Professora Mercês ensina também com sua trajetória política de vida
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Professora Mercês |
A professora Maria das Mercês
Apóstolo conversou com a Monitoria sobre sua rica trajetória política de vida e
dá algumas dicas de como podemos melhorar nossa participação política: “o
caminho é ler muito, ler os clássicos, formar um fundamento teórico
interessante a partir do qual você pode criticar”, afirma. Acompanhe:
“Eu sou uma bibliotecária de
escolha tardia, porque tive uma
trajetória muito mais voltada para a militância do que exatamente para
construir uma carreira. Eu comecei minha militância com uns 14 anos, estou no
mundo do trabalho desde os 14 anos, do trabalho formal, porque os bicos e os
quebra-galhos a gente já começou muito antes."
"Desde que estou no mundo do trabalho eu tive o privilégio de conviver e de conhecer pessoas muito interessantes, pessoas com vivência e experiência diferentes. Participei muito de grupos de estudo, sempre gostei muito de querer saber por que é assim, porque é assado. Eu trabalhava em fábrica, fui operária durante oito anos na produção de indústria metalúrgica e nessa vivência da fábrica eu acabei tomando contato com pessoas que atuavam no sindicalismo metalúrgico."
"Na época em que eu trabalhava, no comecinho da década de 70, o sindicato metalúrgico era visto como sindicato pelego, um sindicato não muito combativo, até porque o momento não permitia uma grande combatividade. Mas, era um momento de emergência de novos movimentos de oposição. Existiam várias oposições sindicais e algumas oposições ganharam a diretoria dos seus sindicatos, como os bancários, que ganharam a diretoria em 1978. Outras, militaram durante anos e nunca conseguiram ganhar nenhuma diretoria, caso do grupo do qual eu participava. Apesar disso, a partir desse grupo eu tomei contato com pessoas que estavam militando em partidos de esquerda, organizações meio clandestinas."
"Participei da DS (Democracia Socialista), que reunia um grupo interessantíssimo do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e aqui de São Paulo. Durante muitos anos, o nosso foco foi fazer o combate sindical. Conforme foi acontecendo a distensão política no país, as diretas, a abertura para a redemocratização, esse viés pelo combate operário foi perdendo um pouco de força. E as pessoas começaram a pensar em estratégias dentro do espaço burguês mesmo."
"Surge o Partido dos Trabalhadores, que é outra proposta, de disputar o poder dentro do campo da burguesia. E aí eu também fui mudando de rumo. Passei para controle de qualidade, depois fui trabalhar com documentação, fiz um curso de História, (sou formada em História pela USP) e da História eu cheguei à Biblioteconomia.”
"Desde que estou no mundo do trabalho eu tive o privilégio de conviver e de conhecer pessoas muito interessantes, pessoas com vivência e experiência diferentes. Participei muito de grupos de estudo, sempre gostei muito de querer saber por que é assim, porque é assado. Eu trabalhava em fábrica, fui operária durante oito anos na produção de indústria metalúrgica e nessa vivência da fábrica eu acabei tomando contato com pessoas que atuavam no sindicalismo metalúrgico."
"Na época em que eu trabalhava, no comecinho da década de 70, o sindicato metalúrgico era visto como sindicato pelego, um sindicato não muito combativo, até porque o momento não permitia uma grande combatividade. Mas, era um momento de emergência de novos movimentos de oposição. Existiam várias oposições sindicais e algumas oposições ganharam a diretoria dos seus sindicatos, como os bancários, que ganharam a diretoria em 1978. Outras, militaram durante anos e nunca conseguiram ganhar nenhuma diretoria, caso do grupo do qual eu participava. Apesar disso, a partir desse grupo eu tomei contato com pessoas que estavam militando em partidos de esquerda, organizações meio clandestinas."
"Participei da DS (Democracia Socialista), que reunia um grupo interessantíssimo do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e aqui de São Paulo. Durante muitos anos, o nosso foco foi fazer o combate sindical. Conforme foi acontecendo a distensão política no país, as diretas, a abertura para a redemocratização, esse viés pelo combate operário foi perdendo um pouco de força. E as pessoas começaram a pensar em estratégias dentro do espaço burguês mesmo."
"Surge o Partido dos Trabalhadores, que é outra proposta, de disputar o poder dentro do campo da burguesia. E aí eu também fui mudando de rumo. Passei para controle de qualidade, depois fui trabalhar com documentação, fiz um curso de História, (sou formada em História pela USP) e da História eu cheguei à Biblioteconomia.”
Posicionamento político hoje
“Eu penso que, qualquer formação, qualquer
influência que a gente recebe na juventude, nunca mais a gente se livra
completamente dela. Eu tive uma boa formação, pelo socialismo, pelo coletivo,
pelo desenvolvimento das pessoas."
"Acho que é uma mensagem que perdura porque ela é boa. Tirando todos os percalços, a mensagem socialista é uma mensagem positiva, que acredita no ser humano. Essa mensagem perdura em mim até hoje. De coração, eu sou uma pessoa socialista."
"Acho que é uma mensagem que perdura porque ela é boa. Tirando todos os percalços, a mensagem socialista é uma mensagem positiva, que acredita no ser humano. Essa mensagem perdura em mim até hoje. De coração, eu sou uma pessoa socialista."
Como ter uma participação mais ativa?
“Eu penso que vocês são contemporâneos de uma
época difícil em outra qualidade da minha época. A minha época era difícil na
questão do cerceamento, da dificuldade física até de você acessar a informação."
"Hoje eu acho que a dificuldade é pela abertura absoluta, pelo excesso, e até pela falta de nitidez das propostas: as propostas são muito parecidas, você não consegue enxergar entre elas qual é o fio condutor. A gente desconfia muito das propostas, acha que não são sinceras e no fundo, elas acabam provando que não são sinceras. Então, o caminho é ler muito, ler os clássicos, formar um fundamento teórico consistente a partir do qual se pode criticar, discutir, fazer escolhas; conhecer um pouco a história do país, se manter informado, montar grupos de discussão. Eu fui fã absoluta de grupos de discussão; devo a eles minha formação de base nessa questão política. Eram os grandes mestres nesses grupos de discussão que nos forneciam o aporte teórico, sua experiência, sua visão de mundo, para que a gente atravessasse aquela leitura e compreendesse aquela mensagem. Eu li o Marx em um grupo de discussão e demorei assim, “a vida inteira” para fazer a leitura; é uma obra super difícil, requer mediação."
"E às vezes a gente participa de um grupo de discussão nem é para entender aquele autor, o propósito imediato é ouvir o que as outras pessoas estão falando para ir construindo o nosso repertório. E repertório significa também construir referências, você aprende determinados jargões, vai dominando uma certa terminologia para se fazer entender e também entender aquilo que o grupo está dizendo."
"Hoje eu acho que a dificuldade é pela abertura absoluta, pelo excesso, e até pela falta de nitidez das propostas: as propostas são muito parecidas, você não consegue enxergar entre elas qual é o fio condutor. A gente desconfia muito das propostas, acha que não são sinceras e no fundo, elas acabam provando que não são sinceras. Então, o caminho é ler muito, ler os clássicos, formar um fundamento teórico consistente a partir do qual se pode criticar, discutir, fazer escolhas; conhecer um pouco a história do país, se manter informado, montar grupos de discussão. Eu fui fã absoluta de grupos de discussão; devo a eles minha formação de base nessa questão política. Eram os grandes mestres nesses grupos de discussão que nos forneciam o aporte teórico, sua experiência, sua visão de mundo, para que a gente atravessasse aquela leitura e compreendesse aquela mensagem. Eu li o Marx em um grupo de discussão e demorei assim, “a vida inteira” para fazer a leitura; é uma obra super difícil, requer mediação."
"E às vezes a gente participa de um grupo de discussão nem é para entender aquele autor, o propósito imediato é ouvir o que as outras pessoas estão falando para ir construindo o nosso repertório. E repertório significa também construir referências, você aprende determinados jargões, vai dominando uma certa terminologia para se fazer entender e também entender aquilo que o grupo está dizendo."
A consciência por trás da técnica
“No caso da nossa profissão, ela
tem um lado técnico que ocupa um grande espaço, até pelo fato de que é uma
profissão e as profissões já nascem com essa natureza técnica, do fazer. Então,
eu penso que a gente dosar a técnica com a questão social, a percepção, a
consciência do estar no mundo, é muito importante."
"Começamos a pensar para que serve a nossa técnica, para que está sendo usada: será que ela tem um impacto para melhorar a vida das pessoas, ou um impacto para prejudicar a vida das pessoas? A consciência que está impulsionando aquela técnica é que a dirige para este ou para aquele lado. Isso não quer dizer que a técnica seja neutra, muito pelo contrário. Ela é construída dentro de um locus social, um locus histórico, um locus político. Uma catalogação, uma classificação, são construídas dentro de todo um contexto, servindo à determinados valores, à determinados objetivos. Pensar a política é enxergar o mundo por esses vieses, não é só participar ativamente de um partido político, de uma associação, de um sindicato, o que também é bom."
"Depois que a gente enxerga o mundo por esses meandros a gente acaba sentindo a necessidade de contribuir, de dirigir a crítica, de dirigir a energia para uma coisa mais produtiva, para uma coisa mais coletiva, que tenha algum resultado concreto. Então, participar de um partido, de um sindicato, de uma associação é buscar resultados concretos, para si e para a coletividade."
"Começamos a pensar para que serve a nossa técnica, para que está sendo usada: será que ela tem um impacto para melhorar a vida das pessoas, ou um impacto para prejudicar a vida das pessoas? A consciência que está impulsionando aquela técnica é que a dirige para este ou para aquele lado. Isso não quer dizer que a técnica seja neutra, muito pelo contrário. Ela é construída dentro de um locus social, um locus histórico, um locus político. Uma catalogação, uma classificação, são construídas dentro de todo um contexto, servindo à determinados valores, à determinados objetivos. Pensar a política é enxergar o mundo por esses vieses, não é só participar ativamente de um partido político, de uma associação, de um sindicato, o que também é bom."
"Depois que a gente enxerga o mundo por esses meandros a gente acaba sentindo a necessidade de contribuir, de dirigir a crítica, de dirigir a energia para uma coisa mais produtiva, para uma coisa mais coletiva, que tenha algum resultado concreto. Então, participar de um partido, de um sindicato, de uma associação é buscar resultados concretos, para si e para a coletividade."
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Professora Mercês na entrega do Prêmio Laura Russo 2013 |
"Por exemplo, participar do
Conselho (Regional de Biblioteconomia). A gente acha que participar do Conselho
é uma questão burocrática. Não, é uma questão de cidadania. Isso é uma coisa
absolutamente política, porque é pensar a profissão como profissão, e o
indivíduo bibliotecário fazendo parte desse coletivo maior que a gente chama de
profissão. Então, engrandecer a Biblioteconomia é engrandecer cada
bibliotecário como indivíduo. Trazendo nosso João Cabral: um galo sozinho não
tece uma manhã. Essa visão do coletivo é a visão do papel político que a gente
tem. Nós não somos seres isolados, sozinhos, cada um cuidando da sua vidinha.
Somos seres sociais. Se somos sociais, somos políticos.”
“O Latour é muito bom (Bruno Latour),
o Pierre Lévy, o Bourdieu (Pierre Bourdieu), e o Hobsbaw, que é maravilhoso.
Você pode ler Hobsbaw até para se deliciar, e vai ter como bônus um patamar de
conhecimento mais alto. Estou relendo Hobsbaw e recomendo fortemente.”
Quem é Maria da Mercês Apóstolo
Possui graduação em Biblioteconomia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1991) e Bacharelado em História pela Universidade de São Paulo (1994) e Pós Graduação em Metodologia da História e História Paulista. Atualmente é bibliotecária coordenadora do Centro de Documentação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Foi vice presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia - 8ª Região, gestão de 2009 a 2011. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em História, Arquivística e Leitura, atuando principalmente nos seguintes temas: projetos de organização de bibliotecas e arquivos e mediação à leitura.
Por conta disso, para mim é uma honra tê-la como mestra. Abraço Mercês.
ResponderExcluir♥
ResponderExcluirSimplesmente incrível....
Parabéns