os estudiosos. Percebi essa lacuna que poderia ser estudada e consegui fazer o
recorte a partir da indicação de uma outra amiga. O diálogo e a troca de ideais
entre pessoas com mais experiência e outras visões foi ponto determinante para
a minha definição do tema do PIBIC”, afirma Nilda.
Nilda Maria Leite |
Nos seus planos, fontes de pesquisa diversas
para iluminar algumas proposições: “Eu tenho contribuições de uma pesquisa da
Telefônica com jovens nessa faixa etária em 24 países, que é muito
interessante; tenho uma contrapartida sobre a Geração Nem-nem-nem, de uma
pesquisadora da FGV, e tem até uma notinha sobre este trabalho dela no Valor
Econômico desta semana (leia abaixo),
e que é um população que não está interessada nem em estudo, nem em trabalho,
nem em nenhuma outra coisa. E quero contrabalançar com essa Geração Y, que é
uma categoria de jovens intelectualizados com outra dinâmica de percepção do
mundo. Como trazer isso para as bibliotecas públicas municipais da cidade de
São Paulo?”, indaga a aluna.
Ciente do desafio que se desenha, já tem
algumas perspectivas bastante positivas para suas conclusões: “Acho que vou
descobrir que já existe um trabalho bem interessante na Biblioteca de São
Paulo, eles já têm uma experiência que abarca essa proposta. É importante
entender que a biblioteca não pode ficar para trás em relação a esse avanço dessa
geração. Ela é determinante, como foi visto nas ruas, meses depois que eu
entrei com o projeto de pesquisa para o PIBIC, (as manifestações de junho)”,
explica.
Não sem razão, faz o alerta: “Temos que prestar
atenção: é uma nova mentalidade que deve ser ouvida, inclusive no ambiente da
biblioteca. Quem sabe, criar atrativos para essa geração Nem-nem-nem,
especificamente, seja uma solução”, diz, esperançosa.
Regina Porto |
“Rizoma da modernidade: informação, memóriadocumentária e árvore do conhecimento no acervo HJK”. Este é o projeto de Lourdes
Regina Porto, colega de Nilda no período matutino, que traz uma história muito interessante de guarda de acervo.
Regina explica: “Este projeto começa com uma
pesquisa minha de mais de 10 anos em torno de um acervo pessoal histórico
importante.Hans-JoachimKoellreutter (1915-2005), o HJK do título, é o autor
intelectual, foi quem produziu esse acervo.”
Figura proeminente da música erudita brasileira, Koellreutter foi
professor, compositor, regente, além de flautista. Musicista e jornalista,
Regina destaca a importância do teuto-brasileiro com quem conviveu: “Ele já é
falecido e em 2015 ele faria 100 anos. É músico e maestro alemão, radicado no
Brasil desde os anos 30, e é o mentor de todas as vanguardas eruditas e também,
de certa maneira, populares. É o cara que mudou a história da música no Brasil
ao longo de 60 anos. Ele foi professor de todo mundo que você possa imaginar:
Júlio Medaglia, Cláudio Santoro, Tom Jobim, os concretos têm ele como
referência, todo mundo tem ele como grande referência. E eu fui aluna dele
durante muito tempo, estudei análise musical, estética, regência, e também fui
produtora dele na Rádio Cultura. Fiz vários projetos com ele e escrevi muito
sobre ele”, explica.
Preservar a memória de seu legado já era um dos objetivos de
Koellreutter e Regina sentiu que
poderia para fazer isso. Ela lhe fez a
proposta: “Em 1998/99, ele já estava preocupado com a posteridade. Ele era
organizado na sua arte, mas faltava o tratamento da informação. Então, eu lhe
propus um projeto de pesquisa sobre os documentos que ele tinha na sua residência
aqui em São Paulo. Acabei apresentando esse projeto para a Fundação Vitae e
consegui uma bolsa Vitae de pesquisa, de um ano. Nesse momento ele me delegou,
textualmente e juridicamente o acesso a esse material até a publicação. Então,
eu tenho um documento que me autoriza a isso”, afirma.
Koellreutter |
Com este material acessível, surgiram as descobertas de um brilhante
história de vida e que daria mais e mais pesquisas: “Á medida que eu fui
levantando o material dele eu levei um susto, por que aparentemente era tudo
organizado, mas não tanto, e era de uma riqueza muito maior do que eu
imaginava. Fui organizando isso de uma maneira
muito empírica, intuitiva, sem cientificidade: fui fazendo listagens,
fui separando o material por tipologia. Ao todo, eu tenho algo como 2000 itens
de documentos. Tenho um pré-inventário disso tudo. Tive, então, o tempo todo
essa preocupação memorial com esse material e a ideia toda sempre foi
publicá-lo”, diz a jornalista.
E porque o rizoma? “Por que o
pensamento dele é multidisciplinar, não é linear. E quem começou a enxergar
como rizoma, como árvore do conhecimento, antes mesmo de eu ter a professora
Andreia Gonçalves como orientadora, foi a professora Maria Rosa Crespo. E a
escola está me dando todas as respostas que eu nem sabia (que poderia ter) E o que pretendo com o PIBIC é fazer a
indexação e o resumo desse acervo, com a orientação da professora Andreia”,
conclui.
O que é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica da FESPSP, (PIBIC): uma iniciativa de auxílio à pesquisa
O que é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica da FESPSP, (PIBIC): uma iniciativa de auxílio à pesquisa
Ele nasceu em 2008 e está consolidado como um
grande incentivo à pesquisa na FESPSP. O Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) está voltado
para o desenvolvimento do pensamento científico e iniciação à pesquisa de
estudantes de graduação. Distribui bolsas de iniciação a pesquisa científica
concedidas pela FESPSP com valor de R$ 400,00 e pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, no mesmo valor. A vigência das
bolsas é de 12 meses, iniciando em agosto de cada ano e finalizando em julho do
ano seguinte, período em que os pesquisadores cumprem com um cronograma de
obrigações, sob a orientação de seus professores. Entre as obrigações, está a
apresentação do projeto no Seminário de Pesquisa da instituição.
O PIBIC tem como Coordenadora
Institucional a Profª. Msª. Carla Regina Mota Alonso Diéguez e no Comitê Institucional de Iniciação Científica estão os professores Prof.
Ms. Silvio José Moura e Silva, Prof. Dr. Rafael de Paula Aguiar Araújo e Prof.ª
Dr.ª Valéria Martin Valls.
Os que nem trabalham nem estudam
Cerca de 1,5 milhão de jovens entre 19 a 24
anos, concentrados nas faixas mais pobres da população brasileira, não
trabalham, não estudam, nem procuram emprego - e o número de pessoas que se
encaixam nesse perfil cresce. É o que mostra estudo feito por Joana Monteiro,
pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, batizado de "Os
Nem-Nem-Nem: exploração inicial sobre um fenômeno pouco estudado". O
levantamento, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de
2011, mostra que o grupo de jovens desalentados (exclui donas de casa com
filhos) já representava 10% da população nessa faixa etária. Com pouca
escolaridade e baixa renda, eles podem elevar o desemprego se buscarem trabalho
após os 24 anos ou serem permanentemente dependentes do governo.
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