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Como foi o II Seminário Internacional, Arte, palavra e leitura

A professora Tania Callegaro participou do II Seminário Internacional, Arte, palavra e leitura, que aconteceu em março no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Ela nos escreveu um relato do que foi o evento e você pode ler abaixo agora:

Foto: Fernando Cavalcanti - Site do seminário

II Seminário Internacional, Arte, palavra e leitura.

Leitura e escrita: lugares de fala e visibilidade

19 a 21 de março de 2019


O II Seminário Internacional, Arte, palavra e leitura  aconteceu na zona oeste da capital paulista, com parceiros culturais “de peso” como SESC e ITAÚSOCIAL, CEDAC e Instituto Emília.  
O evento se destaca por promover o debate sobre a arte, leitura, escrita e mediação da leitura partindo do reconhecimento da crise do capitalismo, e da dura realidade social, cultural, econômica e política em que se encontra a América Latina contemporânea, e, em particular, o Brasil.

Ao longo das apresentações - intervenções poéticas, relatos de experiências nacionais e internacionais (Colômbia, Chile/Espanha, Venezuela/Espanha e México), reflexão e debate -  percebe-se claramente o posicionamento político defendido pela curadoria e organizadores do evento ao tratar sobre leitura no Brasil.  Fundado nos dados estatísticos chocantes da realidade violenta em que jovens negros/as e da periferia de São Paulo sofrem, junto com a das mulheres e LGBTs,  participantes da mesa de debate 1, Rosane Borges, Ivan Cardoso e Silvio de Almeida convergem para um mesmo ponto do problema nacional, a violência estrutural.  Afirmam que o Estado brasileiro normatiza a violência, no qual o racismo, o sexismo, a homofobia, o patriarcado, o autoritarismo e o subdesenvolvimento configuram uma “democracia específica”, que atende somente aos grupos dominantes. Perguntam, ao elaborar um projeto, em nome de quem o fazemos? Por que o Brasil continua a não fazer nada diante de uma violência histórica e estrutural? Por que a sociedade não se mobiliza quando um jovem negro e inocente é morto? A quem interessa o aumento ou diminuição das taxas de violência?
Assim, o seminário inicia sua discussão sobre leitura e processos de escrita, na relação intrínseca entre estética, política e violência estrutural.

A mediação de leitura proposta pelos participantes - músico, escritores, pesquisadores, bibliotecárias, educadores -  acontece nos processos de reconhecimento da condição humana do “outro”, e dos direitos humanos como direitos coletivos. Segundo a escritora e professora Bianca Santana, a liberdade do “outro” passa pelo desenvolvimento da própria narrativa. Para Delcio Teobaldo, músico, roteirista, jornalista, escritor e professor, devemos recuperar a sacralidade da palavra, falar pouco, e dizer muito, a palavra é entendida como permissão, como mobilidade.

Margarita Valencia, da Colômbia, considera a palavra como formadora de identidade, pois com ela podemos recuperar o que fomos e somos, com as nossas múltiplas identidades móveis. Pergunta a professora e pesquisadora Margarita, que “lugar a minha voz ocupa”? Propõe que a mediação da leitura seja um espaço do In(cômodo), subvertendo a ordem da sociedade que impõe o que ela quer que somos, para aquilo que somos. Seguindo nessa direção a escola é compreendida como espaço de reconhecimento do saber do “outro”, não o da normatividade, do certo e errado. Precisa ser espaço da dessacralização da palavra escrita, e do estabelecimento da palavra da comunidade. Sugere que a escola promova o lugar de pertencimento das pessoas, de enunciação.

Em relação ao livro, Margarita convida ao leitor deixar seu rastro no livro, afirma que os livros não são sagrados, e por isso devem ser usados, segundo o direito que temos de nos apropriar de todas as tradições literárias. 

Foto: Fernando Cavalcanti
 
Sobre as palavras, Bel Santos, bibliotecária, discorre sobre a necessidade de ressignificar as palavras, pois, segundo os participantes da mesa de debate 4, as palavras ficam velhas, exemplo, as palavras cidadania, democracia, flexibilidade, competência emocional... são palavras que dizem muito ou que não dizem nada. 

Sobre o lugar das comunidades nos espaços de mediação, o valor da escuta se torna fundamental na medida em que se busca entender a lógica interna do “outro”, mesmo que o “outro” se encontra diametralmente oposto a mim,  é um aprendizado cuja relação se constrói com a linguagem.  Assim, a escuta, o fazer e a relação com o “outro” são base para um trabalho junto com a comunidade.


Por final, Silvia Castrillón, e Felipe Munita, mencionam a questão da apropriação do conhecimento multicultural e universal na busca de uma literatura diversa e de qualidade, independentemente do leitor ser branco, negro, indígena. Com base em suas experiências no Chile e Colômbia sugerem ampliar o repertório para além da literatura, tais como, os livros de filosofia, história, geografia, políticas.  Além das oficinas de leitura, propõem que os grupos de leituras e escritas, preparem as pessoas, de todas as idades, para participarem de conselhos de políticas públicas de cultura, assumindo assim, um papel político nas decisões culturais do local.  Bel Santos apresenta iniciativas e projetos inovadores quando coloca o açougue, o mercado, o bar como expositores e promotores da literatura; quando defende que pessoas alfabetizadas ajudam os que não sabem; quando contadores de história vão para os lugares mais diversos como abrigos e hospitais.


O II Seminário Internacional de Leitura e escrita: lugares de fala e visibilidade indica que há muito por inventar, pesquisar e subverter quando tratamos sobre ações culturais e mediação da leitura.  Não é “água de cheiro”, mas trabalho árduo, político e comprometido com as comunidades e minorias de nosso país. 
Valeu!!!!!!

Realização SESC e ITAÚ SOCIAL
Curadoria CEDAC e INSTITUTO EMÍLIA
Parceria UNIBES Cultural
Apoio GEORGE V,  iBEAC e Livraria SARAIVA
CEDAC:   http://www.comunidadeeducativa.org.br/

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